05 abril 2010

A Cura de Schopenhauer por Irvin D. Yalom


Pertencente ao grupo dos escritores de «romances de ideias» Irvin D. Yalom não cessa de me surpreender. Depois de Quando Nietzsche Chorou impunha-se a repetição da dose: filosofia, romance e psiquiatria. Psicoterapeuta e professor de psiquiatria, o americano de origens russas reúne, sob o pretexto literário, uma trama simples acompanhada de pensamentos de uma dos filósofos mais pessimistas sobre a condição humana.

A expressão do pessimismo começa quando ficamos a saber que Julius Hertzfeld, psicoterapeuta, tem um melanoma em estado terminal e não tem família de sangue que o acompanhe nos meses finais de vida. Resignado, decide rever todas as histórias de pacientes e tentar corrigir pelo menos uma em que tenha fracassado. É então que se reencontra com Philip Slate, o grande falhanço da sua carreira.

Mas Philip pode ser um falhanço humano, mas não o é em termos profissionais e decide fazer um trade-off com o seu antigo psicoterapeuta: a troco da sua participação em sessões de terapia grupais, Julius aceitaria ser seu supervisor e conceder-lhe um parecer que lhe permita obter uma credencial como terapeuta filosófico.

A história evolui em torno das sessões de grupo intercaladas com pensamentos e notas biográficas de Schopenhauer, verdadeiro auxiliar de Philip no seu encontro consigo próprio.

Encabeçados por pensamentos e aforismos de Schopenhauer, os capítulos desenvolvem-se de forma simples, pouco emotiva e algo previsível, onde o questionamento sobre o relacionamento eu-tu, assume o protagonismo. Quantas vezes somos pelo que pensamos que o outro quer? Quantas vezes nos anulamos devido à insegurança e à nossa incapacidade de darmos os nossos passos e não os passos que os outros nos destinam?

Schopenhauer foi uma pessoa mesquinha, irrascível e egoísta, que dedicou grande parte da sua reflexão aos impulsos interiores do homem que o tornam um ser problemático e infeliz. Ao longo da vida isolou-se dos outros por considerar que o afastavam do seu génio e propósito, turvando-lhe o entendimento. A ele devemos os estudos sobre o inconsciente de Freud e os seguintes pensamentos:

Sobre a vida:

a) Uma vida feliz é impossível. O máximo que se pode ter é uma vida heróica.

b) Se olharmos a vida nos seu pequenos detalhes, tudo parece muito ridículo.

c) Uma pessoa de raros dons intelectuais, obrigada a fazer um trabalho apenas útil, é como um jarro valioso, com as mais lindas pinturas, usado como pote de cozinha.

d) As grandes dores fazem com que as menores sejam mal sentidas e, na falta das grandes, até o menor desgosto nos atormenta.

e) Na infância, o aparelho sexual ainda está inactivo, enquanto o cérebro funciona plenamente; por isso, essa é a época da inocência e da felicidade, o paraíso perdido do qual sentimos falta pelo resto da vida.

f) Não há rosas sem espinhos, mas há muitos espinhos sem rosas.

g) A vida pode ser comparada a um bordado que no começo da vida vemos pelo lado direito e, no final, pelo avesso. O avesso não é tão bonito, mas é mais esclarecedor, pois deixa ver como são dados os pontos.

h) O apego excessivo aos bens materiais, às pessoas, ou até a si mesmo é a maior causa de sofrimento.

Sobre a relação com os outros:

i) Eu jamais tive prazer na companhia dos outros, nas parvoíces que dizem, nas exigências que fazem, nos seus esforços insignificantes e efémeros. As suas vidas sem sentido são um aborrecimento e um obstáculo para a minha comunhão com os inúmeros grandes pensadores do mundo com algo importante a dizer.

j) A flor respondeu: - Tolo! Imaginas que abro as minhas pétalas para que as vejam? Eu desabrocho para mim própria porque isso me agrada, e não para agradar aos outros. A minha alegria consiste no meu ser e no meu desabrochar.

k) Feliz é o homem que consegue evitar a maioria dos seus semelhantes.

l) A primeira regra para não ser um brinquedo nas mãos de qualquer velhaco, nem ridicularizado por qualquer imbecil, é manter-se reservado e distante.

m) Poucas coisas deixam as pessoas tão satisfeitas como ouvir algum problema ou constatar alguma fraqueza em ti.

n) A única maneira de um homem se manter superior aos outros é mostrar que não depende deles.

Para Schopenhauer, viver é sofrer. E este pensamento seria eternizado por outros escritores e filósofos.

Nenhuma pena pode escrever nada de eterno, se não for mergulhada na tinta das trevas (Chapman)


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