17 janeiro 2009

artistas e política



A presidência Checa da União Europeia (UE) terá encomendado ao artista plástico checo, David Cerny, uma obra que representasse os 27 países da UE recorrendo a outros tantos artistas de diferentes proveniências deste organismo político. Dando largas à sua imaginação, de si polémica, Cerny «desmontou» os estereótipos desta união económica que se quer política.

O resultado? uma obra polémica que representa, por exemplo:
  1. o Reino Unido ausente (espaço vazio) da «Europa sem barreiras»;
  2. a França como sinónimo de Greve;
  3. a Alemanha como uma suástica de auto-estradas;
  4. a Holanda submersa em que distinguem apenas os minaretes das mesquitas;
  5. a Espanha é um estaleiro de betão com uma bomba sobre o país basco;
  6. a Itália um campo de futebol recheado de jogadores em pleno acto masturbatório com bolas;
  7. a Polónia são monges gay a erguerem uma bandeira;
  8. a Grécia um incêndio;
  9. a Bélgica uma caixa de chocolates;
  10. a Áustria um prado de centrais atómicas;
  11. a Irlanda uma gaita-de-foles;
  12. a Dinamarca um cartoon a ridiculizar Moisés em Lego;
  13. a Suécia uma embalagem de móveis do IKEA;
  14. a Finlândia um estrado de sauna;
  15. o Luxemburgo está para venda;
  16. a Hungria é um conjunto de melancias (ou serão couves de Bruxelas?) atómicas;
  17. a Estónia uma foice e um martelo feitos de ferramentas;
  18. a Bulgária uma retrete turca;
  19. a Roménia um parque temático dedicado a Drácula;
  20. a Letónia um país plano suspirando por montanhas;
  21. a Lituânia defende as suas fronteiras russas com um mictório colectivo;
  22. o Chipre uma ilha dividida.

E Portugal? o país dos bifes «enormes» em forma de ex-colónias... ou será em forma de bitoque?

O escândalo foi despoletado pela Bulgária que terá apresentado a respectiva reclamação às entidades oficiais checas. Caso para dizer, que os checos não estavam nada preocupados com a escultura antes da «casa-de-banho» se ter entupido!

O artista terá entretanto explicado que Entropa é uma obra de arte e não uma declaração política, concebida para ser divertida e irónica.

A crise económica trás crise de humor... mas há crises de humor que vêm por bem, senão vejamos o sucesso e a projecção mediática que o artista David Cerny tem tido desde que o verniz estalou. Nada comparável à tinta que fez correr com: o tanque russo pintado de cor de rosa; a cabeça do Saddam Hussein dentro do aquário, intitulada Shark; ou o São Venceslau checo sentado num cavalo morto.
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slideshow de Entropa
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A entrevista à newsmagazine europeia Cafebabel, com vídeo ilustrativo da obra
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A notícia do Diário de Notícias (Luís Naves), 15/01/2009


Artista defende obra que escandalizou Bruxelas,
Checo David Cerny diz ao DN que o trabalho não "é declaração política"

O escultor checo David Cerny defendeu ontem, em declarações ao DN, aquilo que definiu como o seu "conceito artístico". Cerny é o autor da escultura Entropa, encomendada pela presidência da UE, a cargo da República Checa, e que está a causar viva polémica em Bruxelas.


A encomenda visava discutir preconceitos vigentes em relação a cada um dos Estados membros da UE, englobando 27 obras de artistas dos diferentes países. No entanto, Cerny ignorou o acordo e produziu a escultura com as suas ideias (com ajuda de colaboradores) inventando os autores nacionais. O trabalho custou 50 mil euros à presidência checa.


Entropa imita os jogos de modelagem, com as peças de montar destacáveis presas numa grelha. A peça portuguesa é uma tábua de bifes, onde a carne tem a forma das ex-colónias (Brasil, Angola, etc.). O estereótipo era o colonialismo e a autoria pertencia a uma inexistente Carla de Miranda.


Tal como DN noticiou na sua edição de ontem, não apenas Carla de Miranda não existe, mas o seu currículo foi copiado de uma escultora real, Beatriz Cunha.


(…)
Cerny, de 41 anos, é conhecido pelas suas provocações artísticas. Uma obra, Tubarão, ficou famosa após ser banida na Bélgica e Polónia. A instalação mostrava um boneco de Saddam Hussein enforcado, dentro de uma caixa de formaldeído. Outra ideia foi bebés gigantes a subirem uma torre de televisão.


Ao DN, o autor esclareceu que fez um trabalho de arte, não uma "declaração política". Mas algumas das interpretações nacionais são polémicas. A Bulgária protestou oficialmente e muitos funcionários alemães da UE ficaram escandalizados.

(…)
Cerny disse que não pretendera ofender e que produzira uma "brincadeira". Ontem, o escultor não sabia se o governo ia manter a escultura até 30 de Junho no átrio do edifício Justus Lipsius, sede do Conselho Europeu, em Bruxelas.


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