Em mais um contributo para diminuir as zonas negras europeias no meu mapa, perdi-me por Madrid. Não bem perdida, o que me levou à capital espanhola era bem racional e foi bem planeado, ao contrário da visita, para a qual nem mapa tinha e nem sequer me passou pela cabeça que o fuso horário e a chuva me poderiam atrapalhar os planos habituais de deambulação pela cidade.
De vésperas decidi que teria de visitar alguns
ex libris dos que aparecem nos Top 10 de Madrid e claro o Museu do Prado encabeçava essa lista. Existem guias e recomendações e críticas e... - sei lá mais o quê - que definem quais as obras
must see, mas nunca fui muito de
establishment e em termos de pintura a
Mona Lisa e tudo o que sejam retratos passam-me totalmente ao lado (portanto desculpa lá oh
Caballero "obra-emprestada" pelo Metropolitan Museum of Art de New York do Velàzquez mas nem te veria se não me tivessem oferecido um
flyer).
Mas do Velàzquez amo a Coroação da Virgem (1635) e o Cristo Cruxificado (1632).
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Coroação da Virgem, por Velazquez |
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Cristo Crucificado, por Velazquez |
E já agora do grande El Greco inspirador dos surrealistas destaco:
Trindade;
Baptismo;
Coroação;
Sudário;
Pentecostes; e claro...
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Cristo a carregar a Cruz (1602), por El Greco |
Curiosamente, algumas maravilhas que me captaram o olhar são mesmo recomendadas, tais como:
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Anunciação (séc. xv, versão do Museu do Prado), de Fra Angelico
- Postal de Natal em algumas ocasiões - |
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The Dead Christ Supported by an Angel (1475-78), por Antonello de Messina
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The Descent from the Cross (1435), Rogier van der Weyden
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Table of the Mortal Sins (séc. xv) El Bosco |
Verdadeiramente impressionada fiquei com as obras (para mim desconhecidas, apesar de em alguns casos, já ter ouvido falar nos seus autores):
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La Caridad Romana (1851, mármore), Antonio Sola |
Na escultura, Sola representa uma filha a amamentar o pai prisioneiro para que não morra de inanição. Um exemplo de caridade, mas também símbolo de retribuição a quem dá a vida e que no fim de um ciclo precisa que a mesma lhe seja devolvida.
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Triumph of death (1562), by Pieter Brueghel the Elder |
Talvez a obra mais conhecida deste pintor. Não sei se pelo momento que vivemos, só agora reparei na mesma e a sensação foi avassaladora. E não me chocam apenas os corpos caídos, os animais famélicos... chocam-me sim os esqueletos vivos que tocam instrumentos musicais, que fazem a festa na ilusão de estarem vivos, quando não são mais do que cadáveres adiados.
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Three Ages of Man and Death (1510), por Hans Baldung Grien |
Continuando na morte... um trabalho a que é impossível ficar indiferente.
Dedicada a Goya estava a exposição das suas Pinturas Negras (devido ao pigmento predominante, mas também aos temas retratados). Da mesma, faziam parte Colossus,
Saturno a Devorar o filho (1819-1823) e
Witches Sabbath (The Great He-Goat) (1819-1823).
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Colossus, por Goya Y Lucientes |
Conheci igualmente novos nomes com trabalhos notáveis, como o retábulo de Mabuse, a Última Ceia e as obras dedicadas ao
martírio de
Santo Estêvão (primeiro mártir cristão) de Juan de Juanes, a Anunciação de Juan Correa de Vivar; e a Santíssima Trindade de José de Ribera.
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Christ between the Virgin Mary and Saint John the Baptist (1510-15), por Jan Mabuse |
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Última Ceia (1562), por Juan de Juanes |
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The Annunciation (1559), por Juan Correa de Vivar |
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The Holy Trinity (1635), de José de Ribera |
Claro que a temática religiosa é dominante na arte presente no Museu do Prado, ou não fosse a colecção oriunda de palácios fruto das ofertas e aquisições de reis e nobres coleccionadores. O esbanjamento de outrora permite encher museus e galerias; o de hoje em dia enche garagens ou desaparece no espectro, tal a futilidade dos consumos.
Curiosidade (isto é uma pintura de quadro tradicional e o tampo de uma mesa de apoio) as colagens pós-modernas devem ter começado com este senhor Charles-Joseph Flipart (1721-1797).
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Mesa revuelta con pinturas, zanfonía, libros y otros objetos de trampantojo (1779), por Charles-Joseph Flipart |
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