A Eternidade e o Desejo, romance de Inês Pedrosa, explora o Brasil moderno em diálogo com a vida aventurosa do jesuíta do século XVII, Padre António Vieira, um mestre canónico da literatura portuguesa.
Clara, a protagonista, historiadora e professora universitária, regressa à Bahia acompanhada por Sebastião. Bahia onde em tempos perdeu a visão e um amor. Sempre guiada pela luz dos textos do Padre António Vieira. O amor por outro António "devorou-lhe" os olhos. O amor por este António ensinou-lhe a virtude pela independência. Clara usa Vieira como mapa para encontrar o seu caminho. Sebastião ama-a, tenta seduzi-la, ele que nunca teve que seduzir ninguém. Ela foge de alguém com quem "partilha demasiadas afinidades para conseguirem ser amantes". No "Portugalinho do cá vamos andando" sente-se incompleta. No Brasil, "terra com odor de sobrevivência", sente-se aceite. Foge da "pena contínua que os amigos portugueses tinham dela." Eis que surge Emanuel. Perdeu um filho de dois anos levado pelas ondas do mar. "Conheço mais o Brasil do que a felicidade", há-de dizer Clara que encontra outra Clara, brasileira, que lhe mostrará que o que tem para conhecer se encontra dentro dela.
In: http://www.portaldaliteratura.com/livros.php?livro=4187#ixzz0nRyqUj73
O que define um bom escritor? Porque «fica bem» ou «fica mal» dizer-se que gostamos deste ou daquele escritor?
Na dança do social dizem-me que exprimir que gosto de Inês Pedrosa é como dizer que gosto de Margarida Rebelo Pinto. Não concordo. Da segunda li um livro e fechei a minha curiosidade ao cliché de digestão fácil, contudo reconheço que é um tipo de literatura necessário em Portugal. Além disso, os título são bem conseguidos, a mensagem promocional bem definida.
Mas Inês, Inês é diferente. Dos romances, só não comprei a
Instrução dos Amantes, exactamente o recomendado pelo Plano Nacional de Leitura.
Pedrosa é uma pedra no estômago difícil de digerir. Se os enredos são previsíveis, as palavras são reinventadas. Se a invenção é óbvia, então porque mais ninguém regista a patente?
Inês Pedrosa é feminino, é drama para mulheres. Discordo. É drama para quem ainda se consegue emocionar. Há mulheres que já não conseguem e contudo são «muito femininas». Eu consigo e, no entanto, sou «mais para o masculina», se é que alguma vez me fiz entender.
Porque gosto de Inês? Porque é humano, apesar de me dizerem que a escritora e a pessoa não coincidem, também não quero saber. Gosto da experiência. Gosto do que sinto cada vez que pego num livro de Inês Pedrosa e leio. Gosto da história que me conta, da poesia que discorre, do pensamento enlameado que fica suspenso, preso a frases descompostas, a palavras comuns, a retratos múltiplos de quem não quer dizer tudo o que tem para dizer... falta sempre algo. E eu gosto desse algo que fica por dizer, porque se fosse fácil, não me prendia. Se fosse simples, não pensaria.
... e eu...
eu ainda gosto de pensar!
"O que se vê nunca se pode narrar com rigor. As palavras são caleidoscópios onde as coisas se transformam noutras coisas. As palavras não têm cor - por isso permanecem quando as cores desmaiam" (1-2)