23 dezembro 2008

whale rider (2002)



Baseado no romance de Witi Ihimaera, Whale Rider conta a história de Paikea, uma jovem Maori (tribo neozelandesa). As gentes dos Whangara anseiam por um líder que lhes devolva a idade de ouro perdida nos vícios da modernidade. Mas os jovens estão mais interessados em nada fazer e abandonarem-se aos vícios do alcool e da droga.

Koro, o avô de Paikea, decide revitalizar os «ancient ways» ensinando aos jovens as tradições do povo, na esperança de encontrar o líder desejado. Contudo, Koro deseja que esse líder seja um homem e menospreza a neta, cujo feitio impulsivo, determinado e inteligente, não chega para o convencer que o passado poderá ter futuro na voz de uma mulher.

Paikea adora o avô e chega a compreender a discriminação e rejeição do mesmo, no entanto, aprende também na voz da natureza que terá de o enfrentar para poder cumprir o seu destino.

Realizado por Niki Caro, protagonizado pelos (quase) desconhecidos: premiada e nomeada Keisha Castle-Hughes (a Queen Naboo do 3º episódio do Star Wars), Rawiri Paratene, Vicky Haughton, Cliff Curtis, Grant Roa.

um filme enternecedor que nos mostra a importância: da manutenção das tradições de forma não dogmática, da necessidade de tenacidade quando buscamos o nosso destino, da determinação como lição de vida e felicidade.

Nota mais para o ensinamento da Haka e explicação das expressões visuais dos guerreiros. Um hino à tradição, reinventada pela modernidade. E mais: a demonstração que filmes não americanos têm grande qualidade! Viva a cultura dos povos!

11 dezembro 2008

Lay Down

Speechless, but the answers in my mouth
Breathless, the emotions seeping out
Beyond my control
You spoke to my silence, and asked
Why so cold?

You ask for peace, I give you war
While you let go, I hold too tightly
I take my aim, you hit the floor,
I'm not ready to,
Lay down my arms

Cracking, my defences breaking down
The unravelling, of a rope I put around me
You wont take no for an answer

I didn't know I was missing out, 'til you lost and I, I won
You made me realise my incompleteness alone
Can no longer live by candlelight
When you show me the sun

04 dezembro 2008

Dark Night


Foi anunciado no passado dia 26 de Novembro, a morte do Homem Morcego. A notícia do Nuno Aguiar no Público refere que Batman morre ao fim de 70 anos. Contudo, a dúvida e o suspense mantém-se à semelhança do que acontece com o último filme da saga realizado por Christopher Nolan.

O filme co-protagonizado por Christian Bale e Heath Ledger, tornou-se célebre na fase de pós-produção devido morte «acidental» deste último.

O filme é denso, as personagens complexas e contraditórias, podendo, por isso, ser encaradas como aborrecidas, inconvenientes.

Bruce Wayne é um homem complexo, constantemente torturado pelas consequências de suas acções. Lamenta ter despertado o surgimento de “justiceiros/vigilantes”, assim como, de vilões como o Joker. Wayne deseja desesperadamente encontrar uma solução que lhe permita abandonar a máscara e viver uma existência normal. Consequentemente, as suas esperanças em Harvey Dent soam tocantes por denunciarem a sua fragilidade emocional. O Cavaleiro das Trevas está cansado e nunca antes o herói foi tão cobrado física, emocional e psicologicamente – e Christian Bale encarna este cansaço (e também a determinação resultante) de maneira impecável.


Enriquecido também por um elenco secundário extremamente coeso, O Cavaleiro das Trevas emprega cada personagem com um propósito específico: Alfred representa o calor humano tão importante para manter Bruce Wayne ligado ao mundo real; o tenente Gordon funciona como um aliado estratégico fundamental e a crença remanescente nas Instituições; Lucius Fox oferece ao espectador a impressão de que todas aquelas bugigangas são plausíveis; e Rachel Dawe encarna a esperança de Wayne num futuro melhor. Finalmente, ao Harvey Dent representado de maneira trágica por Aaron Eckhart, que retrata com intensidade a instabilidade crescente de um homem que, mesmo determinado a fazer o que é certo, sente cada vez mais o peso da pressão exercida pelos oponentes – e é justamente por acreditarmos naquele homem que a sua trajectória se torna tão dolorosamente trágica.



O dilema incessante entre o herói que merecemos e o herói de que precisamos, encarnando desta forma a imperfeição da vida, tão pouco coincidente com a dos heróis-deuses, com a demanda da perfeição para a recompensa final. Batman é um herói humano, que abdicou de si em prol dos outros percebendo que para os ajudar deveria pecar. O anjo caído no pecado de matar e ferir outro ser humano perde-se, então, no dilema de também ser um criminoso perseguido, persona non grata, porque moralmente incorrecta. Fará Batman o bem ao eliminar os criminosos? Serão os meios utilizados os mais correctos? Quem avalia? Quem condena? Quem absolve?

No filme, o Dark Knight perde-se na noite, assumindo que deve ser perseguido para deixar de ser um modelo social, pois é moral e eticamente incorrecto. Na banda desenhada, os criadores foram mais radicais: R.I.P. Batman, o descanso merecido do herói cansado, que no entanto é o herói mais conforme com a sociedade actual: amoral e pouco ética, em que os fins justificam os meios.


Notícia do Público:
Chega hoje às bancas aquele que é provavelmente o fim do “Cavaleiro das Trevas” tal qual o conhecemos. Grant Morrison, o actual argumentista da série de comic books, já afirmou que será o “fim de Bruce Wayne como Batman.”

O desenlace da história poderá ser visto no mais recente número da série - "R.I.P. Batman". Um dos maiores mistérios é quem será o responsável pelo seu desaparecimento. Como seria de esperar, os rumores na Internet encarregaram-se de criar os mais diversos cenários e até apostas. No site de apostas Paddy Power, quem apostar dez dólares em como é o mordomo a matar Bruce Wayne, no final do dia ganhará 660. As hipóteses consideradas mais prováveis são as de Batman se retirar sem ferimentos e o vilão Black Glove assassiná-lo.

“O que estou a planear é um destino pior que a morte, coisas que ninguém esperaria que acontecessem a estes tipos”, afirmou Grant Morrison, em entrevista à "Comic Book Resources".

A primeira aparição de Batman foi em 1939, no número 27 de “Detective Comics”, publicado pela DC Comics. Batman, é o alter-ego de Bruce Wayne, um empresário bilionário de Gotham City que se mascara durante a noite para combater o crime na cidade. Ao contrário da maioria dos super-heróis, não tem qualquer poder sobre-humano, nem utiliza armas de fogo, refugiando-se na sua imagética simbólica de morcego para atemorizar os vilões.

Esta não é a primeira vez que um super-herói morre. No ano passado, o Capitão América foi atingido mortalmente por um atirador furtivo, e já em 1992, o Super-Homem foi morto por Doomsday, naquele que se tornou o número mais vendido de sempre da série. O “Homem de Aço” viria a ressuscitar dos mortos, constituindo-se agora na bolsa de apostas como a hipótese menos provável, mas também a mais rentável, para matar Batman, numa relação de 1-150.

Este volte face na história do “Cavaleiro das Trevas” vai obrigar a encontrar um substituto, cujo nome Morrison se recusou a revelar. Contudo, as personagens Tim Drake (actual Robin) e Dick Grayson (antigo Robin) são duas das hipóteses mais avançadas.

22 novembro 2008

o mar fala de ti

Eu nasci nalgum lugar
Donde se avista o mar
Tecendo o horizonte
E ouvindo o mar gemer
Nasci como a água a correr
Da fonte

E eu vivi noutro lugar
Onde se escuta o mar
Batendo contra o cais
Mas vivi, não sei porquê
Como um barco à mercê
Dos temporais.

Eu sei que o mar mão me escolheu
Eu sei que o mar fala de ti
Mas ele sabe que fui eu
Que te levei ao mar quando te vi
Eu sei que o mar mão me escolheu
Eu sei que o mar fala de ti
Mas ele sabe que fui eu
Quem dele se perdeu
Assim que te perdi.

Vou morrer nalgum lugar
De onde possa avistar
A onda que me tente
A morrer livre e sem pressa
Como um rio que regressa
Á nascente.

Talvez ali seja o lugar
Onde eu possa afirmar
Que me fiz mais humano
Quando, por perder o pé,
Senti que a alma é
Um oceano.




[amarei para sempre o mar, por ter alma de oceano, ou por
ter os olhos poisados no infinito:
sempre mais longe que o perto, sempre tão perto do resto]

13 novembro 2008

The Man Who Can't Be Moved

Going back to the corner where I first saw you,
Gonna camp in my sleeping bag I'm not gonna move,
Got some words on cardboard got your picture in my hand,
Saying if you see this girl can you tell her where I am,
Some try to hand me money they don't understand,
I'm not... broke I'm just a broken hearted man,
I know it makes no sense, but what else can I do,
How can I move on when I'm still in love with you...

Cos if one day you wake up and find that you're missing me,
And your heart starts to wonder where on this earth I can be,
Thinking maybe you'll come back here to the place that we'd meet,
And you'd see me waiting for you on the corner of the street.

So I'm not moving...
I'm not moving.

Policeman says son you can't stay here,
I said there's someone I'm waiting for if it's a day, a month, a year,
Gotta stand my ground even if it rains or snows,
If she changes her mind this is the first place she will go.

Cos if one day you wake up and find that you're missing me,
And your heart starts to wonder where on this earth I can be,
Thinking maybe you'll come back here to the place that we'd meet,
And you'd see me waiting for you on the corner of the street.

So I'm not moving...
I'm not moving.

I'm not moving...
I'm not moving.

People talk about the guy
Who's waiting on a girl...
Oohoohwoo
There are no holes in his shoes
But a big hole in his world...
Hmmmm

and maybe I'll get famous as man who can't be moved,
And maybe you won't mean to but you'll see me on the news,
And you'll come running to the corner...
Cos you'll know it's just for you

I'm the man who can't be moved
I'm the man who can't be moved...

Cos if one day you wake up and find that you're missing me,
And your heart starts to wonder where on this earth I can be,
Thinking maybe you'll come back here to the place that we'd meet,
And you'd see me waiting for you on the corner of the street.
[Repeat in background]

So I'm not moving...
I'm not moving.


[The Script, jovens irlandeses de Dublin chegam com uma música easy listening sobre amor e determinação e demasiado tempo livre. Eitherway, fica no ouvido, é romântica e fez-me acreditar em vontade e esperança, coisa que falta a muita gente.]

08 novembro 2008

El Laberinto del Fauno


“Espanha, 1944" Oficialmente, a Guerra Civil já terminou há cinco anos, mas um pequeno grupo de rebeldes continua a lutar, invencível, no norte montanhoso de Navarra. Ofélia, uma sonhadora com 10 anos, muda-se para Navarra com a sua mãe, grávida e frágil para conhecer pessoalmente o seu novo padrasto, Capitão Vidal, um oficial fascista com ordens para eliminar os rebeldes do território remoto. Fascinada por contos de fadas, Ofélia descobre um grandioso labirinto a desmoronar-se atrás do moinho onde se instalou o Capitão Vidal. No centro do labirinto ela conhece Pan, um velho brincalhão que diz saber a verdadeira identidade e o destino secreto de Ofélia. Ela é uma princesa, a filha desaparecida do Rei das Fadas. Pan oferece-lhe a oportunidade de voltar ao subterrâneo e governar o reino mágico do pai. Mas primeiro, ela deve executar três tarefas antes da lua cheia…

Ano: 2006
Realizaçãoe Argumento: Guillermo del Toro
Actores: Ivana Baquero, Sergi López, Maribel Verdú


O exemplo de como a imaginação, os medos e sonhos que a povoam nos levam a viver vidas que nos dão alento, ocupam o tempo, mas acima de tudo nos fazem felizes. Perante um mundo de sofrimento e contrariedade, Ofélia encontra o porto de abrigo e as missões da sua infância no sentido de prolongar a vida daqueles que ama e que vê extinguir-se a pouco e pouco. A negação de uma existência forçada e rodeada de ódio e incompreensão e que acaba necessariamente de acordo com a crueldade dos homens que almejam o poder, subjugar e torturar os outros. Mas a vida de Ofélia não pertence a este mundo, ela garantiu a sua perenidade na liberdade do seu mundo imaginário onde pode ser quem quer e onde pai e mãe se reencontram, afinal a visão da vida para além da morte, num mundo simplesmente perfeito.

08 outubro 2008

This is the Life

A jovem escocesa chegou para me raptar à fase franco-dependente. Uma sonoridade entre o folk e o country que me põe a dançar e esquecer... sim porque este ano é preciso esquecer muita coisa.

Poison Prince

A poetic genius is something I don’t see
why would a genius be trippin on me
And he's looking at me now
But what he can’t see
Is that I’m looking through his eyes
So many lies behind his eyes
And tell me stories from your past
Sing me songs you wrote before
I tell you this my poison prince
You'll soon be knockin on heavens door

Some kinda poison prince with your eyes in a daze
Some kinda poison prince your life is like a maze
And what we all want, and what we all crave
is an upbeat song so we can dance..
The night away

Oh who said life was easy
who said life was fair
who said nobody gives a damn and nobody even cares
The way you’re acting now like you left that all behind
You've given up, you've given in
Another sucker of that slime

02 outubro 2008

Pedro Homem de Mello (1955)

Grande, grande era a cidade... (1955)

Noite

Ó noite, escuridão que me resume

Em lábio indecifrável e olhar baço!

Ó noite de água e sombra, vento e lume,

Tentadora e subtil como um regaço!

Ó hálito do medo! Ó flor do engano,

Irmã de quanto lobo houver faminto!

Clandestino punhal com que o cigano

Descalça a luva e desaperta o cinto...

Ó Pátria desonesta, incestuosa!

Ó prontidão do mal a cada aceno!

Suspiro... beijo... pétala de rosa...

Amor? Em vez de amor digam veneno.

Digam castigo ou crime. Não importa.

Mas digam noite na cidade morta!

Tédio

Já perdi a conta aos meses.

Dezembro? Janeiro? Maio?

Batem-me à porta, por vezes,

Não saio. Finjo que saio.

Mas regresso à velha mesa,

Por vício, não por enlevo.

Filho da própria incerteza,

Escrevo. Finjo que escrevo...

Que dia é hoje? Sei lá!

O sinal da cruz diz: mais.

E uma hora quando é má

Diz que as outras são iguais.

Nazareno

Velho, um marujo sonha... Onde ele for

Hão-de arrastar-se as cordas da viola.

Outrora, jovem, mendigava amor

E, sendo pobre, recusava a esmola.

A quem, de noite, lhe pedisse lume,

Com um sorriso ingénuo respondia...

E logo a rua má tinha perfume

E em todos os relógios era dia!

Hoje vagueia no jardim deserto.

Somente as ondas vêm bater no cais.

E a sua enxerga, sórdida, já perto,

Revela manchas que não saem mais.

Nenhuma estrela rasga a escuridão

Nenhuma prece oculta nos inspira.

Nem mesmo a glória de esconder em vão

Seus olhos, cor de pérola e safira.

Intimidade

Hás-de voltar mais loira que as espigas

Ó musa bela do meu sonho ledo!

Parávamos... cantavas-me cantigas.

Dizias-me ao partir, chorando: - É cedo.

Hás-de voltar! E a noite? E a poesia?

E tudo quanto a idade leva embora?

Talvez que um anjo, súbito, sorria

E nos conceda o olhar que se demora...

Hás-de voltar! Ao longe era a neblina.

Carícia de onde pela praia absorta...

- mas, para já, corramos a cortina!

Fechemos, meu amor, aquela porta...


Fonte

Meu amor diz-me o teu nome

- nome que desaprendi...

Diz-me apenas o teu nome.

Nada mais quero de ti.

Diz-me apenas se em teus olhos

Minhas lágrimas não vi,

Se era noite nos teus olhos,

Só por que passei por ti!

Depois, calaram-se os versos

- versos que desaprendi...

E nasceram outros versos

Que me afastaram de ti.

Meu amor, diz-me o teu nome.

Alumia o meu ouvido.

Diz-me apenas o teu nome,

Antes que eu rasgue estes versos,

Como quem rasga um vestido!

Apartamento

Lembrava seu corpo, ao longe,

Um navio naufragado...

Disse-lhe adeus. Era tarde.

Já vnha a sombra a meu lado!

Como quem, morta a esperança,

Entra em silêncio no mar,

Vi seu corpo entrar na treva...

Quis-me deitar a afogar!

Levei os lábios aos dedos.

Caiu-me a noite no peito.

Disse-lhe adeus. Era tarde.

Estava o sonho desfeito!

Tudo era noite e segredo.

Noite de pedra pesada.

Disse-lhe adeus. Era tarde.

E não lhe disse mais nada.


Companheiro

Negaram-lhe a luz.

Negaram-lhe a água.

Negaram-lhe o vinho,

As rosas, o leite...

E se encontrou cama

Onde ainde se deite

É porque a beleza

É feita de mágoa.

Meu único amigo,

Meu único irmão,

Embrulhou-o a Lua

Em seu cobertor...

Meu único amigo,

Meu único irmão!

Não teve jazigo,

Não teve caixão,

Teve uma guitarra:

O meu coração.



30 setembro 2008

Jane Eyre



Jane Eyre é uma jovem órfã de pais e que acaba órfã de tio ficando à guarda de uma tia amarga que a odeia. Jane é especial, é arrebatada pela paixão de viver, pelos sentimentos. É igualmente forte o que cativa quem a ama e provoca o ódio de quem a inveja. A tia torna-lhe a vida miserável e não cumpre a promessa feita ao marido de a criar como sua filha. Por vingança, esconde a Jane que ela tem mais família e envia-a para um colégio interno - Lowood - onde a maior parte das jovens morre com uma febre provocada pelo frio e pela má alimentação.

Em Lowood, Jane conhece o valor da amizade e da perda quando a sua única amiga morre. Mas sobrevive e candidata-se a perceptora da jovem francesa Adéle em Thornfield, sob as ordens de um homem amargo, sofrido e enigmático - Mr. Rochester.

A frontalidade de Jane e o seu arrebatamento levam-na à conquista do seu lugar e ao respeito de Mr. Rochester tornando-se a sua companhia preferida. Contudo em Thornfield, os mistérios do passado assombro as noites e condenam o amor da perceptora com o dono da casa.



Adaptação da BBC para Televisão, esta mini-série de 2006 teve o dom de me fazer rir, adorar personagens sarcásticas, admirar a paciência e a calma, acreditar na paixão e no encontro de duas almas que de tão diferentes se tornaram tão iguais. Uma lição de tolerância, o revivalismo dos valores de uma Inglaterra vitoriana, a prova de que a adaptação de grandes obras (esta de Charlotte Bronte) se recomenda vivamente. São obras como esta que me lembram de como o amor só acontece quando deve, pois há forças no Universo que têm de ser alinhadas, para proporcionar a felicidade sem entraves, o quadro de família perfeito. Se há perfeição o Toby Stephens deve fazer parte dela :))


Produzido por: Susanna White
Protagonizado por: Rute Wilson e Toby Stephens

29 setembro 2008

un ange parmis les loups



[c'est officiel: France je vous aime! Votre langue, votre culture, votre musique, votre façons de vivre, votre savoir faire, votre penser… c’est simplement magnifique!]

28 setembro 2008

ange parle-moi




L'ange parle-moi !

Le plus vaste des cœurs se brise.

Parle-moi !

L'hiver pourvu qu'on le cultive.

Dans cette pièce

Nul semble respirer

Ici, c'est un...

Abri qui m'a été donné !

Don't let me die, l'ange

Don't let me die, l'archange

Tu sais le temps qu'il faut pour apaiser

Nos peines

Don't let me die,

Et dis encore "je t'aime"

Parle-moi !

Pourquoi cette couleur trompeuse ?

Ange, parle-moi !

De voir qu'en lui, ils étaient deux.

Je sais ce que...

Mentir veut dire pour moi

Tu sais

Dieu a rompu

Son pacte avec cet étranger !

Parle-moi, parle-moi

Dis-moi si tu es là ?

Ange, parle-moi, parle-moi

Dis-moi si tu es là ?



[pois é às vezes sou tomaia, preciso que me lembres que estás... não me deixes... fala comigo!]

Pedro Homem de Mello (1947-1954)

Bodas Vermelhas (1947)


Canção Hindu

Nesta rua cansada que morreu,

A luz doira e perfuma as pedras velhas.

Na minha rua as mãos foram vermelhas

E hoje são brancas, pálidas como eu.

A água, ao nascer, enterra o sol poente...

Na igreja há ruínas, mas no altar há cravos.

E, para a sede, há vinho que nos mente

E que liberta os braços dos escravos.

Cegos, leprosos, mas que não tem fim.

(Sofriam mais, talvez, não sendo assim...).

Meu país sem futuro e sem presente!

Minha pátria de ausência e podridão!

Negros? Judeus? Cativos? – Tudo é gente.

Só quem ri dos Poetas é que não.


Miserere (1948)

Remorso

Lembro o seu vulto, esguio como espectro,

Naquela esquina, pálido, encostado!

Era um rapaz de camisola verde,

Negra madeixa ao vento,

Boina maruja ao lado...

De mãos nos bolsos e de olhar distante

- jeito de marinheiro ou de soldado...

Era um rapaz de camisola verde,

Negra madeixa ao vento,

Boina maruja ao lado.

Quem o visse, ao passar, talvez não desse

Pelo seu ar de príncipe, exilado

Na esquina, ali, de camisola verde,

Negra madeixa ao vento,

Boina maruja ao lado.

Perguntei-lhe quem era e ele me disse:

Sou do Monte, Senhor! E seu criado...

Pobre rapaz da camisola verde

Negra madeixa ao vento,

Boina maruja ao lado!

Porque me assaltam turvos pensamentos?

Na minha frente estava um condenado?

- Vai-te! rapaz de camisola verde,

Negra madeixa ao vento,

Boina maruja ao lado!

Ouvindo-me, quedou-se, altivo, o moço,

Indiferente à raiva do meu brado.

E ali ficou, de camisola verde,

Negra madeixa ao vento,

Boina maruja ao lado...

Ali ficou... e eu, cínico, deixei-o

Entregue à noite, aos homens, ao pecado...

Ali ficou, de camisola verde,

Negra madeixa ao vento,

Boina maruja ao lado...

Soube eu depois, ali, que se perdera

Esse que, eu só, pudera ter salvado!

Ai! do rapaz da camisola verde,

Negra madeixa ao vento,

Boina maruja ao lado!


Fado

Eu tenho dois corações

Dentro e fora do meu lar.

Eu tenho dois corações.

Mas esses dois corações

Já me não podem bastar.

Quando a tristeza é tão triste,

Qual dos dois sofrerá mais?

O que é real não existe.

Eu tenho dois corações,

Ambos eles irreais.

Dois corações: o primeiro

Pertence à rua e ao pecado.

O segundo é cativeiro

De quem se fez caminheiro

Sem nunca ter caminhado!

Amor que se diga amor,

Não é homem nem mulher.

Engano? Seja o que for!

Como gostar duma flor

Sem gostar doutra qualquer?


Adeus (1951)

Aliança

Por tudo quanto sei, mas não sabia,

(Feliz de quem um dia ainda o souber!)

Por essa estrela branca em noite fria!

Anunciação, talvez, de poesia...

Por ti, minha mulher!

Por esse homem que sou, mas não era,

Vendo na morte a vida que vier!

Por teu sorriso em minha vida austera.

Anunciação, talvez de Primavera...

Por ti, minha mulher!

Pelo caminho humano a que vieste

Com fé no amor. – Seja o que Deus quiser!

Por certa fonte abrindo a rocha agreste...

Por esse filho loiro que me deste!

Por ti, minha mulher!

Pelo perdão que espalho aos quatro ventos,

De antemão cego ao mal que me trouxer

Despeitos surdos, pérfidos momentos;

Pelos teus passos, junto aos meus, mais lentos...

Por ti, minha mulher!

Nada mais digo. Nada. Que não posso!

Mas dirá mais do que eu quem não disser

Como eu?: - Avé-Maria... Pedre-Nosso...

Por tudo, quanto é meu (e que é tão nosso!)

Por ti, minha mulher!



Os amigos infelizes

Vendem-se os corpos? O meu é firme:

Rosto sereno, líquido olhar.

E há-de a miséria vir destruir-me?

Onde é que há oiro que o vou buscar?

Vendem-se as almas? A minha é pura.

Cercam-na rosas, fontes, luar...

Tenho alma e corpo – sexo e cintura...

Onde é que há oiro que o vou buscar?

Vendem-se versos – Com a voz triste

Compus poemas talvez sem par...

Quando cantamos, quem nos resiste?

Onde é que há oiro que o vou buscar?

Vendem-se as Pátrias? – Não vendo a minha.

Que é do meu nome? Que é do meu lar?

Ai! a miséria que se avizinha!

Onde é que há oiro que o vou buscar?

No entanto passas... Nada me dizes?

Talvez que eu pese em teu olhar...

Ó meus amigos sempre infelizes!

Ó meus amigos sempre infelizes,

Onde é que há oiro que o vou buscar?


Os amigos infelizes (1952)

Apelo

Quem quer que sejas, vem a mim apenas

De noite, quando as rosas adormecerem!

Vem quando a treva alonga as mãos morenas

E quando as aves de voar se esquecem.

Vem a mim quando, até nos pesadelos,

O amor tenha a beleza da mentira.

Vem quando o vento acorda em meus cabelos,

Como em olhagem que, ávida, respira...

Vem como a sombra, quando a estrada é nua,

Num risco de asa, vem, serenamente!

Como as estrlas, quando não há Lua

Ou como os peixes, quando não há gente...


Francisco

Trazia-nos o mar quando cantava...

Era seu canto a própria maresia!

Contudo, em sua boca, uma flor brava –

Rosa de carne – à terra, ainda o prendia.

Nos seus dedos, as sombras das gaivotas

Poisavam sem poisar...

Mastro perdido! Inverosímeis rotas

Que nunca mais hão-de recomeçar!

Seria frágil? Sim, porque era forte.

Seria bom? Não sei... mas era puro.

Tinha a beleza que anuncia a morte

Do lírio prematuro.

Quadril enxuto. E o peito? – Asas redondas

Com que se voa mais que se respira!

Corpo de efebo no cristal das ondas.

Em vez de vermes, algas de safira...

Sombra

Aquela estrela apagada

Que tantas vezes luziu,

Ó meu amor não foi nada!

Foi um de nós que partiu...

E aquela flor? Ai! da flor!

Quem a pisou? Tu ou eu?

Não foi nada, ó meu amor!

- Foi um de nós que morreu...

E aquela folha caída

Que logo o vento levou?

Ó meu amor! foi a vida.

- Foi um de nós que passou...


Claustro

Como se a noite fosse clara,

Como se o lume fosse frio,

Procuro ler em cada rio

Aquela curva que separa...

Como se um pássaro pudesse

Levar consigo a minha imagem,

Na inconfidência da folhagem

Procuro o voo duma prece.

Como se a morte fosse o muro

E a vida apenas a parede,

Procuro ver, por trás da sede,

A fome que ainda não procuro.

Como se, negra, uma bandeira

Me trespassasse o coração,

Procuro, em toda a escuridão,

A minha Pátria verdadeira.

Como se o dia fosse de água

E respirasse como um peixe,

Procuro a fonte que me deixe

Beber, sozinho, a minha mágoa...

Espera


Quando virás na vaga proibida,

Com maresia e vento ao abandono,

Pôr nos meus lábios um sinal de vida

Onde haja apenas pétalas e sono?

Com teu olhar de nuvem ou cipreste,

Com uma rosa oculta por florir,

Se te chamei e nunca mais vieste

Quando virás sem que eu te mande vir?

Quando, quebrando todos os segredos,

Na aragem que a poesia deixa nua,

Virás deitar-te um pouco nos meus dedos

Como o Sol, como a Terra, como a Lua?

E por que a minha boca te sorrira

Tentando abrir uma invisível grade,

Quando virás, sem medo e sem mentira,

Dar a meu corpo a sua liberdade?


Os amigos infelizes

Andamos nus, apenas revestidos

Da música inocente dos sentidos.

Como nuvens ou pássaros passamos

Entre o arvoredo, sem tocar nos ramos.

No entanto, em nós, o canto é quase mudo.

Nada pedimos. Recusamos tudo.

Nunca para vingar as próprias dores

Tiramos sangue ao mundo ou vida às flores.

E a noite chega! Ao longe, morre o dia...

A Pátria é o Céu. E o Céu, a Poesia...

E há mãos que vêm poisar em nossos ombros

E somos o silêncio dos escombros.

Ó meus irmãos! em todos os países,

Rezai pelos amigos infelizes!


O rapaz da camisola verde (1954)


Solidão

Ó solidão! À noite, quando, estranho,

Vagueio sem destino, pelas ruas,

O mar todo é de pedra... e continuas.

Todo o vento é poeira... e continuas.

A Lua, fria, pesa... e continuas.

Uma hora passa e outra... e continuas.

Nas minhas mãos vazias continuas,

No meu sexo indomável continuas,

Na minha branca insónia continuas,

Paro como quem foge. E continuas.

Chamo por toda a gente. E continuas.

Ninguém me ouve. Ninguém! E continuas.

Invento um verso... e rasgo-o. E continuas.

Eterna, continuas...

Mas sei por fim que sou do teu tamanho!



13 setembro 2008

Pedro Homem de Mello (1944)




Fui pedir um sonho ao jardim dos mortos

Fui pedir um sonho ao jardim dos mortos
Quis pedi-los, aos vivos. Disseram-me que não.
Os mortos não sabem, lá onde é que estão,
Que neles se enfeitam os meus braços tortos.

Os mortos dormiam... Passei-lhes ao lado.
Arranquei-lhes tudo, tudo quanto pude;
Páginas intactas – um livro fechado
Em cada ataúde.

Ai as pedras raras! As pedras preciosas!
Relâmpagos verdes por baixo do mar!
A sombra, o perfume dos cravos, das rosas
Que os dedos, já hirtos, teimavam guardar!

Minha alma é um cadáver pálido, desfeito.
As suas ossadas
Quem sabe onde estão?
Trago as mãos cruzadas...
Pesam-me no peito.
Quem sabe se a lama onde hoje me deito
Dará flor aos vivos que dizem que não?


«Mea culpa»

Fugindo à voz do amor, fugindo à luta,
A lágrima que nasce em mim nem rola
Fica-me a face branca, branca e enxuta;
Cruzei os braços recusando a esmola.
Por astúcia esquivei-me a qualquer crime.
Com gestos hábeis, cínicos de bruxo.
Desconheço o remorso que redime.
Dei-me à virtude fria como a um luxo.


Escuridão


Negra, sim, como os cravos são vermelhos,
Negra, sim, como a neve é branca e fria,
Negra como as mãos postas e os joelhos
Assim é negra a noite do meu dia.
Negra como o que penso e o que não dizes!
(Lembro não sei que pássaro ao poente...)
Ai! a fronteira em todos os países
Ai! um só fruto proibido e ardente!
Negra como a ignorância e a realeza
Dos braços que se cruzam com desdém.
Negra como a raiz oculta e presa
Como o nome (tão meu) de Pedro Sem!
Negra como os vestígios maus do sangue
E o destino de toda a Poesia...
Negra como esse corpo, doce e langue,
Que da sua beleza não sabia...
Assim é negra a noite do meu dia,
Negra como as mãos postas e os joelhos,
Negra, sim, como os cravos são vermelhos,
Negra, sim, como a neve é branca e fria...


Presságio

Ela há-de vir como um punhal silente
Cravar-se para sempre no meu peito.
Podem os euses rir na hora presente
Que ela há-de vir como um punhal direito.
Cubram-me lutos, sordidez e chagas!
Também rubis das minhas mãos morenas!
Rasguem-se os véus do leito em que me afagas!
- A coroa de ferro é cinza apenas...
E ela há-de vir a lepra que receio
E cuja sombra, aos poucos me consome.
Ela há-de vir, maior que a sede e a fome,
Ela há-de vir, a dor que ainda não veio.


Príncipe Perfeito


Aquele estranho soldado
Nunca a farda ele a rompeu
Aquele estranho soldado,
Cujo exército é parado;
Sou eu.

Aquela estrela cadente,
Depois de cair da altura,
Quem se lembra que ela ardeu?
Aquela estrela cadente
Sou eu.

Não foi sobre mar revolto,
Foi sobre pálido lago
Que certa nau se perdeu...
Aquela barca perdida
Sou eu.

Sei dum livro ainda fechado.
Porque é que ninguém o leu?
- Era uma vez um Poeta...
Aquele conto ignorado
Sou eu.

Nem os palmos de chão tenho
Que o destino aos mortos deu!
Não tenho um palmo de terra!
Não tenho nada. O Poeta
Sou eu.

Ó Pássaro de Pedra!
As tuas horas longas são as minhas...
À nossa frente os Oceanos falam.
Mas nós emudecemos.

À nossa beira uns choram: outros riem.
Mas nós ficamos frios e parados.
Logo, ao cair da noite,
As plantas dormem...
Os corpos vão juntar-se
Livremente.
Esses versos que o dias encarcerou!...

E eu
E tu
Morremos de cansaço,
De olhos postos no céu dos que voaram!

Ouviu-se ao longe a música da vida
Ao longe ouvi-a, em meu caixão deitado...
Não me acordou a música da vida!...
Dormi, sonhando, em meu caixão deitado,
Cavalos brancos e selins de prata,
Carroções de oiro, de oiro mas vazios,
Histórias velhas, velhas mas sem data,
Tudo como eu. Lábios turbados, frios...
Ninguém calcou a minha sepultura!
A mim chegou só o eco de outros passos!
Canção morta? Afinal, canção futura.
Sono de membros alquebrados, lassos...
Condenação! Dedo que me detém!
Ficou um sopro sobre o meu poisado...
Anjos? Demónios? Não me viu ninguém.
Vivi dormindo em meu caixão fechado.

O ritmo... A cor... O aroma... Essas nascentes
Deviam-me bastar!
Mas não! Tenho pulmões. Preciso de ar.
Trago entreaberta a boca e tenho dentes...
E o sonho? E o amor? As vibrações secretas
Deviam dar-me o alento de viver!

De que lama são feitos os Poetas
Que buscam só prazer?

Sei que há sombras e há fundos matagais...
Corpo trigueiro e forte! Por que esperas
Para saciar o instinto? Nada mais
Do que a fome dá pão e alma às feras.

Devia ser um beijo
E foi só chaga aberta!
Devia ser harpejo.
E fo nota deserta!
Ó formosura acesa!
Que é dos voos eternos?
- Caminhos de beleza
Desceram aos infernos...
Deviam ser caminhos
Onde a nossa alma fosse
Envolta em seus arminhos.
Que é da beleza doce?
Deviam ser mil rosas,
Todas resplandecentes!
Deviam ser mil rosas,
Com místicas sementes!
Deviam ser mil rosas.
E foram mil serpentes:
- Volúpias monstruosas,
Contactos decadentes...

A nascente dorida dos meus rios
Não se vê.
Meus versos, escrevi-os
Para quê?

Sofri meus pensamentos e cantei-os,
(Não foi só por cantar!)
Neles ficaam linhas de alvos seios
E tintas apagadas de luar...

Mas a nascente viva dos meus rios
Não se vê.
Meus versos, escrevi-os
Para quê?

Alguém ao lê-los não sentiu a prece?
Ah! minha rubra lágrima perdida!
Segredo? Uma vez dito, logo esquece...
Bailado? Enquanto o danço é que tem vida!

Pediram-me a alma. Dei-a.
Chamaram-lhe bruma!
Pediram-me sangue. Dei-o.
Chamaram-lhe espuma.

E atordoou-me o toque do clarim
Do que era loiro, ardente e amanheceu.
Nabucodonosor! Um nome assim,
Podia ser o meu.

As mãos do rei podiam ser as minhas.
A sua raça continua em mim.
Petrificaram-me as rainhas
À mesa do festim...

Ó danças
Por florir!
Mesopotâmia! Índia! Roma! Alcácer Quibir!
Prometeram-me lírios, cordeiros, avees mansas...

Fora príncipe cego o meu único irmão!
Minha sala de baile uma rocha bem quieta!

Os homens não me viram e nunca me verão,
A mim, que sou Poeta.

in Príncipe Perfeito (1944)

05 setembro 2008

Pedro Homem de Mello (1934-1944)




Não choreis os mortos


Não choreis nunca os mortos esquecidos
Na funda escuridão das sepulturas.
Deixai crescer, à solta, as ervas duras
Sobre os seus corpos vãos adormecidos.

E quando, à tarde, o Sol, entre brasidos,
Agonizar... guardai, longe, as doçuras
Das vossas orações, calmas e puras,
Para os que vivem, nudos e vencidos.

Lembrai-vos dos aflitos, dos cativos,
Da multidão sem fim dos que são vivos,
Dos tristes que não podem esquecer.

E, ao meditar, então, na paz da Morte,
Vereis, talvez, como é suave a sorte
Daqueles que deixaram de sofrer.


in Caravela ao mar (1934)


Canção à ausente

Para te amar ensaiei os meus lábios...
Deixei de pronunciar palavras duras.
Para te amar ensaiei os meus lábios.

Para tocar-te ensaiei os meus dedos...
Banhei-os na água límpida das fontes.
Para tocar-te ensaiei os meus dedos!

Para te ouvir ensaiei meus ouvidos!
Pus-me a escutar as vozes do silêncio...
Para te ouvir ensaiei meus ouvidos!

E a vida foi passando, foi passando...
E, à força de esperar a tua vinda,
De cada braço fiz mudo cipreste.

A vida foi passando, foi passando...
E nunca mais vieste!

Quando o vento dobrou todo o salgueiro

Quando o vento dobrou todo o salgueiro
E as folhas caíram sobre o tanque
Disseste-me em segredo:
- A vida é como as folhas
E a morte é como as águas!

Depois, à nossa frente,
Um pássaro cortou com o seu voo azul
Os caminhos do vento.
E tu disseste ainda:
- O amor é como as aves...

Mas quando aquele pássaro, ferido
Já nem sei por que bala,
Veio cair ao tanque,
Mais negros e mais fundos os teus olhos
Prenderam-se nos meus!
E não disseste nada...

in Segredo (1939)

Berço

Mansa criança brava,
Fui das mais,
Diferente.

Então, tristes, meus pais
Sentiram, certamente,
Em mim, como um castigo!

Noite e dia eu sonhava...
E era sempre comigo!

Depois, fugindo à gente,
Eu procurava as flores,
Em todas encontrando
Jeito grácil e brando
De brinquedos e amores...

As violetas sombrios
Dos bosques de Cabanas
Essas, sim! Entendi-as
E julgava-as humanas!...
Simplicidade

Queria, queria
Ter a singeleza
Das vidas sem alma
E a lúcida calma
Da matéria presa.

Queria, queria
Ser igual ao peixe
Que livre nas águas
Se mexe;

Ser igual em som,
Ser igual em graça
Ao pássaro leve,
Que esvoaça...

Tudo isto eu queria!
(Ser fraco é ser forte).
Queria viver
E depois morrer
Sem nunca aprender
A gostar da morte.

Incerteza

Toda, toda a noite fria
O rouxinol cantou.

Mas ao raiar do dia
Logo se cala triste,

Uns dizem que fugiu
Outros que não existe.


in Estrela Morta (1940)

02 setembro 2008

never give all the heart




Never give all the heart,
For love will hardly see,
For thinking of,
Two passionate wills,
If it seems certain,

Never give all the heart,
For love will hardly seem worth thinking of,
To passionate willing if it seems certain,
And they never dreamed it fades out from kiss to kiss,
For everything that's lovely is but a brief, dreaming, kind delight,
Never give the heart, out of right,
For they, for all smooth lips can say,
Have given their heart up to the play,
And who could play it well enough when deaf and dumb and blind,
With love,
Be that may, they can't afford the cost,
He who gave his heart, and lost.

They are lords who glimpse of sadness,
Have given their hearts up to the flame,
Never give all the heart...

31 agosto 2008

Coração de Mulher

Violon d'Ingrés by Man Ray



Coração de mulher,
Violino...
Bem-me-quer, mal-me-quer
Destino!

Trovador namorado
Cautela,
Toma a ária do teu fado
Singela...

Se o violino se cala,
Se é mudo,
Põe mel na tua fala,
Veludo...

Ai, quanto violino, em dor,
Se parte,
Nas mãos do tocador,
Sem arte!

Jardins Suspensos (1937)


[um dia, num fatídico rés de chão, descoberta a traição, uma das minhas melhores amigas mostrou-me este poema, que no ano de 2001 se perdeu, para voltar a ser encontrado algures em meados de Agosto de 2008. E só poderia ser com ele que começo esta homenagem ao grande poeta, tão pouco conhecido e com tão poucos poemas disponíveis online: Pedro Homem de Mello... sim, o do Povo que Lavas no Rio, mas de muito mais também...]

04 agosto 2008

L'Amoureuse




Il semble que quelqu’un ait convoqué l’espoir
Les rues sont des jardins je danse sur les trottoirs
Il semble que mes bras soient devenus des ailes
Qu’à chaque instant qui vole je puisse toucher le ciel
Qu’à chaque instant qui passe je puisse manger le ciel

Les clochers sont penchés les arbres déraisonnent
Ils croulent sous les fleurs
au plus roux de l’automne
La neige ne fond plus la pluie chante doucement
Et même les réverbères ont un air impatient
Et même les cailloux se donnent l’air important

Car je suis l’amoureuse, je suis l’amoureuse
Et je tiens dans mes mains la seule de toutes les choses
Je suis l’amoureuse, je suis ton amoureuse
Et je chante pour toi la seule de toutes les choses
Qui vaille d’être là qui vaille d’être là

Le temps s’est arrêté les heures sont volages
Les minutes frissonnent et l’ennui fait naufrage
Tout paraît inconnu tout croque sous la dent
Et le bruit du chagrin s’éloigne lentement
Et le bruit du passé se tait tout simplement

Les murs changent de pierres
Le ciel change de nuages
La vie change de manières et dansent les mirages
On a vu m’a-t-on dit le destin se montrer
Il avait mine de rien l’air de tout emporter
Il avait ton allure ta façon de parler

Car je suis l’amoureuse, oui je suis l’amoureuse
Et je tiens dans mes mains la seule de toutes les choses
Je suis l'amoureuse, je suis ton amoureuse
Et je chante pour toi la seule de toute les choses
Qui vaille d’être là qui vaille d’être là



[em boa hora a Carla Bruni lança o novo álbum, a falar de amor de forma doce, simples e ingénua. Tal como o clip com os eternos detalhes de Paris cuja memória quero para sempre preservar. Se há temas que vêm a propósito este é sem dúvida um deles!]

28 julho 2008

Lars and the real girl

A estreia do realizador Craig Gillespie é feita com uma dolorosa e inspiradora história sobre a dor da solidão e a dor de a romper. É a sinceridade subjacente a “Lars and the Real Girl” que, mais do que acreditar nesta surreal situação, nos faz torcer por ela.

Lars (Ryan Gosling) é um homem tímido de uma pequena cidade do Midwest americano, que vive na garagem do seu irmão Gus (Paul Schneider) e que, apesar dos esforços da sua cunhada Karin (Emily Mortimer), foge a qualquer interacção social, incluindo os avanços nada discretos da sua colega de trabalho Margot (Kelli Garner). De início é difícil perceber o que se passa com Lars, mas quando Bianca chega a sua casa, a vida de Lars muda radicalmente e tudo começa a ficar mais claro. Bianca é uma boneca insuflável que Lars encomendou pela Internet. Mas, longe de um interesse sexual, Lars procura o amor. Sob aconselhamento da médica local, Dagmar Bergman (Patricia Clarkson), Karin e Gus não contradizem Lars, aceitando Bianca como a sua namorada. O mesmo acontece com toda a comunidade. Bianca começa a assistir à missa, a participar em actividades sociais e até arranja emprego.

O argumento de Nancy Oliver (‘Six Feet Under’) está longe de olhar para a sua personagem principal com a condescendência com que se olha para um doente. Percebemos que Lars se retirou para dentro de si mesmo (e daquela garagem) em virtude da morte da mãe e pela vida silenciosa que teve com o seu pai viúvo. Mas Craig Gillespie não nos dá flashbacks perturbantes ou epifanias terapêuticas. É com uma suavidade quase tão desconcertante como a naturalidade com que Bianca entra na vida de todos, que Lars vai enfrentando os seus medos, somatizados na dor física que sente quando é tocado e abraçado por outras pessoas.

O elenco é liderado por Ryan Gosling, num difícil equilíbrio entre estranheza e normalidade, entre transparência e opacidade. Bianca, como substituto de afecto, pode até ser considerada uma séria candidata na categoria dos secundários. Ela representa o amor incondicional e sem críticas, é a forma de Lars contornar a imprevisibilidade do outro, até se dar conta que todos queremos o mesmo. Entre o humor negro e os sentimentos, a irrealidade de
“Lars and the Real Girl” serve o propósito de celebrar a virtude máxima da generosidade, onde a preocupação com o indivíduo é mais relevante do que a preocupação com o que sociedade pensa acerca desse mesmo indivíduo.

O momento que condensa todas as emoções é simples e, simultaneamente, símbolo de uma das coisas mais complicadas da vida: chegar até ao outro e deixá-lo chegar até nós. Na realidade, somos tão irreais uns para os outros como esta boneca de silicone.

[Fonte: http://cinerama.blogs.sapo.pt/207440.html]


Para pensar:

You won't be able to change his mind, anyway. Bianca's in town for a reason.

Sometimes I get so lonely I forget what day it is, and how to spell my name.

realiza Craig Gillepsie, protagoniza Ryan Gosling (the notebook e fracture), Emily Mortimer (Elizabeth, dear Frankie, match point, Paris, je t'aime) e Paul Schneider (the family stone, the assassination of Jesse James, Elizabethown).

13 julho 2008

As Promessas

José Malhoa pintou-as: as promessas que fazem o português caminhar por quilómetros descalço, com os filhos ao colo, sem comer. José Malhoa pintou o sofrimento, a dor e a fé de quem acredita que tem uma dívida, que tem de dar para receber, de quem se aproxima do divino esperando a graça que perdeu ou que tarda. José Malhoa pintou, o português sente. As Promessas.

03 julho 2008

life is wonderful



It takes a crane to build a crane
It takes two floors to make a story
It takes an egg to make a hen
It takes a hen to make an egg
There is no end to what I'm saying

It takes a thought to make a word
And it takes some words to make an action
And it takes some work to make it work
It takes some good to make it hurt
It takes some bad for satisfaction

Ah la la la la la la life is wonderful
Ah la la la la la la life goes full circle
Ah la la la la life is wonderful
Ah la la la la la

It takes a night to make it dawn
And it takes a day to make you yawn brother
And it takes some old to make you young
It takes some cold to know the sun
It takes the one to have the other

And it takes no time to fall in love
But it takes you years to know what love is
And it takes some fears to make you trust
It takes some tears to make it rust
It takes the dust to have it polished

Ah la la la la la la life is wonderful
Ah la la la la la la life goes full circle
Ah la la la la la la life is wonderful
Ah la la la la

It takes some silence to make sound
And it takes a loss before you found it
And it takes a road to go nowhere
It takes a toll to make you care
It takes a hole to make a mountain


{uma forma diferente de cantar que tudo faz falta, tudo importa, tudo precisa... }

29 junho 2008

my blueberry nights



«Por vezes a distância entre duas pessoas pode ser curta e a distância emocional medir-se em quilómetros» Wong Kar-Wai


Qual a distância entre um desgosto amoroso e um novo começo? Como é medida? Através do espaço, do tempo ou da memória? Elizabeth (Norah Jones), uma jovem mulher desencantada, embarca numa viagem de reencontro emocional para esquecer um coração partido. À medida que as feridas emocionais começam a desaparecer, as experiências de Elizabeth com uma série de estranhos, sem qualquer ligação entre si, levam-na a novos e inesperados capítulos na sua vida. Dos devaneios poéticos do proprietário de um café aberto pela noite dentro (Jude Law), às propostas desesperadas de uma jogadora numa maré de azar (Natalie Portman), ao laço quebrado entre um polícia perturbado (David Strathairn) e a sua rebelde esposa (Rachel Weisz), estes indivíduos redefinem a perspectiva de Elizabeth sobre a vida, os relacionamentos e finalmente a sua própria identidade. Lentamente, Elizabeth começa a desligar-se do passado descobrindo um novo caminho para si - em direcção ao verdadeiro amor.

Realizado pelo aclamado realizador Wong Kar Wai, «My Blueberry Nights - O Sabor do Amor», é a tocante passagem pelo território que separa a dor de um amor perdido da sua inebriante redescoberta.


Um filme talvez despretensioso - mas como é que um filme com Jude Law, Natalie Portman e Rachel Weisz pode ser despretensioso? - com histórias de personagens que podiam muito bem ser pessoas com quem nos cruzamos - ui que bom que era: sai um Jude Law para as ruas da Amadora - com histórias quotidianas (já dizia a música: hearts are broken every day).


Mais uma lição sobre «amores», «encontros» ou melhor «desencontros». Um dia arrumamos os sentimentos de uma forma e no dia seguinte podemos querer - ou ter que - alterar tudo. O que fica quando uma raiz sentimental é arrancada do nosso coração sem apelo nem agravo, por vezes, até sem palavras próprias, mas palavras ouvidas pela boca de um estranho? Fica a nossa vontade para não nos entregarmos ao desespero e à tristeza, para nos erguermos e fazermos pela vida, sem deixar que sejam os outros a mandar em nós. Mas neste processo, é fundamental ter uma referência algures, para quem possamos escrever um postal, enviar uma mensagem. há coisas que só «existem» quando podem ser partilhadas com aquela pessoa a quem podemos contar tudo, pois vai ouvir. pode nem compreender, mas ouve. a pessoa a quem podemos contar tudo e que um dia reencontramos, quando paramos de buscar um sentido que, afinal existe onde partimos.



por vezes, mesmo quando possuímos as chaves, uma porta pode não abrir.
mesmo que a porta esteja aberta, a pessoa que procuras poderá já não estar lá.


From my observations, sometimes it's better off not knowing, and other times there's no reason to be found.