28 abril 2010

moog island






[O que eu não dava agora por uma «moog island»... enfim, preciso de ir apanhar ar, sair destes vírus e bactérias, ver outras caras, ouvir outros dramas... bater contra outras portas, quem sabe se alguma se abre.]

23 abril 2010

dor de eternos



[...]
Nunca mais
a tua face será pura limpa e viva

Nem o teu andar como onda fugitiva

se poderá nos passos do tempo tecer.

E nunca mais darei ao tempo minha vida.


Nunca mais servirei senhor que possa morrer.

A luz da tarde mostra-me os destroços

do teu ser. Em breve a podridão

beberá teus olhos e teus ossos

Tomando a tua mão na sua mão.


Nunca mais amarei quem não possa viver

Sempre,

Porque eu amei como se fossem eternos

A luz, a glória e o brilho do teu ser

Amei-te em verdade e transparência

E nem sequer me resta a tua ausência,

És um rosto de nojo e negação

E eu fecho os olhos para não te ver.


Nunca mais servirei senhor que possa morrer.




Sophia de Mello Breyner Andresen

20 abril 2010

Jesusalém




"Jesusalém” de Mia Couto é classificado pela Editora Caminho como “a mais madura e mais conseguida obra de um escritor no auge das suas capacidades criativas”.

O romance começa assim: “Profundamente abalado pela morte da mulher, Dordalma, aquela que era ‘um bocadinho mulata’, Silvestre Vitalício afasta-se da cidade e do mundo. Com os dois filhos Mwanito e Ntumzi, mais o criado ex-militar Zacarias Kalash, faz-se transportar pelo cunhado Aproximado para o lugar mais remoto e inalcançável. Aí, numa velha coutada de caça em ruínas, funda o seu refúgio, a que dá o nome de Jesusalém, porque a vida é demasiado preciosa para ser esbanjada num mundo desencantado”.


O narrador é Mwanito, o filho mais novo de Silvestre, que numa voz ingénua e ignorante nos fala do mundo que vive nele, nas faltas e particularidades de uma vida feita de silêncios, insinuações e naturezas.

Mwanito vai-nos contando como é "ser como um engano, como se a existência fosse uma indiscrição" naquele universo criado e mantido pela loucura de um homem que saiu do seu lugar para nunca mais a si regressar, arrastando consigo os filhos, o cunhado e um serviçal. É este homem enlouquecido pela perda, que preferiu fugir a fazer luto que personifica a afirmação: " o homem é bicho morredouro, que adora a vida mas gosta ainda mais de não deixar viver".

O prazer na leitura deste trabalho advém das numerosas pérolas versificadas, escritas sem pretensões, lidas em surpresa e reflectidas com um inabalável sorriso:

  • o sonho é uma conversa com os mortos, uma viagem ao país das almas.
  • as casas são habitadas por sombras e governadas por lembranças.
  • a cegueira é o destino de quem se deixa tomar de assalto pela paixão: deixamos de ver quem amamos.
  • os mortos não morrem quando deixam de viver, mas quando os votamos ao esquecimento.
  • se queres conhecer um homem, espreita-lhe as cicatrizes.

Jesusalém é terra de dor, de lonjura, de fuga de um mundo que há muito deixou de ter respostas, palavras ou sequer sorrisos.

16 abril 2010

Not been able to love

You lodge your heart
You wake up with tears and stars in your eyes
You gave it all to someone that cannot love you back
Your days are passed
With wishes and hopes for the love that you've got
You wasted it all to someone that cannot love you back

Someone that cannot love, love
Ain't this enough?
You push yourself down
You try to take comfort in words, but words
They cannot love
Don't waste them like that
'cause they'll bruise you more

You secretly made
Castles of sand that you hide in the shame
But you cannot hold tides that break down
And you're building them all over again

You talk all this words
You make conversations that cannot be heard
How long until you notice that
No one is answering back?

Someone that cannot love, love
Ain't this enough?
You push yourself down
You try to take comfort in words, but words
They cannot love
Don't waste them like that
'cause they'll bruise you more

Love, love
Ain't this enough?
You're pushing around
You try to take comfort in words, but words
They cannot love
Don't waste them like that
'cause they'll bruise you more

Someone that cannot love

12 abril 2010

Bouillon Chartier




A friend ask me for a suggestion: do you know any good restaurant in Paris? Be aware that I'm not searching for a Michelin's recomendation.

The only thing I could remember was not Michelin, was not a simple Brasserie or a Montmarte corner. The only thing that was rumbling in my mind was: Le Bouillion Cartier. A very large restaurant, Belle Epoque style, fantastic decoration, nice waiters... and the most cheap prices I've ever had in a restaurant in Paris.

Nice food, great marron creme, l'apricot melba...

Near the Boulevards...



09 abril 2010

Live

Uma banda que tem andado desaparecida... até das minhas audições! Felizmente, voltei a tropeçar no Overcome.

Claro que a favorita é o Dolphin's Cry.




E o Lightning Crashes




E o Heaven




E o clássico Run to the water




E tempo ainda para descobrir o Turn my head

05 abril 2010

A Cura de Schopenhauer por Irvin D. Yalom


Pertencente ao grupo dos escritores de «romances de ideias» Irvin D. Yalom não cessa de me surpreender. Depois de Quando Nietzsche Chorou impunha-se a repetição da dose: filosofia, romance e psiquiatria. Psicoterapeuta e professor de psiquiatria, o americano de origens russas reúne, sob o pretexto literário, uma trama simples acompanhada de pensamentos de uma dos filósofos mais pessimistas sobre a condição humana.

A expressão do pessimismo começa quando ficamos a saber que Julius Hertzfeld, psicoterapeuta, tem um melanoma em estado terminal e não tem família de sangue que o acompanhe nos meses finais de vida. Resignado, decide rever todas as histórias de pacientes e tentar corrigir pelo menos uma em que tenha fracassado. É então que se reencontra com Philip Slate, o grande falhanço da sua carreira.

Mas Philip pode ser um falhanço humano, mas não o é em termos profissionais e decide fazer um trade-off com o seu antigo psicoterapeuta: a troco da sua participação em sessões de terapia grupais, Julius aceitaria ser seu supervisor e conceder-lhe um parecer que lhe permita obter uma credencial como terapeuta filosófico.

A história evolui em torno das sessões de grupo intercaladas com pensamentos e notas biográficas de Schopenhauer, verdadeiro auxiliar de Philip no seu encontro consigo próprio.

Encabeçados por pensamentos e aforismos de Schopenhauer, os capítulos desenvolvem-se de forma simples, pouco emotiva e algo previsível, onde o questionamento sobre o relacionamento eu-tu, assume o protagonismo. Quantas vezes somos pelo que pensamos que o outro quer? Quantas vezes nos anulamos devido à insegurança e à nossa incapacidade de darmos os nossos passos e não os passos que os outros nos destinam?

Schopenhauer foi uma pessoa mesquinha, irrascível e egoísta, que dedicou grande parte da sua reflexão aos impulsos interiores do homem que o tornam um ser problemático e infeliz. Ao longo da vida isolou-se dos outros por considerar que o afastavam do seu génio e propósito, turvando-lhe o entendimento. A ele devemos os estudos sobre o inconsciente de Freud e os seguintes pensamentos:

Sobre a vida:

a) Uma vida feliz é impossível. O máximo que se pode ter é uma vida heróica.

b) Se olharmos a vida nos seu pequenos detalhes, tudo parece muito ridículo.

c) Uma pessoa de raros dons intelectuais, obrigada a fazer um trabalho apenas útil, é como um jarro valioso, com as mais lindas pinturas, usado como pote de cozinha.

d) As grandes dores fazem com que as menores sejam mal sentidas e, na falta das grandes, até o menor desgosto nos atormenta.

e) Na infância, o aparelho sexual ainda está inactivo, enquanto o cérebro funciona plenamente; por isso, essa é a época da inocência e da felicidade, o paraíso perdido do qual sentimos falta pelo resto da vida.

f) Não há rosas sem espinhos, mas há muitos espinhos sem rosas.

g) A vida pode ser comparada a um bordado que no começo da vida vemos pelo lado direito e, no final, pelo avesso. O avesso não é tão bonito, mas é mais esclarecedor, pois deixa ver como são dados os pontos.

h) O apego excessivo aos bens materiais, às pessoas, ou até a si mesmo é a maior causa de sofrimento.

Sobre a relação com os outros:

i) Eu jamais tive prazer na companhia dos outros, nas parvoíces que dizem, nas exigências que fazem, nos seus esforços insignificantes e efémeros. As suas vidas sem sentido são um aborrecimento e um obstáculo para a minha comunhão com os inúmeros grandes pensadores do mundo com algo importante a dizer.

j) A flor respondeu: - Tolo! Imaginas que abro as minhas pétalas para que as vejam? Eu desabrocho para mim própria porque isso me agrada, e não para agradar aos outros. A minha alegria consiste no meu ser e no meu desabrochar.

k) Feliz é o homem que consegue evitar a maioria dos seus semelhantes.

l) A primeira regra para não ser um brinquedo nas mãos de qualquer velhaco, nem ridicularizado por qualquer imbecil, é manter-se reservado e distante.

m) Poucas coisas deixam as pessoas tão satisfeitas como ouvir algum problema ou constatar alguma fraqueza em ti.

n) A única maneira de um homem se manter superior aos outros é mostrar que não depende deles.

Para Schopenhauer, viver é sofrer. E este pensamento seria eternizado por outros escritores e filósofos.

Nenhuma pena pode escrever nada de eterno, se não for mergulhada na tinta das trevas (Chapman)