27 outubro 2012

Passeio por El Prado


Em mais um contributo para diminuir as zonas negras europeias no meu mapa, perdi-me por Madrid. Não bem perdida, o que me levou à capital espanhola era bem racional e foi bem planeado, ao contrário da visita, para a qual nem mapa tinha e nem sequer me passou pela cabeça que o fuso horário e a chuva me poderiam atrapalhar os planos habituais de deambulação pela cidade.

De vésperas decidi que teria de visitar alguns ex libris dos que aparecem nos Top 10 de Madrid e claro o Museu do Prado encabeçava essa lista. Existem guias e recomendações e críticas e... - sei lá mais o quê - que definem quais as obras must see, mas nunca fui muito de establishment e em termos de pintura a Mona Lisa e tudo o que sejam retratos passam-me totalmente ao lado (portanto desculpa lá oh Caballero "obra-emprestada" pelo Metropolitan Museum of Art de New York do Velàzquez mas nem te veria se não me tivessem oferecido um flyer).

Mas do Velàzquez amo a Coroação da Virgem (1635) e o Cristo Cruxificado (1632).

Coroação da Virgem, por Velazquez

Cristo Crucificado, por Velazquez


E já agora do grande El Greco inspirador dos surrealistas destaco: Trindade; BaptismoCoroação; Sudário; Pentecostes; e claro...

Cristo a carregar a Cruz (1602), por El Greco



Curiosamente, algumas maravilhas que me captaram o olhar são mesmo recomendadas, tais como:

Anunciação (séc. xv, versão do Museu do Prado), de Fra Angelico 

- Postal de Natal em algumas ocasiões -


The Dead Christ Supported by an Angel (1475-78), por Antonello de Messina

The Descent from the Cross (1435)Rogier van der Weyden

Table of the Mortal Sins (séc. xv) El Bosco



Verdadeiramente impressionada fiquei com as obras (para mim desconhecidas, apesar de em alguns casos, já ter ouvido falar nos seus autores):

La Caridad Romana (1851, mármore), Antonio Sola
Na escultura, Sola representa uma filha a amamentar o pai prisioneiro para que não morra de inanição. Um exemplo de caridade, mas também símbolo de retribuição a quem dá a vida e que no fim de um ciclo precisa que a mesma lhe seja devolvida.

Triumph of death (1562), by Pieter Brueghel the Elder

Talvez a obra mais conhecida deste pintor. Não sei se pelo momento que vivemos, só agora reparei na mesma e a sensação foi avassaladora. E não me chocam apenas os corpos caídos, os animais famélicos... chocam-me sim os esqueletos vivos que tocam instrumentos musicais, que fazem a festa na ilusão de estarem vivos, quando não são mais do que cadáveres adiados.

Three Ages of Man and Death (1510), por Hans Baldung Grien

Continuando na morte... um trabalho a que é impossível ficar indiferente.

Dedicada a Goya estava a exposição das suas Pinturas Negras (devido ao pigmento predominante, mas também aos temas retratados). Da mesma, faziam parte Colossus, Saturno a Devorar o filho (1819-1823) e Witches Sabbath (The Great He-Goat)  (1819-1823).

Colossus, por Goya Y Lucientes


Conheci igualmente novos nomes com trabalhos notáveis, como o retábulo de Mabuse, a Última Ceia e as obras dedicadas ao martírio de Santo Estêvão (primeiro mártir cristão) de Juan de Juanes, a Anunciação de Juan Correa de Vivar; e a Santíssima Trindade de José de Ribera.

Christ between the Virgin Mary and Saint John the Baptist (1510-15), por Jan Mabuse 


Última Ceia (1562), por Juan de Juanes

The Annunciation (1559), por Juan Correa de Vivar


The Holy Trinity (1635), de José de Ribera

Destaco ainda: São Sebastião de Guido Reni; Santa Veronica de Bernardo Strozzi; o São Francisco confortado por um anjo de Francisco Ribalta; e o estilo de Giambattista Tiepolo.




Claro que a temática religiosa é dominante na arte presente no Museu do Prado, ou não fosse a colecção oriunda de palácios fruto das ofertas e aquisições de reis e nobres coleccionadores. O esbanjamento de outrora permite encher museus e galerias; o de hoje em dia enche garagens ou desaparece no espectro, tal a futilidade dos consumos.

Curiosidade (isto é uma pintura de quadro tradicional e o tampo de uma mesa de apoio) as colagens pós-modernas devem ter começado com este senhor Charles-Joseph Flipart (1721-1797).

Mesa revuelta con pinturas, zanfonía, libros y otros objetos de trampantojo (1779), por Charles-Joseph Flipart

13 outubro 2012

És tu o meu chão



Largaram-me a mil metros do chão
Reparo o sol que se afasta no ar
Rasgo caminho onde o vento dormia
Adormeço sentidos no meu furacão
Enquanto sol anuncia o dia
Sinto o meu corpo, desamparado, deslizar...
Perdi-te do lado errado do coração
Eras tu o meu chão...
(...)
Não sei ao que chamam lados do coração
Mas és tu o meu chão...
És tu o meu chão...





(...)

Afinal...
Quebramos os dois afinal.
Quebramos os dois...
Desviando os olhos por sentir a verdade,
Juravas a certeza da mentira,
Mas sem queimar de mais,
Sem querer extingir o que já se sabia.
Eu fugia do toque como do cheiro,
Por saber que era o fim da roupa vestida,
Que inventara no meio do escuro onde estava,
Por ver o desespero na cor que trazias.
Afinal...
Quebramos os dois afinal,
Quebramos os dois afinal,
Quebramos os dois afinal,
Quebramos os dois...
Era eu a despir-te do que era pequeno,
Tu a puxares-me para um lado mais perto,
Onde se contam histórias que nos atam,
Ao silêncio dos lábios que nos mata.
Eras tu a ficar por não saberes partir,
E eu a rezar para que desaparecesses,
Era eu a rezar para que ficasses,
Tu a ficares enquanto saías.
Não nos tocamos enquanto saías,
Não nos tocamos enquanto saímos,
Não nos tocamos e vamos fugindo,
Porque quebramos como crianças.
Afinal...
Quebramos os dois afinal,
Quebramos os dois afinal,
Quebramos os dois...
É quase pecado que se deixa.
Quase pecado que se ignora.



Viverei mil e um anos, e mais de mil vidas e não compreenderei os seres humanos. 
Serei eu a viver ou a passar pela vida, sem nunca saber o que sou, o que somos, o que queremos ser e o que conseguimos ser. serei apenas um perdido por entre certezas de verdades, e medos de mentiras que se evitam nos olhares e nos pensamentos, que são no imaginário e na vontade, nas orações dos dias que vão passando e em que vamos passando ao largo, com o pensamento um no outro, mas sozinhos, encerrados na concha do egoísmo, do para mim... sem ti... sem nos tocarmos... fugindo