09 maio 2010

A Eternidade e o Desejo


A Eternidade e o Desejo, romance de Inês Pedrosa, explora o Brasil moderno em diálogo com a vida aventurosa do jesuíta do século XVII, Padre António Vieira, um mestre canónico da literatura portuguesa.

Clara, a protagonista, historiadora e professora universitária, regressa à Bahia acompanhada por Sebastião. Bahia onde em tempos perdeu a visão e um amor. Sempre guiada pela luz dos textos do Padre António Vieira. O amor por outro António "devorou-lhe" os olhos. O amor por este António ensinou-lhe a virtude pela independência. Clara usa Vieira como mapa para encontrar o seu caminho. Sebastião ama-a, tenta seduzi-la, ele que nunca teve que seduzir ninguém. Ela foge de alguém com quem "partilha demasiadas afinidades para conseguirem ser amantes". No "Portugalinho do cá vamos andando" sente-se incompleta. No Brasil, "terra com odor de sobrevivência", sente-se aceite. Foge da "pena contínua que os amigos portugueses tinham dela." Eis que surge Emanuel. Perdeu um filho de dois anos levado pelas ondas do mar. "Conheço mais o Brasil do que a felicidade", há-de dizer Clara que encontra outra Clara, brasileira, que lhe mostrará que o que tem para conhecer se encontra dentro dela.


In: http://www.portaldaliteratura.com/livros.php?livro=4187#ixzz0nRyqUj73


O que define um bom escritor? Porque «fica bem» ou «fica mal» dizer-se que gostamos deste ou daquele escritor?
Na dança do social dizem-me que exprimir que gosto de Inês Pedrosa é como dizer que gosto de Margarida Rebelo Pinto. Não concordo. Da segunda li um livro e fechei a minha curiosidade ao cliché de digestão fácil, contudo reconheço que é um tipo de literatura necessário em Portugal. Além disso, os título são bem conseguidos, a mensagem promocional bem definida.

Mas Inês, Inês é diferente. Dos romances, só não comprei a Instrução dos Amantes, exactamente o recomendado pelo Plano Nacional de Leitura.
Pedrosa é uma pedra no estômago difícil de digerir. Se os enredos são previsíveis, as palavras são reinventadas. Se a invenção é óbvia, então porque mais ninguém regista a patente?

Inês Pedrosa é feminino, é drama para mulheres. Discordo. É drama para quem ainda se consegue emocionar. Há mulheres que já não conseguem e contudo são «muito femininas». Eu consigo e, no entanto, sou «mais para o masculina», se é que alguma vez me fiz entender.

Porque gosto de Inês? Porque é humano, apesar de me dizerem que a escritora e a pessoa não coincidem, também não quero saber. Gosto da experiência. Gosto do que sinto cada vez que pego num livro de Inês Pedrosa e leio. Gosto da história que me conta, da poesia que discorre, do pensamento enlameado que fica suspenso, preso a frases descompostas, a palavras comuns, a retratos múltiplos de quem não quer dizer tudo o que tem para dizer... falta sempre algo. E eu gosto desse algo que fica por dizer, porque se fosse fácil, não me prendia. Se fosse simples, não pensaria.
... e eu...
eu ainda gosto de pensar!



"O que se vê nunca se pode narrar com rigor. As palavras são caleidoscópios onde as coisas se transformam noutras coisas. As palavras não têm cor - por isso permanecem quando as cores desmaiam" (1-2)

2 comentários:

Unknown disse...

Olá,
Confesso que vim parar ao seu blog por mero acaso quando efectuava uma pesquisa. Porém, fiquei curiosa ao deparar-me com a capa do livro de Inês Pedrosa e, como tal, decidi “cuscar” mais um bocadito…:)
Desta feita, foi com um certo espanto que constatei que ao nível de leitura temos gostos semelhantes, de referir que não li o Livro O Retrato de Dorian Grey, mas vi o filme. Do Dr. Irvin D. Yalom li também Mentiras no Divã. Sai do registo dos livros anteriores que descreveu e bem, contudo, não posso dizer com clareza que gostei. Talvez por estar um pouco cansada do autor. Creio que este livro está demasiado centrado no lifestyle americano…
Quanto à Inês, está tudo dito. É a “nossa” Inês. Fiquei fã desde que li Fazes-me Falta.
Outras “curiosisses” (acabei de inventar a palavra, há dias assim) somos do mesmo signo, bem como, da mesma indústria.
Parabéns pelo blog. Continuação de boa escrita!
Ana Ferreira

Kisa disse...

Obrigada Ana, pela visita, pelas palavras, pela partilha.
Estou curiosa para ler «os íntimos» da Inês, mas neste momento «a nossa indústria» não o permite ;)