30 janeiro 2012

Midnight in Paris (2011)



O único filme de Woody Allen que vi por completo. Tentativas anteriores levaram-me a ver 10 minutos do Match Point, 5 do Scope e por aí fora. Não conseguia passar do início e isso condicionava qualquer motivação fruto de recomendações múltiplas e de críticas positivas. Não sei se o problema estava no realizador-actor, se na imobilidade de cena concentrada nos actores... não sei, havia um entrave.

Mas com esta comédia romântica foi diferente, talvez porque a sequência inicial é constituída por planos maravilhosos sobre "a minha cidade". Minha e de muita gente, quem nunca se imaginou a passear ou a viver em Paris? Paris a cidade das Luzes, cidade da bailarina vaidosa (Torre Eiffel), do Sena, da Madeleine, do Sacré-Coeur, de Montmartre... e poderia fazer enumerações durante toda a manhã. Já me perdi/encontrei em Paris, uma das minhas cidades preferidas, definitivamente a minha capital europeia preferida!

Já por lá gastei as solas dos sapatos e apesar de não ter esbarrado em artistas do passado, na vida boémia dos anos 20 ou da Belle Époque a empatia criada com Gil Pender (Owen Wilson) foi praticamente imediata. Não só porque aquela noiva, família e amigos eram execráveis, mas principalmente pela sua paixão pela cidade, pelo seu ar, pela chuva de Paris... não há coisa mais revigorante do que uma chuva de verão sob as margens do Sena (ou num Batteau Mouche no próprio Sena)...

Gil Pender é guionista de cinema em Hollywood. Bem pago mas com um sentimento de insatisfação com a vida que leva. E quando estamos insatisfeitos com o nosso presente sonhamos com o passado ou com o futuro. No caso de Gil ficamos a saber que sente ter nascido tarde de mais, falta-lhe o significado do passado, pois o presente é demasiado vazio, oco e sem essência. A sua nostalgia e inadaptação ao presente fá-lo sonhar com os anos 20 parisienses, anos da música de Cole Porter, da pintura de Picasso, Mondigliani, Matisse e da literatura de Scott Fitzgerald, Hemingway, T. S. Eliot... e é enquanto passeia sozinho por Paris que lhe é oferecida boleia para outro tempo, exactamente à meia-noite.

Gil viaja até aos anos 20 e conhece os seus heróis. Ganha coragem e mostra o manuscrito de um romance a Gertrude Stein e a Hemingway, apaixona-se por Adriana, amante de Picasso... e descobre que o seu desejo pelo passado - pela época de ouro - é apenas uma necessidade infinita de fugir de um presente que o torna infeliz. É nas suas múltiplas viagens, à meia noite, a épocas de outrora que Gil recupera a certeza do que é importante.

Em Paris, claro! (onde é que eu já vi isto?...)

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