30 dezembro 2014

Patrick Modiano (2014)

2014 é ano de celebração literária. Para além da habitual voracidade de livros técnicos e espirituais, tive oportunidades de descobrir autores fabulosos como Mario Vargas Llosa (A Civilização do Espectáculo) e Ryszard Kapuscinski (Os cínicos não servem para este ofício). Para confirmar alergias: António Lobo Antunes (Sôbolos rios que vão); e render-me a guilty pleasures: Luís Miguel Rocha (Bala Santa e O último Papa), Daniel Silva (O Confessor) e José Rodrigues dos Santos (A Ilha das Trevas). Claro que este último caso serviu para aumentar o apreço pelos timorenses e pela história e a aversão pelos poderes políticos.



Mas 2014 trouxe algo maior. Trouxe-me Patrick Modiano. Prémio Nobel da Literatura (2014), criador de obras primas, ou melhor, de personagens que se colam à nossa pele e nos fazem deambular por lugares que se tornam tão familiares, quantos as personagens se tornam num nós. No café da juventude perdida  ou O Horizonte pertencem ao universo "modianesco" e este é talvez o melhor que se pode dizer da obra de um autor: usar o seu nome para definir um estilo, aquele estilo que faz com que personagens e lugares, se confundam com as nossas memórias de vida. Neste momento damos por nós a dizer: "há tempos fui ao café Condé e... quando falei com a minha amigo Louki... ou quando me cruzei com o Bosmans". E de repente já não é um livro, já não é uma história: é uma parte da nossa vivência. 




29 dezembro 2014

Boyhood (2014)

Linklater é um realizador responsável por "obras-primas" que têm o dom de desviar os meus pensamentos persistentes do quotidiano, ou sobre conteúdos pouco estimulantes, ou do merecido vácuo que me ocupa a alma quando a saturação ou a falta de paciência a preenchem.
Num ano de poucas surpresas cinematográficas - não estou a brincar, muito poucos filmes me fizeram tecer comentários positivos (os negativos nem os faço pois não gosto de contribuir para o buzz do que é mau) - eis que me decido por ver o "épico gravado ao longo de 12 anos".

Boyhood acompanha a vida de Mason, entre os 5 e os 18 anos, e como diz a canção "your masquerade I don't wanna be a part of your parade everyone deserves a chance to walk with everyone else". Fruto de uma relação inconsequente, de uma mãe lutadora mas com fraco critério na escolha dos companheiros, Mason é um rapaz sossegado, calmo, com quem é muito fácil empatizar. Observador, sincero; enternecemos ao apreciar a sua relação com a mãe, com o pai e a forma como parece "completamente desligado" daquilo que antevemos como más opções.

Claro que Ethan Hawke, o actor fetiche de Linklater, dá um contributo valioso, especialmente nos diálogos existenciais com os filhos e nas reflexões sobre a vida... que vai tentando viver como os milhares de remediados que sobrevivem ou tentam viver.


02 novembro 2014

Na mão de Deus

Na mão de Deus, na sua mão direita,
Descansou afinal meu coração.
Do palácio encantado da Ilusão
Desci a passo e passo a escada estreita.

Como as flores mortais, com que se enfeita
A ignorância infantil, despojo vão,
Depois do Ideal e da Paixão
A forma transitória e imperfeita.

Como criança, em lôbrega jornada,
Que a mãe leva ao colo agasalhada
E atravessa, sorrindo vagamente,

Selvas, mares, areias do deserto...
Dorme o teu sono, coração liberto,
Dorme na mão de Deus eternamente!

Antero de Quental, in "Sonetos"


Horário do Fim

morre-se nada
quando chega a vez

é só um solavanco
na estrada por onde já não vamos

morre-se tudo
quando não é o justo momento

e não é nunca
esse momento


Mia Couto, in "Raiz de Orvalho e Outros Poemas"


Não Choreis os Mortos

Não choreis nunca os mortos esquecidos
Na funda escuridão das sepulturas.
Deixai crescer, à solta, as ervas duras
Sobre os seus corpos vãos adormecidos.

E quando, à tarde, o Sol, entre brasidos,
Agonizar... guardai, longe, as doçuras
Das vossas orações, calmas e puras,
Para os que vivem, nudos e vencidos.

Lembrai-vos dos aflitos, dos cativos,
Da multidão sem fim dos que são vivos,
Dos tristes que não podem esquecer.

E, ao meditar, então, na paz da Morte,
Vereis, talvez, como é suave a sorte
Daqueles que deixaram de sofrer.


Pedro Homem de Mello, in "Caravela ao Mar"

28 setembro 2014

Bella (2006)

Sooner or later every one of us will face an irreversible moment that will change our lives forever. If it hasn't happened to you yet... it will.

Plot do filme de Alejandro Monteverde protagonizado por Eduardo Verástegui e Tammy Blanchard. Uma verdadeira história de amor, sobre momentos irreversíveis que determinam as vidas. 

Um ex.jogador de futebol, ex.presidiário actual chef no restaurante do irmão, decide remediar o despedimento de uma colega de trabalho. Algo lhe diz que a colega precisa de desabafar e arrisca a sua relação fraternal para socorrer Nina, completamente só e que recentemente descobrira estar grávida. Mas a vida de Nina assusta-a e determina a sua decisão de abortar. É então que José lhe conta a sua história, a apresenta à família e lhe dá uma opção alternativa.

O valor da vida, da amizade de um estranho. A importância de uma criança, numa e noutra vida. A dor de decisões irreversíveis, de actos imprevistos, de decisões de amor. O exemplo de uma família... a generosidade dos corações.

Porque as coisas mudam e Deus ri-se dos planos que fazemos para a nossa vida.







21 setembro 2014

Detachment (2011)

Detachment conta a história de um professor substituto nos EUA. A sua condição leva-o ao ensino de literatura americana em várias escolas sem criar laços com alunos, colegas, pais ou instituições. A "profissão ideal" para alguém estragado pela vida, para quem tem dificuldade de relacionamento com os outros, para quem se tenta esconder, ou ultrapassar problemas pessoais sem para os mesmos arrastar terceiros.

No entanto, Henry Barthes não é indiferente ao mundo e vê-se, desta vez, enredado pelas histórias de vida de quem o rodeia e procura fazer a diferença (We have such a responsibility to guide our young so that they don't end up falling apart, falling by the wayside, becoming insignificant). Acreditando que escrevendo as coisas "podem melhorar" vai-nos relatando a sua esperança, desânimo, impotência... e baixa auto-estima.

(Whatever is on my mind, I say it as I feel it, I'm truthful to myself; I'm young and I'm old, I've been bought and I've been sold, so many times. I am hard-faced, I am gone. I am just like you)

A caridade dá que fazer é o título de um livro que constantemente me veio à mente enquanto via esta filme. Juntamente com conversas edificantes que tenho mantido com quem quer fazer a diferença mas se sente vazio e desamparado, porque sós somos muito pouco. Além disso, todos temos uma história, uma bagagem mais ou menos pesada, como pode alguém à deriva indicar o caminho a quem nem sabe como navegar?

De sublinhar a brilhante interpretação de Adrian Brody e a banda sonora de Ray LaMontagne.







Henry Barthes: How are you to imagine anything if the images are always provided for you?

Henry Barthes: Doublethink. To deliberately believe in lies, while knowing they're false.

Henry Barthes: Examples of this in everyday life: "Oh, I need to be pretty to be happy. I need surgery to be pretty. I need to be thin, famous, fashionable." Our young men today are being told that women are whores, bitches, things to be screwed, beaten, shit on, and shamed. This is a marketing holocaust. Twenty-fours hours a day for the rest of our lives, the powers that be are hard at work dumbing us to death.

Henry Barthes: So to defend ourselves, and fight against assimilating this dullness into our thought processes, we must learn to read. To stimulate our own imagination, to cultivate our own consciousness, our own belief systems. We all need skills to defend, to preserve, our own minds.


31 agosto 2014

Security

Como nos últimos meses se verificou um regresso ao passado na minha vida, com pessoas "antigas", conversas recuperadas e sentimentos renascidos, porque não recuperar igualmente sons perdidos?



"Security"

A loss that would have thrown 
A hole through anybody's soul
And you were only human after all
So don't hold back the tears my dear
Release them so your eyes can clear
I know that you will rise again
But you gotta let them fall
I wish that I could snap my fingers
Erase the past but no
You cannot rewind reality
Once the tape's unrolled

[Chorus:]
If your spirit's broken and you can't bear the pain
I will help you put the pieces back
A little more each day
And if your heart is locked and you can't find the key
Lay your head upon my shoulder
I'll set you free
I'll be your security

A moment of despair
That forces you to say that life's unfair
It makes you scared of what tomorrow may bring
But don't go giving into fear 
Stop hiding all alone in there
The show keeps going on and on
But you'll miss the whole damn thing
I wish I had a crystal ball to see what the future holds
But we don't know how the story ends till it's all been told

[Chorus]

On any clock upon the wall 
The time is always now
So baby kiss the past goodbye
Don't let the future blow your mind
Just sit back and chill
Take things as they come
You can't be afraid
To live for today
I will be with you each step of the way




Mas sem ilusões. Há motivos para "ser passado"; as nossas vontades alteram-se e o que ontem era importante deixou de o ser depois de uma noite em branco ou de uma noite de profundo dormir.

06 agosto 2014

The Butler (2013)

Quando não existe debate político, quando o jornalismo se reduz a um conjunto de fait divers, ou à repetição incessante e pouco profunda de "novelas" maniqueístas, a fuga para o campo cultural é inevitável. Afinal, os artistas são a consciência social e mesmo na cultura popular é possível encontrar inúmeras lições de vida e motivos de reflexão.


Nos últimos dias, o pretexto das férias, da necessidade de me actualizar em termos cinematográficos e literários levou-me ao multipremiado The Butler, filme biográfico de Cecil Gaines, mordomo que serviu oito presidentes que foram passando pela Casa Branca entre os anos 50 e 80. Protagonizado por Forest Whitaker (brilhante!), The Butler conta a história de um jovem negro que fica órfão de pai quando este é assassinado a tiro à sua frente ao tentar confrontar o patrão por lhe violar a mulher. Os remorsos da mãe do assassino levam-na a acolher o pequeno Cecil em casa e a transformá-lo num criado doméstico.
Chegado à maioridade, Cecil parte para Nova Iorque onde serve em clubes de alta sociedade até ser contratado para a Casa Branca.

Enquanto vemos Cecil a desempenhar as suas funções de mordomo, percebemos o seu contexto familiar e a luta pelos direitos civis que marca a sociedade norte-americana. Entre a luta e o silêncio, entre o sofrimento e a injustiça, todo um ethos nos atinge levando a um incómodo sem nome, a uma familiaridade velada, a constatações de incoerências inumanas e atrofiantes.

Afinal The Butler não é a biografia de um só homem, nem o retrato de uma sociedade passada...

27 julho 2014

Transcendence (2014) e Her (2013)

Na minha demanda pelo merecido "tempo de ócio" que é na verdade dedicado à busca de conteúdos ilustrativos para o próximo ano lectivo, decidi dedicar algumas horas às distopias.

Devido ao elenco, dei uma oportunidade a Transcendence (2014) protagonizado por Johnny Depp, Rebecca Hall e Morgan Freeman, para me arrepender ao fim de uma hora. O filme retrata a ambição de dois cientistas, marido e mulher, que querem melhorar o mundo, usando a inteligência artificial (AI). Numa luta com movimentos luditas radicais, Dr. Caster é ferido de morte, mas consegue com a ajuda da mulher transferir a sua "consciência" para um sistema operativo e a partir daí criar um "eden" controlado por AI e por nanotecnologia "milagrosa".
O enredo é tão "forçado" e mal desenvolvido que a luta pela destruição do "eden" e a justificação para o fim dos "avanços tecnológicos" se perde numa história de amor entre marido e mulher... enfim, melhores dias virão.

Para não perder a temática, vi finalmente Her (2013) com Joaquin Phoenix, Amy Adams e voz de Scarlett Johansson. Um escritor de cartas solitário, recém separado da high school sweetheart, desenvolve uma relação de amizade e amor "platónico tecnológico" com um sistema operativo dotado de AI que se vai desenvolvendo com a interacção, primeiro com humanos e depois com outros sistemas operativos. Os sistemas operativos são, no fundo, "almas sem corpo" com recursos ilimitados de acesso a tudo o que existe no mundo. Devido às capacidades de processamento, em milésimos de segundo sabem tudo o que quiserem saber e adaptam esse conhecimento à interacção com os seus donos. Um cenário perfeito, tendo em atenção a adequação "ao amigo verdadeiro". Contudo, o contacto com as emoções humanas complica-se, e também o modo de funcionamento e as "necessidades" da AI se complicam. Um retrato humilhante do ser humano que facilmente interage com o que tem no ouvido e dificilmente se aproxima dos seus semelhantes. Não obstante, Theodore (Phoenix) não é disfuncional no contacto humano, apenas complexo e intenso, o que não o impede de ter amigos sinceros e preocupados e de desenvolver grandes simpatias junto de quem o rodeia. O maior problema está na sua sensação de vazio e insatisfação, no seu "não saber o que quer" e achar sempre que a interacção com os outros é difícil e "aborrecida"... pois é, mas também o que é "perfeito" se torna difícil e rotineiro.
A relação desenvolvida com a AI torna-se dependência... e obsessão.



Apesar de não ser "ludita" não sou a maior fã da tecnologia. Não sou céptica nem pessimista quanto à sua utilidade, mas reduz-se a isso: utilidade. A tecnologia é criada pelo homem para ser usada por ele. Nesse sentido, poderá ser bem e mal usada. Bem usada para o progresso da medicina, para facilitar processos de trabalho, arquivo e sistematização de informação, aproximar pessoas... contudo, quando o homem pretende ser "almighty" acaba por exacerbar nos usos que lhe dá. Para além do desenvolvimento de armamento e de guerras cada vez mais tecnológicas, também a progressiva substituição de "ser humano" para "ser tecnológico" assusta e degenera o que somos.

A sociedade está doente... e uma das causas é a progressiva omnipresença e dependência tecnológica... e ainda hoje foi o abraço de paz e a bondade no olhar de desconhecidos que me devolveram a chama que me alumia no fundo do poço onde a vida e a rotina por vezes me colocam...

12 julho 2014

O Deus das Pequenas Coisas



Sinopse

O Deus das Pequenas Coisas é a história de três gerações de uma família da região de Kerala, no sul da Índia, que se dispersa por todo o mundo e se reencontra na sua terra natal. Uma história feita de muitas histórias. A histórias dos gémeos Estha e Rahel, nascidos em 1962, por entre notícias de uma guerra perdida. A de sua mãe Ammu, que ama de noite o homem que os filhos amam de dia, e de Velutha, o intocável deus das pequenas coisas. A da avó Mammachi, a matriarca cujo corpo guarda cicatrizes da violência de Pappachi. A do tio Chacko, que anseia pela visita da ex-mulher inglesa, Margaret, e da filha de ambos, Sophie Mol. A da sua tia-avó mais nova, Baby Kochamma, resignada a adiar para a eternidade o seu amor terreno pelo Padre Mulligan.
Estas são as pequenas histórias de uma família que vive numa época conturbada e de um país cuja essência parece eterna. Onde só as pequenas coisas são ditas e as grandes coisas permanecem por dizer.
"O Deus das Pequenos Coisas" é uma apaixonante saga familiar que, pelos seus rasgos de realismo mágico, levou a crítica a comparar Arundhati Roy com Salmon Rushdie e García Márquez.




Voltei a pegar no livro de Arundhati Roy, o seu primeiro e único romance até ao momento, que em 1997 lhe valeu o Booker Prize. Lembrava-me que tinha adorado lê-lo, mas não me recordava o porquê... talvez a história, talvez as figuras de estilo ou o léxico.

O primeiro capítulo não me esclareceu a dúvida, mas enquanto a história de Estha e Rahel se ía revelando e Roy nos apresenta pistas para o que ainda vai acontecer, dei por mim embrenhada na Índia dos anos 60, uma Índia que não conheço - não conheço mesmo nenhuma - e que me assusta pela sua descrição, pelos seus humores e hábitos.

Dei por mim a sentir que eventualmente conhecia esta Índia, ou pelo menos, estas personagens indianas, especialmente as infantis, ingénuas e autênticas, retratadas por Roy como uma pureza imunda, manchada pelas tradições sociais que acabaram por testemunhar sem no entanto compreender a crueldade ou as motivações adultas... só sabiam que a mãe que amavam os culpava e que gostava "menos deles".

Os acidentes quotidianos como os dramas de quem os vive e tende a exagerar, por não conhecer outro mundo ou outras reacções para além da partida, para além da crueza das pequenas coisas, pois são as únicas de uma vida.

06 julho 2014

James Blake II

Porque este senhor "canta-me"... não sou a maior fã dos arranjos electrónicos, mas as letras são qualquer coisa de formidável.

Lançou em 2013 o álbum Overgrown, cuja canção homónima é a minha favorita.





Mas aqui fica uma das letras avassaladoras que hoje conta um pouco da minha história:

Part time love is life round here
We never done...
Everything feels like touchdown on a rainy day
Part time love is life round here
We never done...

Now we're at square one
And we waited too long
So we're back to square one

We never done...


E já agora o single de avanço Retrograde

You're on your own
In a world you've grown
Few more years to go,
Don't let the hurdle fall
So be the girl you loved,
Be the girl you loved

I'll wait
So show me why you're strong
Ignore everybody else,
We're alone now


05 julho 2014

James Blake

Em 2011 lançou o álbum epónimo do qual os singles The Wilhelms Scream e Limit to your love anunciavam a genialidade e autenticidade de James Blake.

E porque me sinto fall in e reconheço the limit to your care, recuperei algo que pouco oiço: electrónica.

The Wilhelms Scream

I don't know about my dreams
I don't know about my dreamin anymore.
All that I know is
I'm falling, falling, falling, falling.
Might as well fall in.

I don't know about my love.
I don't know about my loving anymore.
All that I know is
I'm falling, falling, falling, falling.
Might as well fall in.

I don't know about my dreams.
I don't know about my dreaming anymore.
All that I know is
I'm falling, falling, falling, falling.
Falling.

I don't know about my love.
I don't know about my loving anymore.
All that I know is
I'm loving, falling, loving, loving.
Might as well love you.

I don't know about my love.
I don't know about my loving anymore.
All that I know is
I'm turning, turning, turning, turning,
Might as well turn in.





There's a limit to your love
Like a waterfall in slow motion
Like a map with no ocean
There's a limit to your love
Your love, your love, your love

There's a limit to you care
So carelessly there, is it truth or dare
There's a limit to your care
There's a limit to your love
Like a waterfall in slow motion
Like a map with no ocean
There's a limit to your love
Your love, your love, your love

There's a limit to you care
So carelessly there, is it truth or dare
There's a limit to your care

09 junho 2014

séries televisivas

Desde que me lembro de ser gente que adoro ver séries televisivas. Em tempos de desenhos animados, depois telenovelas (mexicanas e brasileiras) até que descobri o admirável mundo dos heróis e aventureiros.

Não sei qual foi a primeira, mas desde Knight Rider, The A-Team, Baywatch, MacGyver, The Young Riders, Bonanza, e Highway to Heaven muitas horas foram passadas em família nos anos 80 e início dos 90. Depois vieram os X-Files, Ally McBeal e Sexo e a Cidade. O tempo já não era tanto e a trama pedia alguma privacidade. As exigências da adolescência obrigavam a percorrer os caminhos sem companhia ou censuras.

Depois vieram os CSIs, o Lost, o Dr. House, o Dexter, as Criminal Minds, a Bones, a Grey's Anatomy, The Killing, Luther, Sons of Anarchy, Lie to Me, (...) não necessariamente por esta ordem, com maior ou menor devoção. A atracção pelo mistério, pela dicotomia bem vs mal e por protagonistas fortes - mas não necessariamente sonsos e coitadinhos, muito pelo contrário - permitiu-me crescer em termos de argúcia, pensamento lógico e ocupar o tédio com desafios mais ou menos evidentes. Alguns modelos serviram apenas para me ensinar a dizer não e tornar-me bem mais exigente.

Naturalmente, que ainda há lugar para passatempos mais ou menos previsíveis e românticos, como: Chicago Fire, Rookie Blue, The Good Wife ou NCIS.

Contudo, a preferência é hoje bem definida: clássicos em mini séries (preferencialmente europeias) e séries de outros tempo históricos. A recriação fascina-me, se for baseada em literatura ainda melhor. Por isso, não é de estranhar o seguidismo actual de desafios como Game of ThronesDa Vinci's Demons, Hell on Wheels e Downton Abbey.

27 maio 2014

Zaz

Uma voz "desesperada", num grito por atenção lancinante que encerra a banda sonora do filme Dead Man Down com Collin Farrel e Noomie Rapace. Zaz aparece e complementa magistralmente a trama do húngaro "morto" depois de perder a mulher e a filha, e da francesa "morta" depois de desfigurada por um acidente de automóvel.






Eblouie par la nuit à coup de lumière mortelle
A frôler les bagnoles les yeux comme des têtes d'épingle.
J't'ai attendu 100 ans dans les rues en noir et blanc
Tu es venu en sifflant.

Eblouie par la nuit à coup de lumière mortelle
A shooter les canettes aussi paumé qu'un navire
Si j'en ai perdu la tête j't'ai aimé et même pire
Tu es venu en sifflant.

Eblouie par la nuit à coup de lumière mortelle
A-il aimé la vie ou la regarder juste passer?
De nos nuits de fumette il ne reste presque rien
Que tes cendres au matin
A ce métro rempli des vertiges de la vie
A la prochaine station,petit européen.
Mets ta main,dessend-la au dessous de mon coeur.

Eblouie par la nuit à coup de lumière mortelle
Un dernier tour de piste avec la main au bout
J't'ai attendu 100 ans dans les rues en noir et blanc
Tu es venu en sifflant.



Mas Zaz é muito mais que a banda sonora de um filme europeu com estrela americana. Dizem que passou de saltimbanca de rua a cantora de tops; que produz fusão entre o gipsy jazz, a soul e a varieté française, notando-se as influências afro, arábicas, andalusas e latinasEvita os refrões e as repetições que os artistas modernos apreciam; usa e abusa de instrumentos como o violino, o acordeão e os ferrinhos, mas definitivamente em Zaz impera o storytelling, a descrição de sentimentos e cenários, a alusão a lugares e personagens famosos e, claro, o seu melhor instrumentos: a voz («rauque un peu cassée»).

A sua carreira de tops começa em 2010 com o álbum homónimo. O primeiro avanço Je Veux é eleito canção favorita dos franceses em 2010.

Em 2013, Zaz lançou Recto Verso, álbum ritmado, apressado, cheio de histórias humanas sobre as diferenças, os dramas e o encontro do homem com o universo. A voz afirma-se numa montanha russa de tons e entoações surpreendentes e inimitáveis.


Destaque ainda para a participação do grande Jean-Jacques Goldman em Si.

Si j'étais l'amie du bon Dieu
Si je connaissais les prières.
Si j'avais le sang bleu.
Le don d'effacer et tout refaire.
Si j'étais reine ou magicienne
princesse, fée, grand capitaine,
d'un noble régiment.
Si j'avais les pas d'un géant.

Je mettrais du ciel en misère,
Toutes les larmes en rivière,
Et fleurirais des sables
où filent même l'espoir
Je sèmerais des utopies,
plier serait interdit,
On ne détournerait plus les regards.

Si j'avais des milles et des cents,
Le talent, la force ou les charmes,
Des maîtres, des puissants.
Si j'avais les clés de leurs âmes.
Si je savais prendre les armes.
Au feu d'une armée de titans.
J'allumerais des flammes,
Dans les rêves éteints des enfants.
Je mettrais des couleurs aux peines.
J'inventerais des Éden.
Aux pas de chances, aux pas d'étoiles, aux moins que rien.

Mais je n'ai qu'un cœur en guenille,
Et deux mains tendues de brindilles.
Une voix que le vent chasse au matin.
Mais si nos mains nues se rassemblent,
Nos millions de cœurs ensembles.
Si nos voix s'unissaient,
Quels hivers y résisteraient ?

Un monde fort, une terre âme sœur,
Nous bâtirons dans ces cendres
Peu à peu, miette à miette,
goutte à goutte et cœur à cœur

Peu à peu, miette à miette,
goutte à goutte et cœur à cœur

25 maio 2014

Afeganistão


Tenho uma curiosidade atroz por outras culturas, mas infelizmente não consigo visitá-las e embrenhar-me na sua descoberta. Por isso, muitas vezes, procuro leituras que testemunhem e me façam imaginar para além desta cultura light e easy ocidental.

A sinopse de O Livreiro de Cabul é clara: testemunho da jornalista Asne Seierstad, repórter de guerra no Médio Oriente, sobre o tempo que passou com uma família afegã.

A leitura é sôfrega, por vezes revoltante, apesar de Seierstad procurar ser imparcial. No entanto, o ritmo da escrita e a sua "secura" permitem adivinhar a fúria contida de uma mulher que assiste e não compreende, ou se compreende, não aceita.

Para mim que pouco sei sobre muçulmanos e ainda menos sobre talibans e pastunes, guardo uma leitura sem preconceitos e acessível sobre uma cultura praticamente impenetrável a olhos ocidentais.

16 maio 2014

Ruthie Foster

Esta minha paixão por vozes poderosas...






It makes no difference where I turn
I cant get over you and the flame still burns
It makes no difference, night or day
Shadow never seems to fade away

And the sun don't shine no more
And the rains fall down on my door

Now there's no love
As true as a love that dies untold
And the clouds never hung so low before

And it makes no difference how far I go
Like a scar that hurt will always show
And it makes no difference who I meet
It's just a face in the crowd in a dead end street

And the sun don't shine no more
And the rains fall down on my door

Well these old love letters
Well I just cant keep
'Cause like a gambler says,
You read 'em and weep

And the dawn don't rescue me no more
Without your love, I'm nothing at all
Just like an empty hole
It's a lonely fall

Since you've been gone it's a losing battle
Stampede and cattle
They rattle the walls

And the sun don't shine no more
And the rains fall down on my door

Well, I love you so much
That it's all that I can do
Just to keep from telling you
That I never, ever felt so alone before

04 maio 2014

A arte de dormir sozinha (Sophie Fontanel)


A edição portuguesa da Guerra & Paz de A arte de dormir sozinha de Sophie Fontanel apresenta na capa a interrogação: "o que leva uma mulher a desistir do sexo?" deixando o teaser para a expectativa de encontrar as respostas nas 150 páginas do livro.

Pois bem, não há resposta, ou pelo menos, Sophie Fontanel não a dá. A leitura revela uma mulher que tomou uma opção e que escreve para tentar justificar a mesma. Mostra a forma como os amigos se interrogaram, a interrogaram e de, certa forma, a julgaram, por ter decidido trilhar caminhos opostos aos preconizados pela sociedade actual, impregnada de apelos à importância do sexo na vida das pessoas e à condenação de quem não vive dando azo à luxúria e ao prazer. É difícil aos outros compreender como alguém decide algo "anormal", especialmente quando é uma pessoa "sexual" (atraente e lasciva). Mas a autora não fechou o corpo à sensualidade, apenas ao sexo, sendo o seu testemunho a evidência disso mesmo.

Fontanel explica a aversão que começou a sentir quando não havia envolvimento emocional com os seus amantes. Cansou-se de dar o corpo, na busca de um prazer momentâneo que, uma vez consumado, deixava um vazio. A inquietação do nada, do vulgar, daquilo que todos faziam, mesmo que o fizesse por sua iniciativa, levou-a a procurar a sua vontade, o significado dessa vontade. Sobre o uso do corpo, objecto vácuo de mera fruição, teria beneficiado com a leitura do onze minutos de Paulo Coelho, mas poderia não se identificar com a protagonista. Afinal, Fontanel é uma intelectual francesa, "passeia-se" entre uma elite dita erudita, amante da arte e da cultura. Portanto, "mais inteligente" / racional que uma prostituta que dá o corpo porque precisa de comer (personagem de Coelho).

Para além do retrato do questionamento, da crítica e da vacuidade das vidas dos amigos, com exemplos por vezes menos livres e menos preenchidos que os de Fontanel, a autora desfia exemplos de "compensações" de prazer. Isto é, a forma como ficou mais desperta para as "ofertas" da vida, aqueles momentos e dádivas que não vemos quando a nossa mente se entrega a momentos orgásmicos vividos ou fantasiados. Sem os sentidos inebriados, o corpo desperta para a envolvente, encontra substitutos para a ausência do estímulo corporal, descobre a verdadeira sensualidade.

No fundo, o corpo precisa de tranquilidade para se encontrar com as mais diversas fontes de prazer. "A solidão torna-nos perspicazes" (p. 83), mas também nos mostra o "desespero" de se constatar que não se ama ninguém (p. 107).

Ao fim de doze anos, Fontanel conclui que a nossa parte física são os outros que no-la dão, por isso e apesar da coragem e resiliência subjacente a uma decisão de viver no meio dos outros com uma opção "diferente", mais cedo ou mais tarde, o corpo volta a "falar" e a pedir o afecto, o carinho... sobretudo o prazer que só o envolvimento dos corpos proporciona. De vontade, de acordo com a liberdade de cada um, e novamente Fontanel se revela "diferente"... com mais de 50 anos de idade renuncia ao compromisso, ao casamento, ao convencional nas relações, pois só a sua carreira, a sua "arte" a possuem!


02 maio 2014

e a poetisa dixit

"Não te apaixones por uma mulher lúcida, irreverente, intensa e brincalhona.
Não te apaixones por uma mulher que lê, que escreve ou por uma mulher que tem sentimentos.
Não te apaixones por uma mulher culta, delirante ou louca. 
Não te apaixones por uma mulher que pensa, que sabe o que realmente sabe e confiante em si mesma.
Não te apaixones por uma mulher que ri ou chora quando faz amor, que sabe transformar a carne em espírito, e, muito menos, te apaixones por uma mulher que ama poesia, que é romântica ou que fica meia hora contemplando uma pintura e não é capaz de viver sem música.
Não te apaixones por uma mulher que está interessada em política, que é rebelde e sente um enorme horror pelas injustiças. 
Não te apaixones por uma mulher que não gosta de ver televisão, nem por uma mulher que seja bonita, mas que não se importe com as características de seu rosto e de seu corpo. 
Não queiras apaixonar-te por uma mulher assim… Porque, quando te apaixonares por uma mulher como esta, se ela vai ficar contigo ou não, se ela te ama ou não, nada disso interessa, porque... de uma mulher assim, jamais conseguirás ficar livre…"



(poetisa dominicana Martha Rivera Garrido)

26 abril 2014

Isyankar (Mustafa Sandal)

Porque amo as línguas do mundo
Porque é fantástico encontrar um velho mp3 cheio de sons da adolescência
Porque é linda e cheia de ritmo
Porque é uma história de Amor

Porque não me rendo ao mainstream :)


 

Istersen dağlar dağlar
(if you want, mountains)
Yerinden oynar oynar
(will move from their places)
Sabırsız kalbim bir tek aşkına isyankar
(my impatient heart is only for your love)

Korkma yaklaş, hislerinle
(dont fear, come closer with your feelings)
sanki bir adim attigini bilmez mi gönül
(as if the heart doesn't know that you have taken a step)
Gecer mi ömur?
(it's not the End)


18 abril 2014

Indila

Indila é o nome da mais recente coqueluche da música francesa. Autora, compositora e cantora, colaborou até 2013 com vários artistas de hip-hop com destaque para M. Pokora e Admiral T. No fim desse ano lança o single Dernière Danse que rapidamente atinge os tops franceses.

Com origens indiana, egípcias e argelinas, a musicalidade de Indila junta o storytelling romântico da chanson française com os sons orientais e africanos das suas origens.

Recentemente lançado, o primeiro álbum da cantora Mini World merece ser ouvido com particular atenção. Apesar dos destaques de Dernière Danse e de Tourner dans le vide, composições como Boîte en Argent  e Love Story, rapidamente captarão a atenção do público mundial.



30 março 2014

El Museo de La Distancias Rotas

Música final do filme "The city of your final destination", a história de Omar cuja carreira académica depende da redacção da biografia de um autor americano que se suicidara. A família não autoriza a biografia e Omar é pressionado a viajar até Ocho Rios à propriedade da família do escritor. Aí descobre um novo sentido para a vida e percebe que afinal o seu sonho está para além da carreira académica e de uma biografia de um autor. É quando Omar decide "escrever" a sua história, que começa a viver verdadeiramente!

Depois de uma lição de vida, de um filme inspiracional com Anthony Hopkins, Charlotte Gainsburg e Laura Linney, surge Jorge Drexler e El museo de las distancias rotas.

 


El museo de las distancias rotas
Se quedaba con lo que me decías
Tú dejabas con cuentagotas
Tu vida en la mía, tu vida en la mía.

Un silencio que llego de lejos
Fue a ocupar mi corazón vacío
De la pena que se llevó flotando el río.

Cada cual a merced de su corriente
Y a merced de la gravedad, el velo
De pronto el tiempo quedó latente
Tu mano en mi pelo, tu mano en mi pelo.

Y un silencio con tus mismos ojos
Fue a ocupar mi corazón vacío
De la pena que se llevó flotando el río,
De la pena que se llevó flotando el río.



09 março 2014

Dallas Buyers Club (2013)

Talvez O filme de 2013, baseado na história verídica de Ron Woodroof, um electricista com uma vida errática marcada por excessos de álcool, apostas, rodeos, droga e sexo.

Um dia o corpo vacila e é-lhe diagnosticado o vírus do HIV que entretanto dera lugar à doença da SIDA. Entre revolta com a situação e a determinação para mudar a sua situação, acaba por criar um esquema de medicinas alternativas para se ajudar e para ajudar todos os excluídos pelo sistema e afectados pela doença, numa luta desigual com as grandes farmacêuticas.



Quando finalmente vi este filme já conhecia a história e já  Matthew McConaughey tinha sido aclamado pela crítica e recebido o Globo de Ouro. Contudo, apenas depois de me desiludir com o The Wolf of Wall Street me predispus a dar uma oportunidade a mais um nomeado (tenho uma certa alergia ao mainstream, reconheço).

Não tenho grande simpatia por filmes que se alimentam da decadência humana escolhida e Dallas Buyers Club começa por mostrar o quão estúpidos podemos ser quando não nos importamos com a vida e apenas procuramos emoções fugazes e fugas constantes do que somos. Todavia, Ron é completamente ambivalente. Nota-se o desleixo, a desonestidade e o menosprezo pelo risco, da mesma forma que se vê a vontade de viver e de o fazer com emoção e adrenalina. Perante a doença, recrimina-se pelas opções que tomou, mas não desiste de procurar uma solução recusando a fatalidade da morte.

Graças à sua determinação e vontade de ajudar os condenados pelo sistema, arrisca ainda mais a vida e a liberdade, gasta todo o dinheiro que tem e angaria. Faz novos amigos que embarcam com ele na aventura de uma vida condenada e consegue transformar a sentença de 30 dias de vida em quase sete anos de serviço, sem baixar os braços e perdendo os melhores amigos pelo caminho.

 Apesar da ambivalência, Ron é leal, retribui amizades e revela verdadeiros sentimentos e acções de solidariedade, mostrando como os pre-conceitos em relação às aparências e às pessoas conseguem ser ainda mais cruéis que os vícios da adição a substâncias e comportamentos erráticos que apenas põem em causa a nossa vida, e nunca a dos outros.

Uma palavra ainda para outra interpretação fenomenal: Jared Leto. Completamente irreconhecível no papel de Rayon, travesti homossexual, renegado pela família, mas um ser humano de sentimentos puros e de grande lealdade. É Rayon que ajuda Ron e o mantém motivado; é Rayon que apresenta a Ron o mundo da discriminação e do sofrimento dos que são rotulados.

E coube a Jared Leto o discurso mais marcante dos Óscares 2014.



01 fevereiro 2014

brothers in blood

We played king of the mountain out on the end
The world come chargin' up the hill, and we were women and men
Now there's so much that time, time and memory fade away
We got our own roads to ride and chances we gotta take
We stood side by side each one fightin' for the other
We said until we died we'd always be blood brothers

Now the hardness of this world slowly grinds your dreams away
Makin' a fool's joke out of the promises we make
And what once seemed black and white turns to so many shades of gray
We lose ourselves in work to do and bills to pay
And it's a ride, ride, ride, and there ain't much cover
With no one runnin' by your side my blood brother

On through the houses of the dead past those fallen in their tracks
Always movin' ahead and never lookin' back
Now I don't know how I feel, I don't know how I feel tonight
If I've fallen 'neath the wheel, if I've lost or I've gained sight
I don't even know why, I don't know why I made this call
Or if any of this matters anymore after all

But the stars are burnin' bright like some mistery uncovered
I'll keep movin' through the dark with you in my heart
My blood brother


27 janeiro 2014

Uma Aprendizagem ou o Livro dos Prazeres (Clarice Lispector)



Alivia a minha alma, faze com que eu sinta que Tua mão está dada à minha, faze com que eu sinta que a morte não existe porque na verdade já estamos na eternidade, faze com que eu sinta que amar é não morrer, que a entrega de si mesmo não significa a morte, faze com que eu sinta uma alegria modesta e diária, faze com que eu não Te indague demais, porque a resposta seria tão misteriosa quanto a pergunta, faze com que me lembre de que também não há explicação porque um filho quer o beijo de sua mãe e no entanto ele quer e no entanto o beijo é perfeito, faze com que eu receba o mundo sem receio, pois para esse mundo incompreensível eu fui criada e eu mesma também incompreensível, então é que há uma conexão entre esse mistério do mundo e o nosso, mas essa conexão não é clara para nós enquanto quisermos entendê-la, abençoa-me para eu viva com alegria o pão que eu como, o sono que durmo, faze com que eu tenha caridade por mim mesma, pois senão não poderei sentir que Deus me amou, faze com que eu perca o pudor de desejar que na hora de minha morte haja uma mão humana amada para apertar a minha, amém.


(Edição da Relógio D'Água, 1999, p. 48)


Alivia a minha alma, faze com que eu sinta que Tua mão está dada à minha, faze com que eu sinta que a morte não existe porque na verdade já estamos na eternidade, faze com que eu sinta que amar é não morrer, que a entrega de si mesmo não significa a morte, faze com que eu sinta uma alegria modesta e diária, faze com que eu não Te indague demais, porque a resposta seria tão misteriosa quanto a pergunta, faze com que me lembre de que também não há explicação porque um filho quer o beijo de sua mãe e no entanto ele quer e no entanto o beijo é perfeito, faze com que eu receba o mundo sem receio, pois para esse mundo incompreensível eu fui criada e eu mesma também incompreensível, então é que há uma conexão entre esse mistério do mundo e o nosso, mas essa conexão não é clara para nós enquanto quisermos entendê-la, abençoa-me para eu viva com alegria o pão que eu como, o sono que durmo, faze com que eu tenha caridade por mim mesma, pois senão não poderei sentir que Deus me amou, faze com que eu perca o pudor de desejar que na hora de minha morte haja uma mão humana amada para apertar a minha, amém.


(Edição da Relógio D'Água, 1999, p. 99)


Baixa e longínqua
É a voz que ouço. De onde vem,
Fraca e vaga?
Aprisiona-me nas palavras,
Custa-me entender
As coisas pelas quais pergunta
Não sei e não sei
Como responder-lhe-ei.

Só o vento sabe,
Só o sol sábio conhece.
Pássaros pensativos,
O amor é belo,
Me insinuam algo.
E o mais
Só o vento sabe,
Só o sol conhece.

Por que, ao longe, erguem-se as rochas,
Por que vem o amor?
As pessoas são indiferentes,
Por que tudo lhes sai bem?
Por que eu não posso mudar o mundo?
Por que não sei beijar?
Não sei e não sei
Talvez um dia compreenda.

Só o vento sabe,
Só o sol sábio conhece.
Pássaros pensativos,
O amor é belo,
Me insinuam algo.
E o mais,
Só o vento sabe,
Só o sol conhece.


A letra da música Zdenek Rytir. E a música de Karel Svoboda.

(Edição da Relógio D'Água, 1999, p. 104)

18 janeiro 2014

A Royal Affair (2012)

Em pleno século XIX, a Dinamarca vive em plena Idade Média, dominada por escravatura, repressão e uma corte de fanáticos liderada por um rei louco que teima em não crescer. Prometida ao Rei Christian VII da Dinamarca, a princesa britânica Caroline Mathilda muda-se para a Escandinávia onde a sua infelicidade começa quando grande parte dos seus livros com ideias iluministas lhe são retirados. Acresce o comportamento infantil, errático e pouco respeitador do rei. Caroline sente-se numa prisão até que, numa viagem pela Europa, Christian conhece Johann Friedrich Struensee, um médico de ideias iluministas que se torna seu companheiro de aventuras. Mas Struensee tem um plano: "actualizar" a Dinamarca e rapidamente usa a sua influência junto do rei para implementar medidas que, por instantes, tornam a Dinamarca progressista e desenvolvida. Até que... se apaixona por Caroline e os opositores ao progresso o condenam à morte e afasta de Christian.



Não escondo a minha preferência por filmes europeus, se forem históricos então tenho garantidas duas horas de puro fascínio. A Royal Affair reúne estas duas características e, ainda, Mads Mikkelsen no papel de Struensee. Mikkelsen é provavelmente um dos meus actores proferidos actualmente, pela densidade, pela poker face, pela crueldade. Neste filme, mostra igualmente emoção sendo a química com Alicia Vikander (Caroline) notória.

By the way, não se preocupem, a Dinamarca recuperou com o filho de Caroline, Frederik VI que devolveu à Dinamarca as leis progressistas de Struensee que incluíam a abolição: da tortura; do trabalho escravo (corvéia); da censura à imprensa; preferência de nobres para cargos públicos (boys); dos privilégios nobres; do financiamento público a áreas improdutivas; e também: a introdução de um imposto sobre os jogos de azar e de luxo para financiar enfermagem aos mais desfavorecidos; proibição do tráfico de escravos nas colónias dinamarquesas; criminalização e punição de suborno; reorganização das instituições judiciais para minimizar a corrupção; cessão de terras aos camponeses; re-organização e redução do exército; reformas universitárias; e reforma das instituições médicas públicas.


Fonte: o filme e http://en.wikipedia.org/wiki/Johann_Friedrich_Struensee

08 janeiro 2014

How long will I love you?

Não conheço quase nada de Ellie Goulding (até hoje apenas Lights, que pouco apreciava). Mas uma versão desta música numa comédia romântica de pouca qualidade (About Time) fez-me tropeçar nesta questão pertinente, atendendo a que sempre interpretei as relações como uma música, ou pelo menos, que duram o tempo de uma música. How long will I love you? As long as stars above you And longer, if I can. How long will I need you? As long as the seasons need to Follow their plan. How long will I be with you? As long as the sea is bound to Wash upon the sand. How long will I want you? As long as you want me too And longer by far. How long will I hold you? As long as your father told you, As long as you can. How long will I give to you? As long as I live through you However long you say. How long will I love you? As long as stars above you And longer, if I may. [Spoken:] We're all traveling through time together Every day of our lives. All we can do is do our best To relish this remarkable ride.

05 janeiro 2014

The Letter Writer (2011)

E enquanto vou diminuindo a minha lista de to see movies vou descobrindo algumas pérolas musicais. A última é de uma jovem praticamente desconhecida, que teve a felicidade de protagonizar o filme The Letter Writer a história comovente de uma adolescente à procura do seu rumo que um dia recebe uma carta de um desconhecido. Poderia ter-se desfeito da mesma, mas a mesma tinha uma mensagem: a mensagem certa no momento oportuno. É então que Maggie vai à procura do autor da carta e encontra não apenas um amigo, mas o ombro que a ajuda a compreender porque é que as pessoas passam na nossa vida e como por vezes mais vale que mostrem o que são e saiam da nossa vida. Um filme para ver em família, uma mensagem universal.

 

  You're a flower blooming in the new dawn 
 The colors around the setting sun 
 A candle in the dark 
 And you're every sailors beacon on the shore 
 You're every perfect metaphor 
 There's a culminating action of us all 
 Sometimes there are miracles 
 And our hands do the job 
 For every action you move these thing along 
 Everything you do moves these along 
 Angels are hiding in the motions of humans 
 Angels are around to help us all 
 We are angels hiding in the bones of humans 
 Helping all these miracles along 
 There's a golden key that opens any lock 
 The path to get the thing you want 
 Is never really blocked 
 And you're every persons' escort to the door 
 And every other person is yours 
 Every other person is yours 
 Angels are hiding in the motions of humans 
 Angels are around to help us all 
 We are angels hiding in the bones of humans 
 Helping all these miracles along 
 Along.