04 abril 2007

No Teu Poema

No teu poema
Existe um verso em branco e sem medida
Um corpo que respira, um céu aberto
Janela debruçada para a vida

No teu poema existe a dor calada lá no fundo
O passo da coragem em casa escura
E, aberta, uma varanda para o mundo.
Existe a noite
O riso e a voz refeita à luz do dia
A festa da senhora da agonia
E o cansaço
Do corpo que adormece em cama fria.
Existe um rio
A sina de quem nasce fraco ou forte
O risco, a raiva e a luta de quem cai
Ou que resiste
Que vence ou adormece antes da morte.

No teu poema
Existe o grito e o eco da metralha
A dor que sei de cor mas não recito
E os sonhos inquietos de quem falha.

No teu poema
Existe um cantochão alentejano
A rua e o pregão de uma varina
E um barco assoprado a todo o pano
Existe um rio
A sina de quem nasce fraco ou forte
O risco, a raiva e a luta de quem cai
Ou que resiste
Que vence ou adormece antes da morte.

No teu poema
Existe a esperança acesa atrás do muro
Existe tudo o mais que ainda escapa
E um verso em branco à espera de futuro.

Escreveu José Luís Tinoco e às vezes canta: Carlos do Carmo, Simone de Oliveira, Dulce Pontes, Mafalda Arnauth, Paula de Oliveira... canta quem quiser

[às vezes tudo aquilo que há para dizer já foi dito... importa apenas repeti-lo a cantar ou dar-lhe a forma da existência, da concretização... haverá sempre a antítese e a recordação... o sorriso e a lágrima... a luz e a escuridão... haverá sempre este medo e este cansaço... e esta certeza tão duramente cravada, tão deliciosamente abraçada na certeza de se querer dizer mais, sorrir mais, viver mais...]

Sem comentários: