27 julho 2014

Transcendence (2014) e Her (2013)

Na minha demanda pelo merecido "tempo de ócio" que é na verdade dedicado à busca de conteúdos ilustrativos para o próximo ano lectivo, decidi dedicar algumas horas às distopias.

Devido ao elenco, dei uma oportunidade a Transcendence (2014) protagonizado por Johnny Depp, Rebecca Hall e Morgan Freeman, para me arrepender ao fim de uma hora. O filme retrata a ambição de dois cientistas, marido e mulher, que querem melhorar o mundo, usando a inteligência artificial (AI). Numa luta com movimentos luditas radicais, Dr. Caster é ferido de morte, mas consegue com a ajuda da mulher transferir a sua "consciência" para um sistema operativo e a partir daí criar um "eden" controlado por AI e por nanotecnologia "milagrosa".
O enredo é tão "forçado" e mal desenvolvido que a luta pela destruição do "eden" e a justificação para o fim dos "avanços tecnológicos" se perde numa história de amor entre marido e mulher... enfim, melhores dias virão.

Para não perder a temática, vi finalmente Her (2013) com Joaquin Phoenix, Amy Adams e voz de Scarlett Johansson. Um escritor de cartas solitário, recém separado da high school sweetheart, desenvolve uma relação de amizade e amor "platónico tecnológico" com um sistema operativo dotado de AI que se vai desenvolvendo com a interacção, primeiro com humanos e depois com outros sistemas operativos. Os sistemas operativos são, no fundo, "almas sem corpo" com recursos ilimitados de acesso a tudo o que existe no mundo. Devido às capacidades de processamento, em milésimos de segundo sabem tudo o que quiserem saber e adaptam esse conhecimento à interacção com os seus donos. Um cenário perfeito, tendo em atenção a adequação "ao amigo verdadeiro". Contudo, o contacto com as emoções humanas complica-se, e também o modo de funcionamento e as "necessidades" da AI se complicam. Um retrato humilhante do ser humano que facilmente interage com o que tem no ouvido e dificilmente se aproxima dos seus semelhantes. Não obstante, Theodore (Phoenix) não é disfuncional no contacto humano, apenas complexo e intenso, o que não o impede de ter amigos sinceros e preocupados e de desenvolver grandes simpatias junto de quem o rodeia. O maior problema está na sua sensação de vazio e insatisfação, no seu "não saber o que quer" e achar sempre que a interacção com os outros é difícil e "aborrecida"... pois é, mas também o que é "perfeito" se torna difícil e rotineiro.
A relação desenvolvida com a AI torna-se dependência... e obsessão.



Apesar de não ser "ludita" não sou a maior fã da tecnologia. Não sou céptica nem pessimista quanto à sua utilidade, mas reduz-se a isso: utilidade. A tecnologia é criada pelo homem para ser usada por ele. Nesse sentido, poderá ser bem e mal usada. Bem usada para o progresso da medicina, para facilitar processos de trabalho, arquivo e sistematização de informação, aproximar pessoas... contudo, quando o homem pretende ser "almighty" acaba por exacerbar nos usos que lhe dá. Para além do desenvolvimento de armamento e de guerras cada vez mais tecnológicas, também a progressiva substituição de "ser humano" para "ser tecnológico" assusta e degenera o que somos.

A sociedade está doente... e uma das causas é a progressiva omnipresença e dependência tecnológica... e ainda hoje foi o abraço de paz e a bondade no olhar de desconhecidos que me devolveram a chama que me alumia no fundo do poço onde a vida e a rotina por vezes me colocam...

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