Quando não existe debate político, quando o jornalismo se reduz a um conjunto de fait divers, ou à repetição incessante e pouco profunda de "novelas" maniqueístas, a fuga para o campo cultural é inevitável. Afinal, os artistas são a consciência social e mesmo na cultura popular é possível encontrar inúmeras lições de vida e motivos de reflexão.
Nos últimos dias, o pretexto das férias, da necessidade de me actualizar em termos cinematográficos e literários levou-me ao multipremiado The Butler, filme biográfico de Cecil Gaines, mordomo que serviu oito presidentes que foram passando pela Casa Branca entre os anos 50 e 80. Protagonizado por Forest Whitaker (brilhante!), The Butler conta a história de um jovem negro que fica órfão de pai quando este é assassinado a tiro à sua frente ao tentar confrontar o patrão por lhe violar a mulher. Os remorsos da mãe do assassino levam-na a acolher o pequeno Cecil em casa e a transformá-lo num criado doméstico.
Chegado à maioridade, Cecil parte para Nova Iorque onde serve em clubes de alta sociedade até ser contratado para a Casa Branca.
Enquanto vemos Cecil a desempenhar as suas funções de mordomo, percebemos o seu contexto familiar e a luta pelos direitos civis que marca a sociedade norte-americana. Entre a luta e o silêncio, entre o sofrimento e a injustiça, todo um ethos nos atinge levando a um incómodo sem nome, a uma familiaridade velada, a constatações de incoerências inumanas e atrofiantes.
Afinal The Butler não é a biografia de um só homem, nem o retrato de uma sociedade passada...
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