23 dezembro 2007

Tudo de Bom


Gostar de ver você sorrir
Gastar das horas pra te ver dormir
Enquanto o mundo roda em vão
Eu tomo o tempo
O velho gasta solidão
Em meio aos pombos na Praça da Sé
O pôr do Sol invade o chão do apartamento

Vermelhos são seus beijos
Que meigos são seus olhos
Ver que tudo pode retroceder
Que aquele velho pode ser eu
No fundo da alma há solidão
E um frio que suplica um aconchego

19 dezembro 2007

Mulher em Branco




Laura, grávida, casa com Paulo. Anos mais tarde separam-se, e numa tarde Paulo perde Afonso o filho, durante o passeio. Telefona a Laura que fica em choque e perde a memória, assim começa este romance.
Através da história de Laura e Paulo, conhecemos Dulce (lésbica) irmã de Paulo, e Sérgio (paraplégico e homossexual) irmão de Laura.
Conhecemos ainda os protectores pais de Laura, e a violência do Pai de Paulo, que antagoniza com a submissão da Mãe que morre.









Uma criança desaparece. Estava à guarda do pai. O choque da notícia atira a mãe para um abismo de amnésia. Sem memória, é incapaz de chorar um filho que não sabe que tem. Como podemos continuar a viver se caminhamos vazios. E há um homem que arranja uma amante enquanto visita a mulher no hospital. Ladrões que roubam cinzas de uma morta. Há as maldades desumanas do amor, um sopro pérfido que o diabo sussurra aos ouvidos. Em fundo, a irracional violência do divórcio. A bestialidade das palavras que atiramos uns aos outros como pedras. Uma mulher que espera ainda e sempre, à janela. Porque o coração é um bicho e não ouve. E uma pergunta a que não se ousa responder: Para onde vão os amores que foram um dia?




uma escrita crua, entrecortada por pensamentos e divagações pragmáticas e sarcásticas, de quem vê a vida como fatalidade incontornável, na óptica do «pode sempre piorar» ou do «não há nada a fazer», «é assim». um retrato do indizível, arriscado para uma figura pública que desperta paixões e ódios difíceis de esquecer fora do contexto. Tardei em ler pelo preconceito: não gosto da imagem, nem da postura de arrogância, mas depois lê-se e esquece-se a imagem, constrói-se outra... e ama-se a escrita, os retratos secos, e cria-se a empatia... e é mais!



«sonâmbula
sonâmbula
atirar-me para a cama e dormir a noite toda e a manhã toda e verificar no relógio que já é de tarde e dormir a tarde toda de seguida, sem fraldas, toalhetes húmidos, caixinhas de música de embalar que invariavelmente só me adormecem a mim e ao invés despertam no bebé sinfonias de choro requebrado, cai-me a cabeça sobre a roupinha dele na cadeira, surda
Ando mas não vejo
Acordo mas não estou»

«porque há um muro, um paredão grosso, intransponível, denso, que nos afasta, melhor dizendo, que se interpõe entre nós, porque duas pessoas serão sempre isso, duas pessoas, e em cada uma um vulcão de diferentes erupções, que palavra nenhuma traduz, um fogo ou um lado tranquilo, que não se consegue simplesmente traduzir ao dizer
- tenho aqui um fogo
- há hoje em mim um lago tranquilo
Porque duas pessoas são duas pessoas, não uma como a poesia do romance que te engana, não chegas nunca lá, às cavernas onde o teu coração ensaia magnitudes várias, ainda que durmam juntos, que comam juntos, que deêm as mãos, que viajem, que jurem nunca se separar e de facto não passem um minuto um sem o outro, por mais que se olhem, em silêncio, compenetrados, se olhem concentrados à espera de descobrir um fogo, uma mansa bacia de um rio preguiçoso, resta-te acreditar
Ou não»

«dizer-te as palavras certas mas tão pequeninas para que entendas, para que entendas, não apenas ouças, que se pode não ser capaz do que sabemos ser o correcto, e iríamos por aqui fora, com palavras para trás e para a frente, cada um com o seu saco de onde iríamos tirando à vez o que se segue
(…)
esquece as palavras. São doutro reino. Um coração não as decifra. Bate mais depressa ou mais devagar. É um bicho. E não ouve.»

«como pode acontecer-nos uma vida e caminharmos vazios»

«quando o coração dos outros se apaga não há nada que possamos fazer»

«tranquilidade de não pertencer. Nenhuma expectativa, nenhuma angústia.»

«sou inteiro. sou mil pedaços. ruminante e ubíquo.»

«a lutar, a lutar ainda, incapaz de aceitar que se perde sempre contra um coração, um coração que é um bicho, ninguém arranja nome para isto, que nome dar a isto, o dragão, a besta, o falso profeta, que é isto que se passa no coração da gente, onde a verdade e a mentira se agridem até à morte»



[Rodrigo Guedes de Carvalho - Mulher em Branco. Publicações Dom Quixote. 2006]

15 dezembro 2007

Peer Gynt

É a Miriam que nos atrai a um Concerto de Natal, com a Orquestra Sinfónica da Escola Superior de Música de Lisboa, sob a batuta do maestro Vasco Pearce de Azevedo.





O programa clássico da época ao qual nunca assisti. Mas o Palácio da Ajuda chamou com força, a sala D. Carlos esperava-nos e quando se ergueu o som do Peer Gynt de Edvard Grieg, já não havia volta a dar. Fiquei pregada, dormente, completamente envolvida em sons desconhecidos, familiares, em tons de cordas e piano, e sopros, numa harmonia 'sem dizente', num êxtase de ausência preenchida. Rostos desconhecidos, familiares... vozes, muitas vozes.




Seguiu-se o piano e Camille Saint-Saëns. Não sei o que impressionou mais, se os sons desconhecidos e surpreendentes, se a capacidade interpretativa de Eduardo Jordão, afinal um jovem tão próximo de Tomar, quanto hoje me posso considerar. E aquele piano de cauda magnífico. e aquele bem-estar tão raro que anseio guardar num frasco e tomá-lo agora e amanhã, e depois... sempre que precisar.



O concerto encerrou com Mozart. O inevitável, sem surpresas. Mas senti-me satisfeita e renovada.
E depois do conserto proporcionado pela música, pelos dizeres ao coração, o convívio: esse velho sábio que nos aquece, que nos faz sentir humanos, sempre humanos.
Obrigada minhas queridas e meus queridos! Valeu cada segundo.


12 dezembro 2007

Crucificação


.

Vertical sou contra Deus
Horizontal a favor.
Nesta cruz me crucifico
Vertical com desespero
Horizontal com amor.


[Natália Correia]

07 dezembro 2007

Apologize

I'm holding on your rope,
Got me ten feet off the ground
And I'm hearing what you say but I just can't make a sound
You tell me that you need me
Then you go and cut me down, but wait
You tell me that you're sorry
Didn't think I'd turn around, and say...

That it's too late to apologize
It's too late
I said it's too late to apologize
It's too late

I'd take another chance, take a fall
Take a shot for you
And I need you like a heart needs a beat

But it's nothing new
I loved you with the a fire red
Now it's turning blue, and you say...
"Sorry" like the angel
Heaven let me think was you
But I'm afraid...


I'm holdin on your rope, got me ten feet off the ground...


[muitas vezes refiro que as desculpas não se pedem, evitam-se e pauto a minha vida por essa máxima evitando magoar, evitando fazer aos outros aquilo que a mim magoa. todavia como não somos todos iguais, há coisas que me magoam e não magoam os outros e coisas que acho triviais e os magoam a eles. continuo a não gostar que me magoem, mas sei aceitar um pedido de desculpas, continuo, no entanto, a preferir que não seja preciso que me peçam desculpas nem que seja necessário pedi-las. não me farei, no entanto, de vítima quando perceber que errei e magoei, só para evitar pedir desculpas. e nisso: ainda tens muito que aprender. tal como tens de aprender que um pedido de desculpas não é um penso rápido que se usa sempre que dá jeito e que se tira quando a ferida já não sangra. um pedido de desculpas tem de ser, no mínimo, sincero e é preciso aprender que, se originou um pedido de desculpas, aquele erro não é para voltar a cometer.]

02 dezembro 2007

Eragon


Muito antes dos pais de seus avós nascerem e mesmo antes dos pais deles, os Cavaleiros do Dragão foram formados. Proteger e zelar era a sua missão e, durante milhares de anos, eles tiverem sucesso. Sua destreza nas batalhas era inigualável, pois cada um deles tinha a força de dez homens. Eles eram imortais, a não ser que atingidos por lâmina ou veneno. Os seus poderes eram usados apenas para o bem e, sob sua tutela, foram construídas grandes cidades e torres de pedra viva. As riquezas jorravam para as cidades de Alagaesia, e os homens prosperavam.
Embora nenhum inimigo pudesse destruí-los, eles não conseguiram se proteger de si mesmos. E um dia, no auge de seu poder, nasceu um garoto, Galbatorix. Aos dez anos, ele foi testado e viram que nele residia um grande poder. Os Cavaleiros o aceitaram como um dos seus e ele superou todos os demais em habilidade. Dotado de uma mente atilada e um corpo forte, ele rapidamente se destacou entre os Cavaleiros.

Os Cavaleiros tornaram-se arrogantes com seu poder e ignoraram a prudência. Durante uma viagem descuidada, Galbatorix e dois amigos foram emboscados, seus amigos foram assassinados e o seu dragão foi morto. Durante meses, ele vagou, cada dia mais insano, até que foi encontrado inconsciente por um bondoso fazendeiro e foi devolvido ao conselho dos Cavaleiros.

Quando os Cavaleiros se recusaram a lhe conceder outro dragão, Galbatorix ficou louco de raiva. Jurando se vingar dos Cavaleiros, ele começou a aperfeiçoar-se no uso dos segredos negros que havia aprendido com um Espectro. Um dia, na escuridão da noite, ele roubou um ovo de dragão e convenceu Morzan, um Cavaleiro parvo, a juntar-se a ele na prática dos segredos negros e da magia proibida. Juntos eles ganharam força e travaram uma guerra de vingança contra os Cavaleiros. Outros doze Cavaleiros, que desejavam poder e vingança, juntaram-se a Galbatorix, e eles tornaram-se os Treze Renegados.

Na última batalha sangrenta, Galbatorix [John Malkovich] conseguiu dominar a todos e proclamou-se rei de toda a Alagaesia. E, desde aquele dia, ele governa.


Quando Eragon encontra uma pedra azul polida na floresta, acredita que poderá ser uma descoberta bendita para um simples rapaz do campo: talvez sirva para comprar carne para manter a família durante o Inverno.

Mas é então que nasce uma cria de dragão e movido pela curiosidade, Eragon aproxima-se de Brom (Jeremy Irons), um velho louco, que conta histórias de Cavaleiros e Dragões. Depressa Eragon se apercebe de que está perante um legado tão antigo como o próprio Império.
De um dia para o outro, a sua vida muda radicalmente, e ele é atirado para um perigoso mundo novo de destino, de magia e de poder. Empunhando apenas uma espada legendária e levando os conselhos de Brom, antigo Cavaleiro de Dragões, Eragon e o jovem dragão terão de se aventurar por terras perigosas e enfrentar inimigos obscuros, dum Império governado por um rei cuja maldade não conhece fronteiras. Conseguirá Eragon alcançar a glória dos lendários heróis da Ordem dos Cavaleiros do Dragão? O destino do Império pode estar nas suas mãos.

[um filme de esperança no improvável. expressão adocicada e previsível do maniqueísmo e a certeza que o bem vence. nada de novo, tudo previsível, mas é tão bom quando assim é para podermos ter um serão tranquilo e cheio de sonhos cor-de-rosa]