quem nada tem nada pode perder, mas quem arrisca pode ganhar tudo... 'sem a loucura que é o homem mais que a besta sadia, cadáver adiado que procria?' [Fernando Pessoa, D. Sebastião]
23 dezembro 2008
whale rider (2002)
Baseado no romance de Witi Ihimaera, Whale Rider conta a história de Paikea, uma jovem Maori (tribo neozelandesa). As gentes dos Whangara anseiam por um líder que lhes devolva a idade de ouro perdida nos vícios da modernidade. Mas os jovens estão mais interessados em nada fazer e abandonarem-se aos vícios do alcool e da droga.
Koro, o avô de Paikea, decide revitalizar os «ancient ways» ensinando aos jovens as tradições do povo, na esperança de encontrar o líder desejado. Contudo, Koro deseja que esse líder seja um homem e menospreza a neta, cujo feitio impulsivo, determinado e inteligente, não chega para o convencer que o passado poderá ter futuro na voz de uma mulher.
Paikea adora o avô e chega a compreender a discriminação e rejeição do mesmo, no entanto, aprende também na voz da natureza que terá de o enfrentar para poder cumprir o seu destino.
Realizado por Niki Caro, protagonizado pelos (quase) desconhecidos: premiada e nomeada Keisha Castle-Hughes (a Queen Naboo do 3º episódio do Star Wars), Rawiri Paratene, Vicky Haughton, Cliff Curtis, Grant Roa.
um filme enternecedor que nos mostra a importância: da manutenção das tradições de forma não dogmática, da necessidade de tenacidade quando buscamos o nosso destino, da determinação como lição de vida e felicidade.
Nota mais para o ensinamento da Haka e explicação das expressões visuais dos guerreiros. Um hino à tradição, reinventada pela modernidade. E mais: a demonstração que filmes não americanos têm grande qualidade! Viva a cultura dos povos!
11 dezembro 2008
Lay Down
Breathless, the emotions seeping out
Beyond my control
You spoke to my silence, and asked
Why so cold?
You ask for peace, I give you war
While you let go, I hold too tightly
I take my aim, you hit the floor,
I'm not ready to,
Lay down my arms
Cracking, my defences breaking down
The unravelling, of a rope I put around me
You wont take no for an answer
I didn't know I was missing out, 'til you lost and I, I won
You made me realise my incompleteness alone
Can no longer live by candlelight
When you show me the sun
04 dezembro 2008
Dark Night
Foi anunciado no passado dia 26 de Novembro, a morte do Homem Morcego. A notícia do Nuno Aguiar no Público refere que Batman morre ao fim de 70 anos. Contudo, a dúvida e o suspense mantém-se à semelhança do que acontece com o último filme da saga realizado por Christopher Nolan.
O filme co-protagonizado por Christian Bale e Heath Ledger, tornou-se célebre na fase de pós-produção devido morte «acidental» deste último.
O filme é denso, as personagens complexas e contraditórias, podendo, por isso, ser encaradas como aborrecidas, inconvenientes.
Bruce Wayne é um homem complexo, constantemente torturado pelas consequências de suas acções. Lamenta ter despertado o surgimento de “justiceiros/vigilantes”, assim como, de vilões como o Joker. Wayne deseja desesperadamente encontrar uma solução que lhe permita abandonar a máscara e viver uma existência normal. Consequentemente, as suas esperanças em Harvey Dent soam tocantes por denunciarem a sua fragilidade emocional. O Cavaleiro das Trevas está cansado e nunca antes o herói foi tão cobrado física, emocional e psicologicamente – e Christian Bale encarna este cansaço (e também a determinação resultante) de maneira impecável.
Enriquecido também por um elenco secundário extremamente coeso, O Cavaleiro das Trevas emprega cada personagem com um propósito específico: Alfred representa o calor humano tão importante para manter Bruce Wayne ligado ao mundo real; o tenente Gordon funciona como um aliado estratégico fundamental e a crença remanescente nas Instituições; Lucius Fox oferece ao espectador a impressão de que todas aquelas bugigangas são plausíveis; e Rachel Dawe encarna a esperança de Wayne num futuro melhor. Finalmente, ao Harvey Dent representado de maneira trágica por Aaron Eckhart, que retrata com intensidade a instabilidade crescente de um homem que, mesmo determinado a fazer o que é certo, sente cada vez mais o peso da pressão exercida pelos oponentes – e é justamente por acreditarmos naquele homem que a sua trajectória se torna tão dolorosamente trágica.
O dilema incessante entre o herói que merecemos e o herói de que precisamos, encarnando desta forma a imperfeição da vida, tão pouco coincidente com a dos heróis-deuses, com a demanda da perfeição para a recompensa final. Batman é um herói humano, que abdicou de si em prol dos outros percebendo que para os ajudar deveria pecar. O anjo caído no pecado de matar e ferir outro ser humano perde-se, então, no dilema de também ser um criminoso perseguido, persona non grata, porque moralmente incorrecta. Fará Batman o bem ao eliminar os criminosos? Serão os meios utilizados os mais correctos? Quem avalia? Quem condena? Quem absolve?
No filme, o Dark Knight perde-se na noite, assumindo que deve ser perseguido para deixar de ser um modelo social, pois é moral e eticamente incorrecto. Na banda desenhada, os criadores foram mais radicais: R.I.P. Batman, o descanso merecido do herói cansado, que no entanto é o herói mais conforme com a sociedade actual: amoral e pouco ética, em que os fins justificam os meios.
Notícia do Público:
Chega hoje às bancas aquele que é provavelmente o fim do “Cavaleiro das Trevas” tal qual o conhecemos. Grant Morrison, o actual argumentista da série de comic books, já afirmou que será o “fim de Bruce Wayne como Batman.”
O desenlace da história poderá ser visto no mais recente número da série - "R.I.P. Batman". Um dos maiores mistérios é quem será o responsável pelo seu desaparecimento. Como seria de esperar, os rumores na Internet encarregaram-se de criar os mais diversos cenários e até apostas. No site de apostas Paddy Power, quem apostar dez dólares em como é o mordomo a matar Bruce Wayne, no final do dia ganhará 660. As hipóteses consideradas mais prováveis são as de Batman se retirar sem ferimentos e o vilão Black Glove assassiná-lo.
“O que estou a planear é um destino pior que a morte, coisas que ninguém esperaria que acontecessem a estes tipos”, afirmou Grant Morrison, em entrevista à "Comic Book Resources".
A primeira aparição de Batman foi em 1939, no número 27 de “Detective Comics”, publicado pela DC Comics. Batman, é o alter-ego de Bruce Wayne, um empresário bilionário de Gotham City que se mascara durante a noite para combater o crime na cidade. Ao contrário da maioria dos super-heróis, não tem qualquer poder sobre-humano, nem utiliza armas de fogo, refugiando-se na sua imagética simbólica de morcego para atemorizar os vilões.
Esta não é a primeira vez que um super-herói morre. No ano passado, o Capitão América foi atingido mortalmente por um atirador furtivo, e já em 1992, o Super-Homem foi morto por Doomsday, naquele que se tornou o número mais vendido de sempre da série. O “Homem de Aço” viria a ressuscitar dos mortos, constituindo-se agora na bolsa de apostas como a hipótese menos provável, mas também a mais rentável, para matar Batman, numa relação de 1-150.
Este volte face na história do “Cavaleiro das Trevas” vai obrigar a encontrar um substituto, cujo nome Morrison se recusou a revelar. Contudo, as personagens Tim Drake (actual Robin) e Dick Grayson (antigo Robin) são duas das hipóteses mais avançadas.
22 novembro 2008
o mar fala de ti
Eu nasci nalgum lugar
Donde se avista o mar
Tecendo o horizonte
E ouvindo o mar gemer
Nasci como a água a correr
Da fonte
E eu vivi noutro lugar
Onde se escuta o mar
Batendo contra o cais
Mas vivi, não sei porquê
Como um barco à mercê
Dos temporais.
Eu sei que o mar mão me escolheu
Eu sei que o mar fala de ti
Mas ele sabe que fui eu
Que te levei ao mar quando te vi
Eu sei que o mar mão me escolheu
Eu sei que o mar fala de ti
Mas ele sabe que fui eu
Quem dele se perdeu
Assim que te perdi.
Vou morrer nalgum lugar
De onde possa avistar
A onda que me tente
A morrer livre e sem pressa
Como um rio que regressa
Á nascente.
Talvez ali seja o lugar
Onde eu possa afirmar
Que me fiz mais humano
Quando, por perder o pé,
Senti que a alma é
Um oceano.
[amarei para sempre o mar, por ter alma de oceano, ou por
ter os olhos poisados no infinito:
sempre mais longe que o perto, sempre tão perto do resto]
13 novembro 2008
The Man Who Can't Be Moved
Gonna camp in my sleeping bag I'm not gonna move,
Got some words on cardboard got your picture in my hand,
Saying if you see this girl can you tell her where I am,
Some try to hand me money they don't understand,
I'm not... broke I'm just a broken hearted man,
I know it makes no sense, but what else can I do,
How can I move on when I'm still in love with you...
Cos if one day you wake up and find that you're missing me,
And your heart starts to wonder where on this earth I can be,
Thinking maybe you'll come back here to the place that we'd meet,
And you'd see me waiting for you on the corner of the street.
So I'm not moving...
I'm not moving.
Policeman says son you can't stay here,
I said there's someone I'm waiting for if it's a day, a month, a year,
Gotta stand my ground even if it rains or snows,
If she changes her mind this is the first place she will go.
Cos if one day you wake up and find that you're missing me,
And your heart starts to wonder where on this earth I can be,
Thinking maybe you'll come back here to the place that we'd meet,
And you'd see me waiting for you on the corner of the street.
So I'm not moving...
I'm not moving.
I'm not moving...
I'm not moving.
People talk about the guy
Who's waiting on a girl...
Oohoohwoo
There are no holes in his shoes
But a big hole in his world...
Hmmmm
and maybe I'll get famous as man who can't be moved,
And maybe you won't mean to but you'll see me on the news,
And you'll come running to the corner...
Cos you'll know it's just for you
I'm the man who can't be moved
I'm the man who can't be moved...
Cos if one day you wake up and find that you're missing me,
And your heart starts to wonder where on this earth I can be,
Thinking maybe you'll come back here to the place that we'd meet,
And you'd see me waiting for you on the corner of the street.
[Repeat in background]
So I'm not moving...
I'm not moving.
[The Script, jovens irlandeses de Dublin chegam com uma música easy listening sobre amor e determinação e demasiado tempo livre. Eitherway, fica no ouvido, é romântica e fez-me acreditar em vontade e esperança, coisa que falta a muita gente.]
08 novembro 2008
El Laberinto del Fauno
“Espanha, 1944" Oficialmente, a Guerra Civil já terminou há cinco anos, mas um pequeno grupo de rebeldes continua a lutar, invencível, no norte montanhoso de Navarra. Ofélia, uma sonhadora com 10 anos, muda-se para Navarra com a sua mãe, grávida e frágil para conhecer pessoalmente o seu novo padrasto, Capitão Vidal, um oficial fascista com ordens para eliminar os rebeldes do território remoto. Fascinada por contos de fadas, Ofélia descobre um grandioso labirinto a desmoronar-se atrás do moinho onde se instalou o Capitão Vidal. No centro do labirinto ela conhece Pan, um velho brincalhão que diz saber a verdadeira identidade e o destino secreto de Ofélia. Ela é uma princesa, a filha desaparecida do Rei das Fadas. Pan oferece-lhe a oportunidade de voltar ao subterrâneo e governar o reino mágico do pai. Mas primeiro, ela deve executar três tarefas antes da lua cheia…
Ano: 2006
Realizaçãoe Argumento: Guillermo del Toro
Actores: Ivana Baquero, Sergi López, Maribel Verdú
O exemplo de como a imaginação, os medos e sonhos que a povoam nos levam a viver vidas que nos dão alento, ocupam o tempo, mas acima de tudo nos fazem felizes. Perante um mundo de sofrimento e contrariedade, Ofélia encontra o porto de abrigo e as missões da sua infância no sentido de prolongar a vida daqueles que ama e que vê extinguir-se a pouco e pouco. A negação de uma existência forçada e rodeada de ódio e incompreensão e que acaba necessariamente de acordo com a crueldade dos homens que almejam o poder, subjugar e torturar os outros. Mas a vida de Ofélia não pertence a este mundo, ela garantiu a sua perenidade na liberdade do seu mundo imaginário onde pode ser quem quer e onde pai e mãe se reencontram, afinal a visão da vida para além da morte, num mundo simplesmente perfeito.
08 outubro 2008
This is the Life
Poison Prince
A poetic genius is something I don’t see
why would a genius be trippin on me
And he's looking at me now
But what he can’t see
Is that I’m looking through his eyes
So many lies behind his eyes
And tell me stories from your past
Sing me songs you wrote before
I tell you this my poison prince
You'll soon be knockin on heavens door
Some kinda poison prince with your eyes in a daze
Some kinda poison prince your life is like a maze
And what we all want, and what we all crave
is an upbeat song so we can dance..
The night away
Oh who said life was easy
who said life was fair
who said nobody gives a damn and nobody even cares
The way you’re acting now like you left that all behind
You've given up, you've given in
Another sucker of that slime
02 outubro 2008
Pedro Homem de Mello (1955)
Grande, grande era a cidade... (1955)
Noite
Em lábio indecifrável e olhar baço!
Ó noite de água e sombra, vento e lume,
Tentadora e subtil como um regaço!
Ó hálito do medo! Ó flor do engano,
Irmã de quanto lobo houver faminto!
Clandestino punhal com que o cigano
Descalça a luva e desaperta o cinto...
Ó Pátria desonesta, incestuosa!
Ó prontidão do mal a cada aceno!
Suspiro... beijo... pétala de rosa...
Amor? Em vez de amor digam veneno.
Digam castigo ou crime. Não importa.
Mas digam noite na cidade morta!
Tédio
Já perdi a conta aos meses.
Dezembro? Janeiro? Maio?
Batem-me à porta, por vezes,
Não saio. Finjo que saio.
Mas regresso à velha mesa,
Por vício, não por enlevo.
Filho da própria incerteza,
Escrevo. Finjo que escrevo...
Que dia é hoje? Sei lá!
O sinal da cruz diz: mais.
E uma hora quando é má
Diz que as outras são iguais.
Nazareno
Velho, um marujo sonha... Onde ele for
Hão-de arrastar-se as cordas da viola.
Outrora, jovem, mendigava amor
E, sendo pobre, recusava a esmola.
A quem, de noite, lhe pedisse lume,
Com um sorriso ingénuo respondia...
E logo a rua má tinha perfume
E em todos os relógios era dia!
Hoje vagueia no jardim deserto.
Somente as ondas vêm bater no cais.
E a sua enxerga, sórdida, já perto,
Revela manchas que não saem mais.
Nenhuma estrela rasga a escuridão
Nenhuma prece oculta nos inspira.
Nem mesmo a glória de esconder em vão
Seus olhos, cor de pérola e safira.
Intimidade
Hás-de voltar mais loira que as espigas
Ó musa bela do meu sonho ledo!
Parávamos... cantavas-me cantigas.
Dizias-me ao partir, chorando: - É cedo.
Hás-de voltar! E a noite? E a poesia?
E tudo quanto a idade leva embora?
Talvez que um anjo, súbito, sorria
E nos conceda o olhar que se demora...
Hás-de voltar! Ao longe era a neblina.
Carícia de onde pela praia absorta...
- mas, para já, corramos a cortina!
Fechemos, meu amor, aquela porta...
Fonte
Meu amor diz-me o teu nome
- nome que desaprendi...
Diz-me apenas o teu nome.
Nada mais quero de ti.
Diz-me apenas se em teus olhos
Minhas lágrimas não vi,
Se era noite nos teus olhos,
Só por que passei por ti!
Depois, calaram-se os versos
- versos que desaprendi...
E nasceram outros versos
Que me afastaram de ti.
Meu amor, diz-me o teu nome.
Alumia o meu ouvido.
Diz-me apenas o teu nome,
Antes que eu rasgue estes versos,
Como quem rasga um vestido!
Apartamento
Lembrava seu corpo, ao longe,
Um navio naufragado...
Disse-lhe adeus. Era tarde.
Já vnha a sombra a meu lado!
Como quem, morta a esperança,
Entra em silêncio no mar,
Vi seu corpo entrar na treva...
Quis-me deitar a afogar!
Levei os lábios aos dedos.
Caiu-me a noite no peito.
Disse-lhe adeus. Era tarde.
Estava o sonho desfeito!
Tudo era noite e segredo.
Noite de pedra pesada.
Disse-lhe adeus. Era tarde.
E não lhe disse mais nada.
Companheiro
Negaram-lhe a água.
Negaram-lhe o vinho,
As rosas, o leite...
E se encontrou cama
Onde ainde se deite
É porque a beleza
É feita de mágoa.
Meu único amigo,
Meu único irmão,
Embrulhou-o a Lua
Em seu cobertor...
Meu único amigo,
Meu único irmão!
Não teve jazigo,
Não teve caixão,
Teve uma guitarra:
O meu coração.
30 setembro 2008
Jane Eyre
Jane Eyre é uma jovem órfã de pais e que acaba órfã de tio ficando à guarda de uma tia amarga que a odeia. Jane é especial, é arrebatada pela paixão de viver, pelos sentimentos. É igualmente forte o que cativa quem a ama e provoca o ódio de quem a inveja. A tia torna-lhe a vida miserável e não cumpre a promessa feita ao marido de a criar como sua filha. Por vingança, esconde a Jane que ela tem mais família e envia-a para um colégio interno - Lowood - onde a maior parte das jovens morre com uma febre provocada pelo frio e pela má alimentação.
Em Lowood, Jane conhece o valor da amizade e da perda quando a sua única amiga morre. Mas sobrevive e candidata-se a perceptora da jovem francesa Adéle em Thornfield, sob as ordens de um homem amargo, sofrido e enigmático - Mr. Rochester.
A frontalidade de Jane e o seu arrebatamento levam-na à conquista do seu lugar e ao respeito de Mr. Rochester tornando-se a sua companhia preferida. Contudo em Thornfield, os mistérios do passado assombro as noites e condenam o amor da perceptora com o dono da casa.
Adaptação da BBC para Televisão, esta mini-série de 2006 teve o dom de me fazer rir, adorar personagens sarcásticas, admirar a paciência e a calma, acreditar na paixão e no encontro de duas almas que de tão diferentes se tornaram tão iguais. Uma lição de tolerância, o revivalismo dos valores de uma Inglaterra vitoriana, a prova de que a adaptação de grandes obras (esta de Charlotte Bronte) se recomenda vivamente. São obras como esta que me lembram de como o amor só acontece quando deve, pois há forças no Universo que têm de ser alinhadas, para proporcionar a felicidade sem entraves, o quadro de família perfeito. Se há perfeição o Toby Stephens deve fazer parte dela :))
Produzido por: Susanna White
Protagonizado por: Rute Wilson e Toby Stephens
29 setembro 2008
un ange parmis les loups
28 setembro 2008
ange parle-moi
L'ange parle-moi !
Le plus vaste des cœurs se brise.
Parle-moi !
L'hiver pourvu qu'on le cultive.
Dans cette pièce
Nul semble respirer
Ici, c'est un...
Abri qui m'a été donné !
Don't let me die, l'ange
Don't let me die, l'archange
Tu sais le temps qu'il faut pour apaiser
Nos peines
Don't let me die,
Et dis encore "je t'aime"
Parle-moi !
Pourquoi cette couleur trompeuse ?
Ange, parle-moi !
De voir qu'en lui, ils étaient deux.
Je sais ce que...
Mentir veut dire pour moi
Tu sais
Dieu a rompu
Son pacte avec cet étranger !
Parle-moi, parle-moi
Dis-moi si tu es là ?
Ange, parle-moi, parle-moi
Dis-moi si tu es là ?
[pois é às vezes sou tomaia, preciso que me lembres que estás... não me deixes... fala comigo!]
Pedro Homem de Mello (1947-1954)
Bodas Vermelhas (1947)
Canção Hindu
Nesta rua cansada que morreu,
A luz doira e perfuma as pedras velhas.
Na minha rua as mãos foram vermelhas
E hoje são brancas, pálidas como eu.
A água, ao nascer, enterra o sol poente...
Na igreja há ruínas, mas no altar há cravos.
E, para a sede, há vinho que nos mente
E que liberta os braços dos escravos.
Cegos, leprosos, mas que não tem fim.
(Sofriam mais, talvez, não sendo assim...).
Meu país sem futuro e sem presente!
Minha pátria de ausência e podridão!
Negros? Judeus? Cativos? – Tudo é gente.
Só quem ri dos Poetas é que não.
Miserere (1948)
Remorso
Lembro o seu vulto, esguio como espectro,
Naquela esquina, pálido, encostado!
Era um rapaz de camisola verde,
Negra madeixa ao vento,
Boina maruja ao lado...
De mãos nos bolsos e de olhar distante
- jeito de marinheiro ou de soldado...
Era um rapaz de camisola verde,
Negra madeixa ao vento,
Boina maruja ao lado.
Quem o visse, ao passar, talvez não desse
Pelo seu ar de príncipe, exilado
Na esquina, ali, de camisola verde,
Negra madeixa ao vento,
Boina maruja ao lado.
Perguntei-lhe quem era e ele me disse:
Sou do Monte, Senhor! E seu criado...
Pobre rapaz da camisola verde
Negra madeixa ao vento,
Boina maruja ao lado!
Porque me assaltam turvos pensamentos?
Na minha frente estava um condenado?
- Vai-te! rapaz de camisola verde,
Negra madeixa ao vento,
Boina maruja ao lado!
Ouvindo-me, quedou-se, altivo, o moço,
Indiferente à raiva do meu brado.
E ali ficou, de camisola verde,
Negra madeixa ao vento,
Boina maruja ao lado...
Ali ficou... e eu, cínico, deixei-o
Entregue à noite, aos homens, ao pecado...
Ali ficou, de camisola verde,
Negra madeixa ao vento,
Boina maruja ao lado...
Soube eu depois, ali, que se perdera
Esse que, eu só, pudera ter salvado!
Ai! do rapaz da camisola verde,
Negra madeixa ao vento,
Boina maruja ao lado!
Fado
Eu tenho dois corações
Dentro e fora do meu lar.
Eu tenho dois corações.
Mas esses dois corações
Já me não podem bastar.
Quando a tristeza é tão triste,
Qual dos dois sofrerá mais?
O que é real não existe.
Eu tenho dois corações,
Ambos eles irreais.
Dois corações: o primeiro
Pertence à rua e ao pecado.
O segundo é cativeiro
De quem se fez caminheiro
Sem nunca ter caminhado!
Amor que se diga amor,
Não é homem nem mulher.
Engano? Seja o que for!
Como gostar duma flor
Sem gostar doutra qualquer?
Adeus (1951)
Aliança
Por tudo quanto sei, mas não sabia,
(Feliz de quem um dia ainda o souber!)
Por essa estrela branca em noite fria!
Anunciação, talvez, de poesia...
Por ti, minha mulher!
Por esse homem que sou, mas não era,
Vendo na morte a vida que vier!
Por teu sorriso em minha vida austera.
Anunciação, talvez de Primavera...
Por ti, minha mulher!
Pelo caminho humano a que vieste
Com fé no amor. – Seja o que Deus quiser!
Por certa fonte abrindo a rocha agreste...
Por esse filho loiro que me deste!
Por ti, minha mulher!
Pelo perdão que espalho aos quatro ventos,
De antemão cego ao mal que me trouxer
Despeitos surdos, pérfidos momentos;
Pelos teus passos, junto aos meus, mais lentos...
Por ti, minha mulher!
Nada mais digo. Nada. Que não posso!
Mas dirá mais do que eu quem não disser
Como eu?: - Avé-Maria... Pedre-Nosso...
Por tudo, quanto é meu (e que é tão nosso!)
Por ti, minha mulher!
Os amigos infelizes
Vendem-se os corpos? O meu é firme:
Rosto sereno, líquido olhar.
E há-de a miséria vir destruir-me?
Onde é que há oiro que o vou buscar?
Vendem-se as almas? A minha é pura.
Cercam-na rosas, fontes, luar...
Tenho alma e corpo – sexo e cintura...
Onde é que há oiro que o vou buscar?
Vendem-se versos – Com a voz triste
Compus poemas talvez sem par...
Quando cantamos, quem nos resiste?
Onde é que há oiro que o vou buscar?
Vendem-se as Pátrias? – Não vendo a minha.
Que é do meu nome? Que é do meu lar?
Ai! a miséria que se avizinha!
Onde é que há oiro que o vou buscar?
No entanto passas... Nada me dizes?
Talvez que eu pese em teu olhar...
Ó meus amigos sempre infelizes!
Ó meus amigos sempre infelizes,
Onde é que há oiro que o vou buscar?
Os amigos infelizes (1952)
Apelo
Quem quer que sejas, vem a mim apenas
De noite, quando as rosas adormecerem!
Vem quando a treva alonga as mãos morenas
E quando as aves de voar se esquecem.
Vem a mim quando, até nos pesadelos,
O amor tenha a beleza da mentira.
Vem quando o vento acorda em meus cabelos,
Como em olhagem que, ávida, respira...
Vem como a sombra, quando a estrada é nua,
Num risco de asa, vem, serenamente!
Como as estrlas, quando não há Lua
Ou como os peixes, quando não há gente...
Francisco
Trazia-nos o mar quando cantava...
Era seu canto a própria maresia!
Contudo, em sua boca, uma flor brava –
Rosa de carne – à terra, ainda o prendia.
Nos seus dedos, as sombras das gaivotas
Poisavam sem poisar...
Mastro perdido! Inverosímeis rotas
Que nunca mais hão-de recomeçar!
Seria frágil? Sim, porque era forte.
Seria bom? Não sei... mas era puro.
Tinha a beleza que anuncia a morte
Do lírio prematuro.
Quadril enxuto. E o peito? – Asas redondas
Com que se voa mais que se respira!
Corpo de efebo no cristal das ondas.
Em vez de vermes, algas de safira...
Sombra
Aquela estrela apagada
Que tantas vezes luziu,
Ó meu amor não foi nada!
Foi um de nós que partiu...
E aquela flor? Ai! da flor!
Quem a pisou? Tu ou eu?
Não foi nada, ó meu amor!
- Foi um de nós que morreu...
E aquela folha caída
Que logo o vento levou?
Ó meu amor! foi a vida.
- Foi um de nós que passou...
Claustro
Como se a noite fosse clara,
Como se o lume fosse frio,
Procuro ler em cada rio
Aquela curva que separa...
Como se um pássaro pudesse
Levar consigo a minha imagem,
Na inconfidência da folhagem
Procuro o voo duma prece.
Como se a morte fosse o muro
E a vida apenas a parede,
Procuro ver, por trás da sede,
A fome que ainda não procuro.
Como se, negra, uma bandeira
Me trespassasse o coração,
Procuro, em toda a escuridão,
A minha Pátria verdadeira.
Como se o dia fosse de água
E respirasse como um peixe,
Procuro a fonte que me deixe
Beber, sozinho, a minha mágoa...
Espera
Quando virás na vaga proibida,
Com maresia e vento ao abandono,
Pôr nos meus lábios um sinal de vida
Onde haja apenas pétalas e sono?
Com teu olhar de nuvem ou cipreste,
Com uma rosa oculta por florir,
Se te chamei e nunca mais vieste
Quando virás sem que eu te mande vir?
Quando, quebrando todos os segredos,
Na aragem que a poesia deixa nua,
Virás deitar-te um pouco nos meus dedos
Como o Sol, como a Terra, como a Lua?
E por que a minha boca te sorrira
Tentando abrir uma invisível grade,
Quando virás, sem medo e sem mentira,
Dar a meu corpo a sua liberdade?
Os amigos infelizes
Andamos nus, apenas revestidos
Da música inocente dos sentidos.
Como nuvens ou pássaros passamos
Entre o arvoredo, sem tocar nos ramos.
No entanto, em nós, o canto é quase mudo.
Nada pedimos. Recusamos tudo.
Nunca para vingar as próprias dores
Tiramos sangue ao mundo ou vida às flores.
E a noite chega! Ao longe, morre o dia...
A Pátria é o Céu. E o Céu, a Poesia...
E há mãos que vêm poisar em nossos ombros
E somos o silêncio dos escombros.
Ó meus irmãos! em todos os países,
Rezai pelos amigos infelizes!
O rapaz da camisola verde (1954)
Solidão
Ó solidão! À noite, quando, estranho,
Vagueio sem destino, pelas ruas,
O mar todo é de pedra... e continuas.
Todo o vento é poeira... e continuas.
A Lua, fria, pesa... e continuas.
Uma hora passa e outra... e continuas.
Nas minhas mãos vazias continuas,
No meu sexo indomável continuas,
Na minha branca insónia continuas,
Paro como quem foge. E continuas.
Chamo por toda a gente. E continuas.
Ninguém me ouve. Ninguém! E continuas.
Invento um verso... e rasgo-o. E continuas.
Eterna, continuas...
Mas sei por fim que sou do teu tamanho!
13 setembro 2008
Pedro Homem de Mello (1944)
Fui pedir um sonho ao jardim dos mortos
Fui pedir um sonho ao jardim dos mortos
Quis pedi-los, aos vivos. Disseram-me que não.
Os mortos não sabem, lá onde é que estão,
Que neles se enfeitam os meus braços tortos.
Os mortos dormiam... Passei-lhes ao lado.
Arranquei-lhes tudo, tudo quanto pude;
Páginas intactas – um livro fechado
Em cada ataúde.
Ai as pedras raras! As pedras preciosas!
Relâmpagos verdes por baixo do mar!
A sombra, o perfume dos cravos, das rosas
Que os dedos, já hirtos, teimavam guardar!
Minha alma é um cadáver pálido, desfeito.
As suas ossadas
Quem sabe onde estão?
Trago as mãos cruzadas...
Pesam-me no peito.
Quem sabe se a lama onde hoje me deito
Dará flor aos vivos que dizem que não?
Fugindo à voz do amor, fugindo à luta,
A lágrima que nasce em mim nem rola
Fica-me a face branca, branca e enxuta;
Cruzei os braços recusando a esmola.
Por astúcia esquivei-me a qualquer crime.
Com gestos hábeis, cínicos de bruxo.
Desconheço o remorso que redime.
Dei-me à virtude fria como a um luxo.
Escuridão
Negra, sim, como os cravos são vermelhos,
Negra, sim, como a neve é branca e fria,
Negra como as mãos postas e os joelhos
Assim é negra a noite do meu dia.
Negra como o que penso e o que não dizes!
(Lembro não sei que pássaro ao poente...)
Ai! a fronteira em todos os países
Ai! um só fruto proibido e ardente!
Negra como a ignorância e a realeza
Dos braços que se cruzam com desdém.
Negra como a raiz oculta e presa
Como o nome (tão meu) de Pedro Sem!
Negra como os vestígios maus do sangue
E o destino de toda a Poesia...
Negra como esse corpo, doce e langue,
Que da sua beleza não sabia...
Assim é negra a noite do meu dia,
Negra como as mãos postas e os joelhos,
Negra, sim, como os cravos são vermelhos,
Negra, sim, como a neve é branca e fria...
Ela há-de vir como um punhal silente
Cravar-se para sempre no meu peito.
Podem os euses rir na hora presente
Que ela há-de vir como um punhal direito.
Cubram-me lutos, sordidez e chagas!
Também rubis das minhas mãos morenas!
Rasguem-se os véus do leito em que me afagas!
- A coroa de ferro é cinza apenas...
E ela há-de vir a lepra que receio
E cuja sombra, aos poucos me consome.
Ela há-de vir, maior que a sede e a fome,
Ela há-de vir, a dor que ainda não veio.
Príncipe Perfeito
Aquele estranho soldado
Nunca a farda ele a rompeu
Aquele estranho soldado,
Cujo exército é parado;
Sou eu.
Aquela estrela cadente,
Depois de cair da altura,
Quem se lembra que ela ardeu?
Aquela estrela cadente
Sou eu.
Não foi sobre mar revolto,
Foi sobre pálido lago
Que certa nau se perdeu...
Aquela barca perdida
Sou eu.
Sei dum livro ainda fechado.
Porque é que ninguém o leu?
- Era uma vez um Poeta...
Aquele conto ignorado
Sou eu.
Nem os palmos de chão tenho
Que o destino aos mortos deu!
Não tenho um palmo de terra!
Não tenho nada. O Poeta
Sou eu.
Ó Pássaro de Pedra!
As tuas horas longas são as minhas...
À nossa frente os Oceanos falam.
Mas nós emudecemos.
À nossa beira uns choram: outros riem.
Mas nós ficamos frios e parados.
Logo, ao cair da noite,
As plantas dormem...
Os corpos vão juntar-se
Livremente.
Esses versos que o dias encarcerou!...
E eu
E tu
Morremos de cansaço,
De olhos postos no céu dos que voaram!
Ouviu-se ao longe a música da vida
Ao longe ouvi-a, em meu caixão deitado...
Não me acordou a música da vida!...
Dormi, sonhando, em meu caixão deitado,
Cavalos brancos e selins de prata,
Carroções de oiro, de oiro mas vazios,
Histórias velhas, velhas mas sem data,
Tudo como eu. Lábios turbados, frios...
Ninguém calcou a minha sepultura!
A mim chegou só o eco de outros passos!
Canção morta? Afinal, canção futura.
Sono de membros alquebrados, lassos...
Condenação! Dedo que me detém!
Ficou um sopro sobre o meu poisado...
Anjos? Demónios? Não me viu ninguém.
Vivi dormindo em meu caixão fechado.
O ritmo... A cor... O aroma... Essas nascentes
Deviam-me bastar!
Mas não! Tenho pulmões. Preciso de ar.
Trago entreaberta a boca e tenho dentes...
E o sonho? E o amor? As vibrações secretas
Deviam dar-me o alento de viver!
De que lama são feitos os Poetas
Que buscam só prazer?
Sei que há sombras e há fundos matagais...
Corpo trigueiro e forte! Por que esperas
Para saciar o instinto? Nada mais
Do que a fome dá pão e alma às feras.
Devia ser um beijo
E foi só chaga aberta!
Devia ser harpejo.
E fo nota deserta!
Ó formosura acesa!
Que é dos voos eternos?
- Caminhos de beleza
Desceram aos infernos...
Deviam ser caminhos
Onde a nossa alma fosse
Envolta em seus arminhos.
Que é da beleza doce?
Deviam ser mil rosas,
Todas resplandecentes!
Deviam ser mil rosas,
Com místicas sementes!
Deviam ser mil rosas.
E foram mil serpentes:
- Volúpias monstruosas,
Contactos decadentes...
A nascente dorida dos meus rios
Não se vê.
Meus versos, escrevi-os
Para quê?
Sofri meus pensamentos e cantei-os,
(Não foi só por cantar!)
Neles ficaam linhas de alvos seios
E tintas apagadas de luar...
Mas a nascente viva dos meus rios
Não se vê.
Meus versos, escrevi-os
Para quê?
Alguém ao lê-los não sentiu a prece?
Ah! minha rubra lágrima perdida!
Segredo? Uma vez dito, logo esquece...
Bailado? Enquanto o danço é que tem vida!
Pediram-me a alma. Dei-a.
Chamaram-lhe bruma!
Pediram-me sangue. Dei-o.
Chamaram-lhe espuma.
E atordoou-me o toque do clarim
Do que era loiro, ardente e amanheceu.
Nabucodonosor! Um nome assim,
Podia ser o meu.
As mãos do rei podiam ser as minhas.
A sua raça continua em mim.
Petrificaram-me as rainhas
À mesa do festim...
Ó danças
Por florir!
Mesopotâmia! Índia! Roma! Alcácer Quibir!
Prometeram-me lírios, cordeiros, avees mansas...
Fora príncipe cego o meu único irmão!
Minha sala de baile uma rocha bem quieta!
Os homens não me viram e nunca me verão,
A mim, que sou Poeta.
05 setembro 2008
Pedro Homem de Mello (1934-1944)
Não choreis os mortos
Não choreis nunca os mortos esquecidos
Na funda escuridão das sepulturas.
Deixai crescer, à solta, as ervas duras
Sobre os seus corpos vãos adormecidos.
E quando, à tarde, o Sol, entre brasidos,
Agonizar... guardai, longe, as doçuras
Das vossas orações, calmas e puras,
Para os que vivem, nudos e vencidos.
Lembrai-vos dos aflitos, dos cativos,
Da multidão sem fim dos que são vivos,
Dos tristes que não podem esquecer.
E, ao meditar, então, na paz da Morte,
Vereis, talvez, como é suave a sorte
Daqueles que deixaram de sofrer.
Canção à ausente
Para te amar ensaiei os meus lábios...
Deixei de pronunciar palavras duras.
Para te amar ensaiei os meus lábios.
Para tocar-te ensaiei os meus dedos...
Banhei-os na água límpida das fontes.
Para tocar-te ensaiei os meus dedos!
Para te ouvir ensaiei meus ouvidos!
Pus-me a escutar as vozes do silêncio...
Para te ouvir ensaiei meus ouvidos!
E a vida foi passando, foi passando...
E, à força de esperar a tua vinda,
De cada braço fiz mudo cipreste.
A vida foi passando, foi passando...
E nunca mais vieste!
Quando o vento dobrou todo o salgueiro
Quando o vento dobrou todo o salgueiro
E as folhas caíram sobre o tanque
Disseste-me em segredo:
- A vida é como as folhas
E a morte é como as águas!
Depois, à nossa frente,
Um pássaro cortou com o seu voo azul
Os caminhos do vento.
E tu disseste ainda:
- O amor é como as aves...
Mas quando aquele pássaro, ferido
Já nem sei por que bala,
Veio cair ao tanque,
Mais negros e mais fundos os teus olhos
Prenderam-se nos meus!
E não disseste nada...
Berço
Mansa criança brava,
Fui das mais,
Diferente.
Então, tristes, meus pais
Sentiram, certamente,
Em mim, como um castigo!
Noite e dia eu sonhava...
E era sempre comigo!
Depois, fugindo à gente,
Eu procurava as flores,
Em todas encontrando
Jeito grácil e brando
De brinquedos e amores...
As violetas sombrios
Dos bosques de Cabanas
Essas, sim! Entendi-as
E julgava-as humanas!...
Simplicidade
Queria, queria
Ter a singeleza
Das vidas sem alma
E a lúcida calma
Da matéria presa.
Queria, queria
Ser igual ao peixe
Que livre nas águas
Se mexe;
Ser igual em som,
Ser igual em graça
Ao pássaro leve,
Que esvoaça...
Tudo isto eu queria!
(Ser fraco é ser forte).
Queria viver
E depois morrer
Sem nunca aprender
A gostar da morte.
Incerteza
Toda, toda a noite fria
O rouxinol cantou.
Mas ao raiar do dia
Logo se cala triste,
Uns dizem que fugiu
Outros que não existe.
02 setembro 2008
never give all the heart
Never give all the heart,
For love will hardly see,
For thinking of,
Two passionate wills,
If it seems certain,
Never give all the heart,
For love will hardly seem worth thinking of,
To passionate willing if it seems certain,
And they never dreamed it fades out from kiss to kiss,
For everything that's lovely is but a brief, dreaming, kind delight,
Never give the heart, out of right,
For they, for all smooth lips can say,
Have given their heart up to the play,
And who could play it well enough when deaf and dumb and blind,
With love,
Be that may, they can't afford the cost,
He who gave his heart, and lost.
They are lords who glimpse of sadness,
Have given their hearts up to the flame,
Never give all the heart...
31 agosto 2008
Coração de Mulher
Coração de mulher,
Violino...
Bem-me-quer, mal-me-quer
Destino!
Trovador namorado
Cautela,
Toma a ária do teu fado
Singela...
Se o violino se cala,
Se é mudo,
Põe mel na tua fala,
Veludo...
Ai, quanto violino, em dor,
Se parte,
Nas mãos do tocador,
Sem arte!
[um dia, num fatídico rés de chão, descoberta a traição, uma das minhas melhores amigas mostrou-me este poema, que no ano de 2001 se perdeu, para voltar a ser encontrado algures em meados de Agosto de 2008. E só poderia ser com ele que começo esta homenagem ao grande poeta, tão pouco conhecido e com tão poucos poemas disponíveis online: Pedro Homem de Mello... sim, o do Povo que Lavas no Rio, mas de muito mais também...]
04 agosto 2008
L'Amoureuse
Il semble que quelqu’un ait convoqué l’espoir
Les rues sont des jardins je danse sur les trottoirs
Il semble que mes bras soient devenus des ailes
Qu’à chaque instant qui vole je puisse toucher le ciel
Qu’à chaque instant qui passe je puisse manger le ciel
Les clochers sont penchés les arbres déraisonnent
Ils croulent sous les fleurs
au plus roux de l’automne
La neige ne fond plus la pluie chante doucement
Et même les réverbères ont un air impatient
Et même les cailloux se donnent l’air important
Car je suis l’amoureuse, je suis l’amoureuse
Et je tiens dans mes mains la seule de toutes les choses
Je suis l’amoureuse, je suis ton amoureuse
Et je chante pour toi la seule de toutes les choses
Qui vaille d’être là qui vaille d’être là
Le temps s’est arrêté les heures sont volages
Les minutes frissonnent et l’ennui fait naufrage
Tout paraît inconnu tout croque sous la dent
Et le bruit du chagrin s’éloigne lentement
Et le bruit du passé se tait tout simplement
Les murs changent de pierres
Le ciel change de nuages
La vie change de manières et dansent les mirages
On a vu m’a-t-on dit le destin se montrer
Il avait mine de rien l’air de tout emporter
Il avait ton allure ta façon de parler
Car je suis l’amoureuse, oui je suis l’amoureuse
Et je tiens dans mes mains la seule de toutes les choses
Je suis l'amoureuse, je suis ton amoureuse
Et je chante pour toi la seule de toute les choses
Qui vaille d’être là qui vaille d’être là
[em boa hora a Carla Bruni lança o novo álbum, a falar de amor de forma doce, simples e ingénua. Tal como o clip com os eternos detalhes de Paris cuja memória quero para sempre preservar. Se há temas que vêm a propósito este é sem dúvida um deles!]
28 julho 2008
Lars and the real girl
Lars (Ryan Gosling) é um homem tímido de uma pequena cidade do Midwest americano, que vive na garagem do seu irmão Gus (Paul Schneider) e que, apesar dos esforços da sua cunhada Karin (Emily Mortimer), foge a qualquer interacção social, incluindo os avanços nada discretos da sua colega de trabalho Margot (Kelli Garner). De início é difícil perceber o que se passa com Lars, mas quando Bianca chega a sua casa, a vida de Lars muda radicalmente e tudo começa a ficar mais claro. Bianca é uma boneca insuflável que Lars encomendou pela Internet. Mas, longe de um interesse sexual, Lars procura o amor. Sob aconselhamento da médica local, Dagmar Bergman (Patricia Clarkson), Karin e Gus não contradizem Lars, aceitando Bianca como a sua namorada. O mesmo acontece com toda a comunidade. Bianca começa a assistir à missa, a participar em actividades sociais e até arranja emprego.
O argumento de Nancy Oliver (‘Six Feet Under’) está longe de olhar para a sua personagem principal com a condescendência com que se olha para um doente. Percebemos que Lars se retirou para dentro de si mesmo (e daquela garagem) em virtude da morte da mãe e pela vida silenciosa que teve com o seu pai viúvo. Mas Craig Gillespie não nos dá flashbacks perturbantes ou epifanias terapêuticas. É com uma suavidade quase tão desconcertante como a naturalidade com que Bianca entra na vida de todos, que Lars vai enfrentando os seus medos, somatizados na dor física que sente quando é tocado e abraçado por outras pessoas.
O elenco é liderado por Ryan Gosling, num difícil equilíbrio entre estranheza e normalidade, entre transparência e opacidade. Bianca, como substituto de afecto, pode até ser considerada uma séria candidata na categoria dos secundários. Ela representa o amor incondicional e sem críticas, é a forma de Lars contornar a imprevisibilidade do outro, até se dar conta que todos queremos o mesmo. Entre o humor negro e os sentimentos, a irrealidade de “Lars and the Real Girl” serve o propósito de celebrar a virtude máxima da generosidade, onde a preocupação com o indivíduo é mais relevante do que a preocupação com o que sociedade pensa acerca desse mesmo indivíduo.
O momento que condensa todas as emoções é simples e, simultaneamente, símbolo de uma das coisas mais complicadas da vida: chegar até ao outro e deixá-lo chegar até nós. Na realidade, somos tão irreais uns para os outros como esta boneca de silicone.
[Fonte: http://cinerama.blogs.sapo.pt/207440.html]
Para pensar:
You won't be able to change his mind, anyway. Bianca's in town for a reason.
Sometimes I get so lonely I forget what day it is, and how to spell my name.
realiza Craig Gillepsie, protagoniza Ryan Gosling (the notebook e fracture), Emily Mortimer (Elizabeth, dear Frankie, match point, Paris, je t'aime) e Paul Schneider (the family stone, the assassination of Jesse James, Elizabethown).
13 julho 2008
As Promessas
03 julho 2008
life is wonderful
It takes a crane to build a crane
It takes two floors to make a story
It takes an egg to make a hen
It takes a hen to make an egg
There is no end to what I'm saying
It takes a thought to make a word
And it takes some words to make an action
And it takes some work to make it work
It takes some good to make it hurt
It takes some bad for satisfaction
Ah la la la la la la life is wonderful
Ah la la la la la la life goes full circle
Ah la la la la life is wonderful
Ah la la la la la
It takes a night to make it dawn
And it takes a day to make you yawn brother
And it takes some old to make you young
It takes some cold to know the sun
It takes the one to have the other
And it takes no time to fall in love
But it takes you years to know what love is
And it takes some fears to make you trust
It takes some tears to make it rust
It takes the dust to have it polished
Ah la la la la la la life is wonderful
Ah la la la la la la life goes full circle
Ah la la la la la la life is wonderful
Ah la la la la
It takes some silence to make sound
And it takes a loss before you found it
And it takes a road to go nowhere
It takes a toll to make you care
It takes a hole to make a mountain
{uma forma diferente de cantar que tudo faz falta, tudo importa, tudo precisa... }