11 dezembro 2009

My Sister's Keeper


Um retrato doloroso, muitas decisões difíceis, um questionamento que permanece para além do filme, para além do livro que o inspirou.


Os Fitzgerald são uma família como tantas outras e têm dois filhos, Jesse e Kate. Quando Kate chega aos dois anos de idade é-lhe diagnosticada uma forma grave de leucemia. Os pais resolvem então ter outro bebé, Anna, geneticamente seleccionada para ser uma dadora perfeitamente compatível para a irmã. Desde o nascimento até à adolescência, Anna tem de sofrer inúmeros tratamentos médicos, invasivos e perigosos, para fornecer sangue, medula óssea e outros tecidos para salvar a vida da irmã mais velha. Toda a família sofre com a doença de Kate. Agora, ela precisa de um rim e Anna resolve instaurar um processo legal para requerer a emancipação médica e assim poder tomar decisões sobre o seu corpo.

Sara, a mãe, é advogada e resolve representar a filha mais velha neste julgamento. Em Para a Minha Irmã muitas questões complexas são levantadas: Anna tem obrigação de arriscar a própria vida para salvar a irmã? Os pais têm o direito de tomar decisões quanto ao papel de dadora de Anna? (sinopse do livro).




O que a sinopse não diz é que é Kate, depois de passar anos a lutar contra a doença e a sentir o sofrimento da família, que pede à irmã para parar de a salvar. Kate sente que chegou a hora, já não suporta mais a doença, as recaídas, a vida em suspenso da família que abdica de si para lhe proporcionar o sopro de vida, pois nem uma vida é.

Neste processo, Jesse «perde-se» desiste da escola e move-se como invisível pela casa. Anna não pode ser uma adolescente normal. O pai vive em constante sobressalto à espera do telefonema que o tem de levar de novo ao hospital. A mãe desiste da profissão e dedica-se inteiramente aos cuidados com a saúde da filha. E até a tia passa a ter um trabalho em part-time para ajudar a família.

Kate vive rodeada de atenções para sobreviver, mas que sobrevivência é esta?

O filme representa a problemática da manipulação genética para a criação de um substituto. Anna é apenas concebida para doar partes do seu corpo nos tratamentos da irmã, desde o nascimento. Que doença é esta que obriga os pais a optar por um dos filhos?

Jodi Picoult escreveu, Nick Cassavettes realizou, com interpretações de: Abigail Breslin (Nim’s Island), Sofia Vassilieva, Evan Elligson, Jason Patric, Cameron Diaz, Alec Baldwin.

06 dezembro 2009

Pedro Barroso (40 anos)

Poucos conhecem, eu talvez não devesse conhecer. Acontece que também sou ribatejana, passei pela rádio local, movi-me entre «alternativos». Se alguma coisa fica dos tempos de Tomar, uma delas é concerteza Pedro Barroso.
Artista da liberdade - tanta que grava e compõe em estúdio próprio ali para as bandas dos Riachos - canta hinos à portugalidade, onde mistura a literatura portuguesa, com folclore e instrumentos populares. Do trinar pungente da guitarra, à melancolia das teclas do piano, passando pela pena das palavras, Pedro Barroso é um cantautor (ou «último trovador português») cuja importância em Portugal passa infelizmente despercebida... pouco marketing, pouco show-off, pouco conformismo...

O CD Sensual Idade (2008) e o DVD «Pedro Barroso - 40 anos de músicas e palavras» assinalam os 40 anos de carreira igualmente marcados por um grande concerto no Teatro S. Luiz em Lisboa.

A minha favorita de sempre:





A entrevista ao TOP + aqui.


Outra pérola (o hino à mulher do novo álbum):




Bonita (homenagem «à gente de verdade»)




Companheira




Cartas a Portugal (à imigração, à distância... a este GRANDE PAÍS! A esta ÚNICA NAÇÃO)




Facturas do Futuro





[é melhor ficar por aqui senão coloco tudo e um par de botas... Pedro Barroso: PARABÉNS e OBRIGADA amigo português!]

02 dezembro 2009

Lady in the Water


As críticas ao filme de M. Night Shyamalan foram avassaladoras, tendo Lady in the water sido considerado o pior filme de 2006. Contudo, parece-me que os senhores críticos de cinema habituados a «mediocridade disfarçada em efeitos especiais» e pouco receptivos à «concorrência ao produto global» se esqueceram de ver efectivamente o filme.

O realizador afirma que baseou o argumento numa história de encantar que contava aos filhos para prevenir o encanto que os mesmos tinham pela piscina. Ou seja, usava uma história do tipo «bicho papão» para educar os filhos. Os críticos pegaram nisso e ridicularizaram o trabalho de um dos mais inovadores e geniais realizadores estrangeiros em Hollywood. Além isso, também não lhe perdoaram o facto de o senhor integrar o elenco como um visionário que denuncia vícios da liderança global e invoca a necessidade de tolerância cultural para garantir o futuro e a prosperidade das gerações seguintes. Pois é, o líder inspirado não pode ser um «simples indiano», falhado que vive com a irmã... tem de ser, no mínimo, americano.


Mas vamos à história e ao simbolismo que eu gosto de lhe encontrar.

O cenário é Cove, um condomínio com piscina em Philadelphia cujo responsável da manutenção é Cleveland Heep (Paul Giamatti), um antigo médico marcado pela perda da família num assalto brutal, que se culpa por não os ter salvo. Portanto, um homem que «deixa de viver» devido à perda, à falta de coragem para continuar e que prefere reduzir-se à sua insignificância.
Mas é precisamente este homem, abnegado que serve os outros, que vai encontrar Story (a História, a tradição), uma narf (ninfa das águas - entidade pagã) que vive na piscina do condomínio e que precisa de ajuda para cumprir a sua missão.
É o homem que «tudo perdeu» que se predispõe a ouvir, ao contrário dos que querem ganhar tudo e se esqueceram como se ouve (plot inicial do filme onde a história de encantar começa).

Story precisa de encontrar o seu vessel (o receptáculo da sua mensagem), isto é, um escritor cuja ideias sobre o mundo irão salvar o futuro e mudar o curso da história. O encontro é necessário por dois motivos: Story necessita de regressar ao seu mundo e para isso necessita de transmitir a sua mensagem ao vessel e além disso precisa que seja reunido um conjunto de intervenientes para que a Great Eatlon (águia, símbolo de poder e de São João, o Evangelista) a venha buscar para o Blue World (como se chama a Terra vista do espaço, sem estar atacada pela poluição?).
Este conjunto de pessoas são:
. Guardian (o guerreiro, a força): o indivíduo que consegue dominar o demónio scrunts que impede Story de «ascender» e que pretende matá-la para impedir a concretização da sua missão;
. Healer (o Mago): quem pode curar as feridas de Story, com a ajuda da lama kii;
. Symbolist (sabedoria dos iniciados): quem interpreta os sinais e a estratégia de ajuda a Story;
. Guild (a confraternidade): o grémio que facilita a distracção de scrunts;
. As sete irmãs (sete são as Pleiades, sete são as Hesperides, sete são as virgens prometidas aos muçulmano): para a cerimónia da energia do amor que cura.

A juntar a estes intervenientes existem ainda os terríveis Tarturic, responsáveis pela justiça e pela observância das regras do Blue World, que deveriam punir scrunts por atacar Story de forma traiçoeira e não conforme as normas.

Toda a história gira em torno de uma mensageira que vem anunciar a mudança, o que desagrada ao poder instituído. Além disso, faz a apologia do amor, da energia positiva, do serviço ao outro, apresentando um herói colectivo repleto de humanos demasiado humanos (isto é, cheios de inseguranças e defeitos) que mesmo assim podem fazer a diferença. Este colectivismo é completamente antagónico ao individualismo e ao sistema star-system americano. Todos querem 15 minutos de fama mas sozinhos, nunca partilhando os louros.

Por outro lado, os intervenientes são de raças, etnias e estilos de vida diversificados (desde das emigrantes chinesas e indianos, à numerosa família americana, ao herói de guerra isolado, à reformada, ao crítico de cinema) com papéis distintos no desenrolar da trama.

Finalmente, toda a história é impregnada de símbolos tradicionais, inspirados na mitologia e só compreendidos a quem estiver disponível para olhar mais longe.

29 novembro 2009

Live with me







It don't matter, when you turn
Gonna Survive, you live and learn
I've been thinking about you, baby

By the light of dawn,
A midnight blue ... day and night ... I've been missing you.
I've been thinking about you, baby.
Almost makes me crazy,
Come and live with me.


Either way, Win or Lose,
When you're born into trouble,
You live the blues,
I've been thinking about you, baby.
See it almost makes me crazy

Times, Nothing's right, if you ain't here
I'll give all that I have, just to keep you near
I wrote you a letter, I tried to, make it clear
You just don't believe that i'm sincere
I've been thinking about you, baby.

Plans and schemes, hopes and fears
Dreams that deny, for all these years
I, I've been thinking about you, baby
Living with me, wow

I've been thinking about you, baby
Makes me wanna
Yeah, yeah, yeah

Times, Nothing's right, if you ain't here
I'll give all that I have, just to keep you near
I wrote you a letter, darling, tried to make it clear,
But you just don't believe that I'm sincere

I've been thinking about you, baby
I want you to live with me, wow


[o original é dos Massive Attack, mas ando sem paciência para trip-tónica...]

22 novembro 2009

Statlemate

A britânica Joss Stone está de regresso. Infelizmente também caiu na tentação electrónica-hip hop que afecta o pop actual. Mantém, no entanto em várias faixas, a influência R&B evidenciando o potencial da voz que por vezes esconde. Deve ter passado por grandes desgostos amorosos ou então regressa à velha máxima: a desgraça venda!!! (terá sido por isso que a editora EMI foi adiando, adiando o lançamento?)


A minha favorita (bem pop) com Jamie Hartman (dos Bens Brothers). Apesar de preferir a sonoridade blues, não resisto a um bom impasse amoroso (LOL).


20 novembro 2009

District 9

Andei a adiar ver o novo do Peter Jackson (Senhor dos Anéis), porque o trailler assustava-me um pouco: convivência com aliens não é propriamente o meu sonho. Ainda por cima a representação dos mesmos lembrava-me os Blasted Mechanism.

Acabei por ter uma grande surpresa. Porque afinal os aliens, não eram assim tão aliens e qualquer semelhança entre a Multi-National United (MNU) e as UN não é pura coincidência. Existe a tendência para colocar o debate sobre o filme na disputa humano - não humano, contudo, por várias vezes se percebe a confusão dos papéis se enveredarmos pela questão moral.

Além disso, a estrutura do filme - abre com um documentário composto por uma série de entrevistas a especialistas e intervenientes que apresentam e comentam a situação criada e o seu desenvolvimento - anuncia os paralelismos entre aquilo que hoje chamamos realidade e que não passa de uma representação televisiva.


Em termos de história temos o relato da chegada de uma nave espacial em 1990 à região de Joanesburgo (África do Sul) e a confinação dos aliens (chamados Prawns - camarões) a um ghetto (qualquer semelhança com discriminação também não é coincidência). Ora a esse ghetto - chamado District 9 - também chegam os restantes marginalizados da sociedade, criando um clima de grande instabilidade, redes de tráfico de droga (e comida de gato) e de armas alienígenas.

Ora por volta de 2010, a situação do District 9 ultrapassa o controlo humano e a MNU é contratada para: descobrir como controlar as armas dos aliens e dominar a tecnologia da mesma. Ora quando descobrem que as mesmas só podem ser usadas em conjunto com a biologia alienígena infectam o pobre e tolo Wikus van der Merwe (Sharlto Copley).

Wikus começa então a transformar-se lentamente num híbrido e numa cobaia de laboratório pois a transformação do seu ADN num ADN alienígena permite-lhe operar com as armas tão desejadas pelos chamados humanos. É então que os cientistas decidem dissecá-lo para estudos laboratoriais. Wikus consegue escapar e refugia-se no District 9 junto de Christopher Johnson, um Prawn que lhe promete ajuda na reversão do processo de mutação em troca de ajuda para regressar à sua nave mãe e quiçá ao seu mundo.

A relação de Wikus com Christopher e todas as manobras para conseguir o objectivo de um e outro passam pelo confronto directo e bélico quer com a MNU quer com os gangs do District 9. Depois de várias peripécias, Christopher acaba por embarcar na nave mãe e partir com o filho em busca de ajuda para Wikus e para o povo deixado agora num novo guetto: o District 10.

O destino de Wikus permanece uma icógnita: aprisionado pela MNU para mais experiências, morto pelos gangs, pelos aliens ou simplesmente mais um Prawn entre os restantes.

14 novembro 2009

Utopia

Foi lançado em finais de Outubro o novo álbum dos holandeses Within Temptation - «An Acoustic Night at the Theatre». Infelizmente é mais do mesmo, isto é, apenas 1 música nova e antigos sucessos com nova interpretação (acústica).

"Utopia" surge interpretada por Sharon Den Adel com participação especial de Chris Jones, um ilustre desconhecido que foi descoberto pelo DJ Shah no MySpace, escreveu o hit "Going Wrong" e participou na última turnée de Armin van Buuren. Agora iniciou um novo projecto intitulado SellaBand (http://www.sellaband.com/chrisjones).



Utopia (letra)

The burning desire
To live and roam free
It shines in the dark
And it grows within me

You're holding my hand but you don't understand
So where I am going, you wont be in the end
I'm dreaming in colors
Of getting the chance
Of dreaming of trying the perfect romance

The search of the door, to open your mind
In search of the cure of mankind
Help us were drowning
So close up inside

Why does it rain, rain, rain down on utopia?
Why does it have to kill the ideal of who we are?
Why does it rain, rain, rain down on utopia?
How will the lights die down, telling us who we are?

I'm searching for Answers, not given for free
Your hurting inside, is there life within me?

You're holding my hand but you don't understand
So you're taking the road all alone in the end
I'm dreaming in colors, no boundaries are there

I'm dreaming the dream, and I'll sing to share
In search of the door, to open your mind
In search of the cure of mankind
Help us were drowning
So close up inside

Why does it rain, rain, rain down on utopia
Why does it have to kill the ideal of who we are?
Why does it rain, rain, rain, down on utopia?
And when the lights die down, telling us who we are


06 novembro 2009

Corazón Salvaje - Eduardo Palomo




Pois é, quando recordamos alguma coisa nem sempre percebemos o porquê. Foi em 1993 ou 1994, em plena guerra da adolescência que a RTP transmitiu a telenovela mexicana Corazón Salvaje. Naquela altura pouco mais havia, mas o certo é que havia um índio muito parecido com o Buck dos Young Riders e era um selvagem bruto, obstinado, apaixonado e lindo de morrer. Na altura vivi aquela novela como se fosse uma das personagens, mas nem me lembrava hoje do nome delas. Ao procurar mais informação - hoje porque me recordei - deparei-me com homenagens ao belo Eduardo Palomo, com datas de aniversário da morte e ía caíndo para o lado. Queria eu procurar mais trabalhos dele... pois é... vídeoclips com homenagens póstumas que reunem fotos lindas que me recordam a adolescência e os suspiros que dei.

A 6 de Novembro de 2003, num restaurante argentino de Los Angels, acompanhado pela mulher e por amigos, caiu fulminado por um ataque cardíaco... com 41 anos.





Faz hoje 6 anos! Até já Eduardo Palomo.

26 outubro 2009

Rodrigo Leão




Com o vocalista irlandês dos Divine Comedy.




Com Lula Pena.




Com Rosa Passos.





Com Stuart Staples (Tindersticks) - e já agora: imagens FABULOSAS!



[melancólico, profundo, sentimental... não sei. Só sei que não consigo ficar indiferente]

16 outubro 2009

Looking for Paradise

Everybody say oh oh oh oh

Driving in a fast car
Trying to get somewhere
Don´t know where I´m going
But i gotta get there

A veces me siento perdido
Inquieto, solo y confundido
Entonces me ato a las estrellas
Y al mundo entero le doy vueltas

I'm singing for somebody like you
Sorta like me baby
Yo canto para alguien como tú
Pon la oreja, nena

Oh oh oh oh…

Estoy buscando ese momento
La música, que cuando llega
Me llena con su sentimiento
Con sentimiento, vida llena

Walking down the sideway
Looking for innocence
Trying to find my way
Trying to make some sense

Yo canto para alguien como tú
Sólo como tú, baby

I'm singing for somebody like you
What about you

I'm singing for someone
Someone like you
Tú, dime a quién le cantas
'Cause there's something about you there
Speaks to my heart
Speaks to my soul

I'm singing for someone
Sorta like you
Yo canto para alguien
Someone like you, someone like me
Sólo como tú, oh, my sister
Todo el mundo va buscando ese lugar
Looking for paradise

Oh oh oh oh…

A ese corazón herido
La música le da sentido
Te damos con la voz tus alas
Le damos a tus pies camino

Oh is anybody out there
Feel like i feel
Trying to find a better way
So we can heal

I'm singing for somebody like you
Sorta like me baby
Yo canto para alguien como tú
Sólo como tú
What about you?

Yo canto para ti
I'm singing for someone
Yo canto para alguien
'Cause there's something about you there
Speaks to my heart
Speaks to my soul

I'm singing for someone
I'm singing
Sorta like you
Yo canto para alguien
Someone like you, someone like me
Sólo como tú, oh, my sister
Todo el mundo va buscando ese lugar
Looking for paradise


[uma mistura inesperada
, mas eu já tinha saudades do Alexandre (mesmo depois da vergonha do Rock in Rio)]

20 setembro 2009

Terminator: Salvation (2009)

No ano pós-apocalíptico de 2018, John Connor é o líder da Resistência contra a Skynet e o seu batalhão de Terminadores cuja missão é exterminar a humanidade. Na luta entre homens e máquinas, um (falso) profeta imerge para guiar o que resta de uma humanidade derrotada, assustada e esfomeada.
No entanto, o futuro da humanidade em que Connor acreditava é assombrado pelo aparecimento de Marcus Wright, um estranho sem memória, cuja exposição a uma mina revela a sua verdadeira natureza: cyborg. Concebido como o único da sua espécie, Marcus é um infiltrado cuja missão era eliminar John Connor, contudo, o coração e o cérebro humano, parcialmente amnésico, levam à predominância da sua moralidade humana. Graças a essa moralidade, Marcus alia-se a Connor numa batalha decisiva para aniquilar, por agora, os planos da Skynet.

Protagonizado por Christian Bale e Sam Worthington, com a participação de Helena Bonham Carter (Dr. Serena Kogan) e Bryce Dallas Howard (Kate Connor).

A luta entre o homem e a máquina, a distinção cada vez mais difícil face à crescente hibridização do ser humano, cada vez mais destituído de princípios morais e dependente de aparelhos tecnológicos para viver.

Main quote (John Connor):
What is it that makes us human?
It's not something you can program.
You can't put it into a chip.
It's the strength of the human heart.
The difference between us and machines.

15 setembro 2009

Patrick Swayze [1952-2009]




She's like the wind

She's like the wind through my tree
She rides the night next to me
She leads me through moonlight
Only to burn me with the sun
She's taken my heart
But she doesn't know what she's done

Feel her breath on my face
Her body close to me
Can't look in her eyes
She's out of my league
Just a fool to believe
I have anything she needs
She's like the wind

I look in the mirror and all I see
Is a young old man with only a dream
Am I just fooling myself
That she'll stop the pain
Living without her
I'd go insane

Feel her breath on my face
Her body close to me
Can't look in her eyes
She's out of my league
Just a fool to believe
I have anything she needs
She's like the wind

Feel your breath on my face
Your body close to me
Can't look in your eyes
You're out of my league
Just a fool to believe
(Just a fool to believe)
She's like the wind


[sim sou geração Dirty Dancing, aquela geração que brincava na rua, via desenhos animados e novelas mexicanas. Aquela geração que gostava de histórias simples e de finais felizes em que todos riam e dançavam, em que os beijos apaixonados demoravam a ser dados pela necessidade de cumprir um ritual. Daquela geração que chora quando percebe que a finitude humana pode ser demasiado dolorosa e breve. Até já Patrick!]

a vida é um sopro, uma lágrima que já secou...

14 setembro 2009

La cité des enfants perdus (1995)

Sim, mais um filme surrealista, da escola de Jean-Pierre Jeunet [Le fabuleux destin d'Amélie Poulain (2001), Alien Ressurection (1997), Un long dimanche de fiançailles (2004)].

Neste caso encontramos Krank (malogrado Daniel Emilfork desaparecido em 2006), um cientista fruto de uma clonagem mal sucedida que envelhece rapidamente e que rouba crianças, para as submeter a um processo alquímico de supressão dos sonhos. Mas as crianças só têm pesadelos pois têm medo dele e Krank só consegue aceder aos mesmos o que frustra o seu plano. Isto até ao dia em que conhece Denrée, o petit frère de One (Ron Perelman - sim o Helboy), criança esfomeada e desinibida que não tem medo de Krank.

Mas para roubar os sonhos de Denrée, Krank precisa de enfrentar a sabotagem de Irvin, um cérebro num aquário e dos seus 6 clones. Assim como, os planos da pequena Miette que auxilia One depois de escapar à "escola" do "Polvo", duas irmãs siamesas que exploram crianças órfãs para fins criminosos. Um outro elemento crucial da história é Marcello e as suas pulgas amestradas que acabam por ser os responsaveis por matar «o polvo». Finalmente, uma nota para os Cyclops, criminosos cegos com um olho tecnológico que lhes permite ter acesso ao mundo das sensações e raptarem as crianças para entregarem a Krank. Os híbridos do filme, que tanto enaltece o sonho e o imaginário - «os bons»- como a tecnologia e a cibercultura (clones, híbridos, laboratórios e tubos de ensaio - «os maus».

Às personagens especiais - eu comecei por dizer que é um filme surrealista - juntam-se os efeitos especiais, imprevisíveis no cinema europeu, mas elas lá estão e são bem hilariantes.

«Na altura do seu lançamento referiu-se que «A Cidade das Crianças Perdidas» competia com «Jurassic Park» (1993) no número de efeitos especiais por plano. De acordo com as notas de produção existem 192 planos de efeitos especiais, totalizando 23 minutos, dos quais 5 são constituídos por animação tridimensional (objectos criados do "nada"), onde se inclui a sequência da lágrima, o sonho final e os impressionantes actos de sabotagem humana por parte das pulgas.» [fonte: http://www.cinedie.com/enfants_perdus.htm]

Um filme a não perder, referência no panorama cultural europeu... e muito melhor que Jurassic Park (desculpem a óbvia preferência). Com apenas 1 actor estrangeiro (Ron Perelman), os restantes são franceses [LOL].


09 setembro 2009

Wings of Desire [Der Himmel über Berlin - 1987]

Song of Childhood
By Peter Handke

When the child was a child
It walked with its arms swinging,
wanted the brook to be a river,
the river to be a torrent,
and this puddle to be the sea.

When the child was a child,
it didn’t know that it was a child,
everything was soulful,
and all souls were one.

When the child was a child,
it had no opinion about anything,
had no habits,
it often sat cross-legged,
took off running,
had a cowlick in its hair,
and made no faces when photographed.

When the child was a child,
It was the time for these questions:
Why am I me, and why not you?
Why am I here, and why not there?
When did time begin, and where does space end?
Is life under the sun not just a dream?
Is what I see and hear and smell
not just an illusion of a world before the world?
Given the facts of evil and people.
does evil really exist?
How can it be that I, who I am,
didn’t exist before I came to be,
and that, someday, I, who I am,
will no longer be who I am?

When the child was a child,
It choked on spinach, on peas, on rice pudding,
and on steamed cauliflower,
and eats all of those now, and not just because it has to.

When the child was a child,
it awoke once in a strange bed,
and now does so again and again.
Many people, then, seemed beautiful,
and now only a few do, by sheer luck.

It had visualized a clear image of Paradise,
and now can at most guess,
could not conceive of nothingness,
and shudders today at the thought.

When the child was a child,
It played with enthusiasm,
and, now, has just as much excitement as then,
but only when it concerns its work.

When the child was a child,
It was enough for it to eat an apple, … bread,
And so it is even now.

When the child was a child,
Berries filled its hand as only berries do,
and do even now,
Fresh walnuts made its tongue raw,
and do even now,
it had, on every mountaintop,
the longing for a higher mountain yet,
and in every city,
the longing for an even greater city,
and that is still so,
It reached for cherries in topmost branches of trees
with an elation it still has today,
has a shyness in front of strangers,
and has that even now.
It awaited the first snow,
And waits that way even now.

When the child was a child,
It threw a stick like a lance against a tree,
And it quivers there still today.

http://www.wim-wenders.com/movies/movies_spec/wingsofdesire/wingsofdesire.htm



Filme do alemão Wim Wenders que antecede a queda do muro de Berlim. O realizador apresenta um argumento tipicamente pós-moderno, com a alternância de planos e cenários unidos pelo deambular de dois anjos (Damiel e Casiel) pela cidade de Berlim ouvindo os pensamentos, sentimentos, angústias, mas acima de tudo, medos de diversas personagens: uma mulher grávida, um pintor, um homem destroçado, uma trapezista (Marion), os empregados de um circo, um realizador de cinema e a sua equipa e um homem idoso que procura um espaço concreto associado ao seu passado e ao da cidade de Berlim.
Todos os pensamentos e acção são acompanhados pela poesia de Rilke e pelos planos a preto e branco que representam o mundo aos olhos dos anjos, contudo quando Damiel decide «cair» para se unir ao amor de Marion, os planos passam a ser representados como se fossem vistos por humanos e, portanto, a cores.

um filme minimalista, cru e antitético, com uma realização, no mínimo, rizomática.

03 setembro 2009

BENELUX trip (III)

Bruges (Bélgica)

Bruxelas (Arc du Triomphe) - nós? imitar Paris? nada disso...

Gent (Bélgica)

Bruxelas (Sacré-Coeur) - Paris? modelo? não...

Antuérpia (Bélgica)


O espaço é pouco... mas a Bélgica é fenomenal! Bruges é indescritível...

02 setembro 2009

BENELUX trip (II)

Volendam (Holanda)

Amsterdão

Marken (Holanda)


Red Light District (Amsterdão)


Decadente? O país: nada; o interior: nada mesmo. A cidade de Amsterdão: não! As pessoas em Amsterdão: talvez...

BENELUX trip

Roterdão (Holanda) - a partir da Torre Euromast

Colónia (Alemanha) - era uma vez Três Reis Magos que agora estão nesta caixa (que herege =)


Margens do Reno (algures entre Estrasburgo e Kobleinz - GR)

Estrasburgo (França)


Luxemburgo


Sim, é verdade: cada vez demoro mais a fazer balanços. Demoro tanto que quando me lembro dos fazer já não me lembro do que tinha para dizer sobre a viagem de verão pela BENELUX, Alsácia e Reno. Novos países, de arquitectura muito semelhante, de gentes diferentes ou autênticos desertos (continuo sem perceber o Luxemburgo num domingo à tarde). Uma Holanda antitética e surpreendente... que bem que se vive fora das cidades... uma Bélgica a repetir!

Mas as viagens são sempre uma oportunidade para sentir saudades do meu país e querer voltar, como um carregar de baterias para aguentar mais uns meses. Este ano, feliz ou infelizmente, menos meses que o habitual... em breve vou ter um «tête-à-tête» com Mr Vlad Tepes, que é como diz o povo: Dráculea...

14 agosto 2009

Ghost in the Shell (1995)




Ghost in the Shell (1995) realizado por Mamoru Oshii e baseado na manga de Shirow Masamune. Em Ghost in the Shell assistimos à problematização sobre a existência da alma ou consicência humana (ghost) encerrada num corpo cibernético – cyborg – (shell) e dotado de uma inteligência e de uma memória que poderiam ser originais da vida humana ou simplesmente gravados a partir da rede e de acordo com as necessidades das elites dominantes. Neste filme, assistimos então à luta da protagonista para descobrir a verdadeira natureza do seu ghost e a sua perseguição ao Puppet Master, entidade viva criada no espectro da informação e que se tornara hacker da rede adulterando os diferentes ghosts.

28 julho 2009

Beautiful Disaster

She loves her mama's lemonade,
Hates the sound that goodbyes make.
She prays one day she'll find someone to need her.
She swears that there's no difference,
Between the lies and compliments.
It's all the same if everybody leaves her.

And every magazine tells her she's not good enough,
The pictures that she's seen make her cry.

And she would change everything, everything just ask her.
Caught in the in-between, a beautiful disaster,
And she just needs someone to take her home.

She's giving boys what they want, tries to act so nonchalant,
Afraid they'll see that she's lost her direction.
She never stays the same for long,
Assuming that she'll get it wrong.
Perfect only in her imperfections.

She's not a drama queen,
She doesn't want to feel this way, only seventeen, but tired

She would change everything for happy ever after.
Caught in the in between, a beautiful disaster,
But she just needs someone to take her home.

'Cause she's just the way she is, but no ones told her that's OK.

And she would change everything, everything just ask her.
Caught in the in-between, a beautiful disaster,

And she would change everything for happy ever after.
Caught in the in-between, a beautiful disaster,

But she just needs someone to take her home
And she just needs someone to take her home.


[pois é, agora já há um nome: um belo desastre... o Jon Mclaughlin é que não é desastre nenhum]

22 julho 2009

Ups... pensar ou não pensar!

Segunda-feira passada, a meio da tarde, faço a A-6, em direcção a Espanha e na companhia de uma amiga estrangeira; quarta-feira de manhã, refaço o mesmo percurso, em sentido inverso, rumo a Lisboa. Tanto para lá como para cá, é uma auto-estrada luxuosa e fantasma. Em contrapartida, numa breve incursão pela estrada nacional, entre Arraiolos e Borba, vamos encontrar um trânsito cerrado, composto esmagadoramente por camiões de mercadorias espanhóis. Vinda de um país onde as auto-estradas estão sempre cheias, ela está espantada com o que vê:

- É sempre assim, esta auto-estrada?

- Assim, como?

- Deserta, magnífica, sem trânsito?

- É, é sempre assim.

- Todos os dias?

- Todos, menos ao domingo, que sempre tem mais gente.

- Mas, se não há trânsito, porque a fizeram?

- Porque havia dinheiro para gastar dos Fundos Europeus, e porque diziam que o desenvolvimento era isto.

- E têm mais auto-estradas destas?

- Várias e ainda temos outras em construção: só de Lisboa para o Porto, vamos ficar com três. Entre S. Paulo e o Rio de Janeiro, por exemplo, não há nenhuma: só uns quilómetros à saída de S. Paulo e outros à chegada ao Rio. Nós vamos ter três entre o Porto e Lisboa: é a aposta no automóvel, na poupança de energia, nos acordos de Quioto, etc. - respondi, rindo-me.

- E, já agora, porque é que a auto-estrada está deserta e a estrada nacional está cheia de camiões?

- Porque assim não pagam portagem.

- E porque são quase todos espanhóis?

- Vêm trazer-nos comida.

- Mas vocês não têm agricultura?

- Não: a Europa paga-nos para não ter. E os nossos agricultores dizem que produzir não é rentável.

- Mas para os espanhóis é?

- Pelos vistos...

Ela ficou a pensar um pouco e voltou à carga:

- Mas porque não investem antes no comboio?

- Investimos, mas não resultou.

- Não resultou, como?

- Houve aí uns experts que gastaram uma fortuna a modernizar a linha Lisboa-Porto, com comboios pendulares e tudo, mas não resultou.

- Mas porquê?

- Olha, é assim: a maior parte do tempo, o comboio não 'pendula'; e, quando 'pendula', enjoa de morte. Não há sinal de telemóvel nem Internet, não há restaurante, há apenas um bar infecto e, de facto, o único sinal de 'modernidade' foi proibirem de fumar em qualquer espaço do comboio. Por isso, as pessoas preferem ir de carro e a companhia ferroviária do Estado perde centenas de milhões todos os anos.

- E gastaram nisso uma fortuna?

- Gastámos. E a única coisa que se conseguiu foi tirar 25 minutos às três horas e meia que demorava a viagem há cinquenta anos...

- Estás a brincar comigo!

- Não, estou a falar a sério!

- E o que fizeram a esses incompetentes?

- Nada. Ou melhor, agora vão dar-lhes uma nova oportunidade, que é encherem o país de TGV: Porto-Lisboa, Porto-Vigo, Madrid-Lisboa... e ainda há umas ameaças de fazerem outro no Algarve e outro no Centro.

- Mas que tamanho tem Portugal, de cima a baixo?

- Do ponto mais a norte ao ponto mais a sul, 561 km.

Ela ficou a olhar para mim, sem saber se era para acreditar ou não.

- Mas, ao menos, o TGV vai directo de Lisboa ao Porto?

- Não, pára em várias estações: de cima para baixo e se a memória não me falha, pára em Aveiro, para os compensar por não arrancarmos já com o TGV deles para Salamanca; depois, pára em Coimbra para não ofender o prof. Vital Moreira, que é muito importante lá; a seguir, pára numa aldeia chamada Ota, para os compensar por não terem feito lá o novo aeroporto de Lisboa; depois, pára em Alcochete, a sul de Lisboa, onde ficará o futuro aeroporto; e, finalmente, pára em Lisboa, em duas estações.

- Como: então o TGV vem do Norte, ultrapassa Lisboa pelo sul, e depois volta para trás e entra em Lisboa?

- Isso mesmo.

- E como entra em Lisboa?

- Por uma nova ponte que vão fazer.

- Uma ponte ferroviária?

- E rodoviária também: vai trazer mais uns vinte ou trinta mil carros todos os dias para Lisboa.

- Mas isso é o caos, Lisboa já está congestionada de carros!

- Pois é.

- E, então?

- Então, nada. São os especialistas que decidiram assim.

Ela ficou pensativa outra vez. Manifestamente, o assunto estava a fasciná-la.

- E, desculpa lá, esse TGV para Madrid vai ter passageiros? Se a auto-estrada está deserta...

- Não, não vai ter.

- Não vai? Então, vai ser uma ruína!

- Não, é preciso distinguir: para as empresas que o vão construir e para os bancos que o vão capitalizar, vai ser um negócio fantástico! A exploração é que vai ser uma ruína - aliás, já admitida pelo Governo - porque, de facto, nem os especialistas conseguem encontrar passageiros que cheguem para o justificar.

- E quem paga os prejuízos da exploração: as empresas construtoras?

- Naaaão! Quem paga são os contribuintes! Aqui a regra é essa!

- E vocês não despedem o Governo?

- Talvez, mas não serve de muito: quem assinou os acordos para o TGV com Espanha foi a oposição, quando era governo...

- Que país o vosso! Mas qual é o argumento dos governos para fazerem um TGV que já sabem que vai perder dinheiro?

- Dizem que não podemos ficar fora da Rede Europeia de Alta Velocidade.

- O que é isso? Ir em TGV de Lisboa a Helsínquia?

- A Helsínquia, não, porque os países escandinavos não têm TGV.

- Como? Então, os países mais evoluídos da Europa não têm TGV e vocês têm de ter?

- É, dizem que assim entramos mais depressa na modernidade.

Fizemos mais uns quilómetros de deserto rodoviário de luxo, até que ela pareceu lembrar-se de qualquer coisa que tinha ficado para trás:

- E esse novo aeroporto de que falaste, é o quê?

- O novo aeroporto internacional de Lisboa, do lado de lá do rio e a uns 50 quilómetros de Lisboa.

- Mas vocês vão fechar este aeroporto que é um luxo, quase no centro da cidade, e fazer um novo?

- É isso mesmo. Dizem que este está saturado.

- Não me pareceu nada...

- Porque não está: cada vez tem menos voos e só este ano a TAP vai cancelar cerca de 20.000. O que está a crescer são os voos das low-cost, que, aliás, estão a liquidar a TAP.

- Mas, então, porque não fazem como se faz em todo o lado, que é deixar as companhias de linha no aeroporto principal e chutar as low-cost para um pequeno aeroporto de periferia? Não têm nenhum disponível?

- Temos vários. Mas os especialistas dizem que o novo aeroporto vai ser um hub ibérico, fazendo a trasfega de todos os voos da América do Sul para a Europa: um sucesso garantido.

- E tu acreditas nisso?

- Eu acredito em tudo e não acredito em nada. Olha ali ao fundo: sabes o que é aquilo?

- Um lago enorme! Extraordinário!

- Não: é a barragem de Alqueva, a maior da Europa.

- Ena! Deve produzir energia para meio país!

- Praticamente zero.

- A sério? Mas, ao menos, não vos faltará água para beber!

- A água não é potável: já vem contaminada de Espanha.

- Já não sei se estás a gozar comigo ou não, mas, se não serve para beber, serve para regar - ou nem isso?

- Servir, serve, mas vai demorar vinte ou mais anos até instalarem o perímetro de rega, porque, como te disse, aqui acredita-se que a agricultura não tem futuro: antes, porque não havia água; agora, porque há água a mais.

- Estás a dizer-me que fizeram a maior barragem da Europa e não serve para nada?

- Vai servir para regar campos de golfe e urbanizações turísticas, que é o que nós fazemos mais e melhor.

Apesar do sol de frente, impiedoso, ela tirou os óculos escuros e virou-se para me olhar bem de frente:

- Desculpa lá a última pergunta: vocês são doidos ou são ricos?

- Antes, éramos só doidos e fizemos algumas coisas notáveis por esse mundo fora; depois, disseram-nos que afinal éramos ricos e desatámos a fazer todas as asneiras possíveis cá dentro; em breve, voltaremos a ser pobres e enlouqueceremos de vez.

Ela voltou a colocar os óculos de sol e a recostar-se para trás no assento. E suspirou:

- Bem, uma coisa posso dizer: há poucos países tão agradáveis para viajar como Portugal! Olha-me só para esta auto-estrada sem ninguém!



Miguel Sousa Tavares
8:00 Segunda-feira, 29 de Jun de 2009, Expresso

13 julho 2009

António de Navarro

António de Albuquerque Labatt de Soutomaior Navarro de Andrade Navarro é um poeta português que nasceu em Vilar Seco, Nelas, em 1902, e faleceu em Lisboa em 1980.
Segundo Eugénio Lisboa, na Biblos, é um dos mais assíduos colaboradores da revista Presença, onde colaborou no primeiro número com o poema “O Braço do Arlequim”. O seu primeiro livro “Poemas de África” data de 1941.


Não conheço este poeta. Nunca tinha ouvido falar dele até me deparar com a Sebástica de Vítor Amaral de Oliveira. Foi aí que ouvi falar em «Guitarras de Madeira D'Asa» poema sebástico. Depois fui à procura, mas pouca gente conhece e existem muito poucos poemas disponíveis na Internet. Com excepção do artigo de Martim de Gouveia e Sousa, publicado na Revista de Arte e Crítica de Viseu e no blog http://aveazul.blogspot.com e de onde retiro este excerto:

Canto da ausência, do desenraizamento e da evocação, a poesia de António de Navarro é abundante de sensações musicais (“Onde a vida foi, fugitiva, / a forma inatingível, / a pura música cativa”) e cromáticas (“Onde o sol, de crista de oiro, / cantou, a sombra alaga / e alonga…”). Como se a carne fosse também distância…
Em 1971, António de Navarro publica Coração Insone, obra que contém obras anteriores e insere Vigília Distante. Acentua-se a linha sebástica e sacral (“- um lírio / de abismais / na minha de Dom Sebastião mão de gládio / e Espírito”), com reiterada visita ao magnetismo africano (“Na tarde, ai as tardes de África, / tão sequiosas de noite e calma!...”) e ao esoterismo místico (“Templário e longe, litúrgico, - tu que nasceste / ungido da água duma fonte secreta e mística.”), numa poesia lavada visceralmente por sangue revelador.

Guitarras em Madeira d’Asa (1974) é, como o defende Pinharanda Gomes, um livro profético-sapiencial, pleno da admonições e de reganhos épicos. Homenagem também a D. Sebastião e ao seu Aposentador-mor Francisco Navarro, é do Sacratíssimo Rei que importa falar, mergulhando-se, através do “mar da poesia”, na protologia do mito sebástico e na sua irradiação. Deflagram no universo univocal navarriano relâmpagos azulescentes (“falcões caçando azul”, “bebendo-se azul”, “centauro azul”…) que combatem o pensamento vulgar e afirmam, simbolicamente, um ideário monárquico alicerçado no curso vital pundonoroso (“Eu vi El-Rei chamar a noite / Com sua alma de guitarra luacenta…”).
Antes do fim, publica ainda António de Navarro a colectânea poética O Acordar do Bronze (1980), obra que sublima a pervivente ambiência marinha e a definitiva tergiversação da presença a Orpheu, encastoando a sua produção sob o signo da lusitanidade e do sofrimento:

Grandes águias dum verde transcendente
Evoca nas noites e nos sóis
De Sagres, evocando os teus e nossos heróis
E a nossa terra de heróis, o mar
E tua alma por eles te sagres,
Sagrando os sóis…

Olhando algum passado, muito custa, no sentido de Vyvyan Holland, concluir que uma das represálias mais sérias é a condenação ao silêncio, nomeadamente quando o caso se refere a um escritor invulgar como se o completo nome, António de Albuquerque Labatt de Sotto Mayor Navarro de Andrade, fosse o gelo e a desmesura, encostado pelos apodos do intelectualismo, do discursivismo, do retoricismo e do neobarroquismo.
António de Navarro, podendo sugerir, por um lado, uma certa confusão verbal ou até mesmo uma falta de domínio das palavras [20], é sempre um poeta historicamente dotado, proveniente que é da fibra orpheica [21] e do tempo da originalidade excêntrica. Navarro persegue a música e o sentido obscuro da natureza, muitas vezes se confundindo na demanda com explosões e redemoinhos verbais e outras tantas logrando, no dizer avisado de Casais Monteiro, “das mais belas expressões da poesia no nosso tempo” e “uma arquitectura que se aparenta à de Álvaro de Campos”[22]. Navarro como Casais Monteiro, Saul Dias e João Falco (Irene Lisboa) algo devem a Campos e a Almada.
Diferente e original, no entanto, há em Navarro um quid escutador à maneira de Sophia, diferente do nemesiano “poeta absorto”, que faz dele um escritor que sobrepõe a sua natureza à Natureza, aprofundando-se numa arte poética do pressentimento. Dividindo-se, segundo António Manuel Couto Viana (1994: 61), entre o “barroquismo pujante” e o “lirismo epigramático”, a poesia de António de Navarro entra pelos tímpanos.
Sem completude, a obra navarriana espera, na sua seiva torrencial, um olhar atento dos novos e bons leitores, aprofundando-se, por exemplo, a vertente surrealista que Natália Correia cavou, inserindo “Bacanal” na lei essencial dos estados alucinatórios.[23] Poesia do relâmpago e do instante indecifrável e extático, linfaticamente explosiva, para dentro ainda implode cada verso tantas vezes surpreendente. Não seria sequer difícil ou moroso antologiar um sem número de lugares maiores da nossa poesia nesses versos deslembrados[24]. E os melhores deles serão muitas vezes conseguimentos isolados que são a própria estrutura da “casa da poesia”, como este, que mostro, vindo do tempo do fim (“Cada vez mais as coisas sonham.”), em matriz profética que o tempo, acredito, haverá de coonestar. Abrem-se ainda, neste fio que desenrolo, o modo irónico associado à poesia de António de Navarro ou o seniano “dadaísmo inconsciente”[25], bem como a questionação e desconstrução poemáticas, linhas, aliás, entrevistas por Fernando Guimarães (2002). Decantam ainda no labirinto cerebral da crítica presencista as palavras cristalinas de Gaspar Simões que o dizem “poeta integral” (Simões, 1964: 340)[26] ou o asserto de António José Saraiva e Óscar Lopes que alude ao extravasamento dos “limites entre a consciência e a natureza” (Saraiva-Lopes, 1956: 934). Mas até quando?
Recolho a disseminação e dou de novo. António de Navarro é um caso de silêncio a resolver. Próximo, pela voz da crítica, do paroxismo e do delírio fantasista de Sá- -Carneiro[27] e de Almada, do mistério ocultista de Pessoa e de Ângelo de Lima[28], da técnica compositiva de Álvaro de Campos ou da sugestão transcendente de Pascoaes, há no Poeta um fio de transmissão que conduz sempre à “casa da poesia”.
Abrem-se, pois, novas portas e outros sentidos. O tempo do resgate vai chegar, começa a chegar. Sem vazio, a nossa presença é já a força da presença. Hoje e ontem, aqui.
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Poema XVI

Uma nota solta
De não sei que música
Vagueia flor em flor
Como abelha de som.

Não lhe sei a cor,
Não lhe sei o tom,
— Deve ser esquiva e nívea
E faltar com certeza

Ao compositor e poeta
Que sonhou a perfeição
E a beleza
Sem mácula, que lhe adoece
De a buscar o coração

Ah, se ela quisesse
Aninhar-se na minha alma!...


Mais poemas aqui

Eternidade viva

O cavalo branco galopa na noite e traz a lua enredada nas crinas
e de música e de tempo a vir
e a amazona que o cavalga veste de negro
e nua, musical e nua,
deixando a sua sombra gravada
na sombra dos espinheiros, coroados de flores e de espinhos,
nos tojos e silvas,
e no sono dos que dormem acordados,
e na alma síntese que enche o mundo,
brinca com uma estrela
toda feita de pirilampos,
maior que ela e igual à vida,
ao silêncio que vagueia, ensina
- que a luz nos olhos dum cego
é uma cegueira maior ainda,
uma cegueira assassina!

... Mas o cavalo branco que galopa na noite já traz a luz duma lua futura.

António de Navarro in Vértice nº 50 de Setembro de 1947