18 agosto 2010

Os Íntimos


Inês Pedrosa num registo, dito, diferente do habitual: não retrata directamente o mundo das mulheres, mas a intimidade de um grupo de homens-amigos que nos seus convívios retrata as mulheres. Por muito que tente fugir, a mulher é sempre o centro literário da autora.
Contudo de sublinhar que, por muito independentes e ditas "modernas", as mulheres continuam a ser vistas pelos homens na sua dimensão mais decadente e dependente (pelo menos pela pena da autora).

A grande dúvida que permanece: serão homens e mulheres assim tão diferentes? Ou quererão simplesmente não ser confundidos e eternizarem a teorizada "guerra dos sexos"?

Finaliza com uma brilhante bofetada para acordar sonâmbulos que se julgam imunes aos sentimentos e à dependência do Amor.



"As palavras são sempre pedras, pedaços de fronteiras. Servem para separar, para rasgar (...) nunca enganam por completo. Nunca revelam a verdade toda"(21).

"A canalização celeste estoirou em cima de Portugal (...) o pessoal flutua (...) sensação de viver num aquário onde toda a gente bóia" (29).

"[a mulher] onde o ninho da vida se confunde com o poço da morte" (42).

"As mulheres são muita gente ao mesmo tempo. Como se trouxessem todas as variedades de vida dentro dos seus corpos. Elas são feiticeiras e anjos e putas" (51).

“O silêncio do amor – sem gargalhadas nem gritos, sem culpas nem explicações, sem embaraços nem exercícios de sedução” (67).

"A tese das almas gémeas é uma fraude, mas é verdade que há uma pequena percentagem de corpos incompatíveis, uma alta percentagem de corpos compatíveis e uma minoria de corpos feitos um para o outro" (100).

"A vida consiste na aprendizagem da frustração e do desconsolo" (108).

"O corpo queima quando o contacto com o espírito é total, e a alma não pode estar inteira" (130).

Perdoar tudo "com a convicção íntima de que o perdão é o maior desprezo que se pode oferecer a alguém" (220).

“O mundo é, desde o início, assim. Nós virados para a terra, à procura de pedras de arremesso, elas viradas para o céu, à procura de sentido e de aplauso” (245).

"Preciso do traço da caneta que liga o silêncio da morte às palavras da vida" (261).


Texto de apresentação do livro aqui.

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