23 abril 2010

dor de eternos



[...]
Nunca mais
a tua face será pura limpa e viva

Nem o teu andar como onda fugitiva

se poderá nos passos do tempo tecer.

E nunca mais darei ao tempo minha vida.


Nunca mais servirei senhor que possa morrer.

A luz da tarde mostra-me os destroços

do teu ser. Em breve a podridão

beberá teus olhos e teus ossos

Tomando a tua mão na sua mão.


Nunca mais amarei quem não possa viver

Sempre,

Porque eu amei como se fossem eternos

A luz, a glória e o brilho do teu ser

Amei-te em verdade e transparência

E nem sequer me resta a tua ausência,

És um rosto de nojo e negação

E eu fecho os olhos para não te ver.


Nunca mais servirei senhor que possa morrer.




Sophia de Mello Breyner Andresen

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