07 fevereiro 2009

Serafita



Título: Serafita
Autor
: Honoré de Balzac
Editor: Ésquilo

"Serafita é, provavelmente, o romance fantástico mais sedutor de Balzac. (…) Balzac conseguiu dar um brilho sem igual a um tema fundamental da antropologia arcaica: o andrógino considerado como imagem exemplar do homem perfeito. (…) Serafita é a última grande criação literária europeia cujo motivo central é o mito do andrógino." Mircea Elíade


Crítico da Comédia Humana*, o escritor francês Honoré de Balzac [1799-1850] escreveria um livro místico de homenagem aos ensinamentos de Swendenborg**. Contudo, pouco importa o inventor / autor de tamanhas odes ao ser humano espiritual, à vivência assexuada do ser humano perdido entre paisagens nórdicas inimagináveis, mas magistralmente pintadas pela pena de Balzac.

Um romance descrito como iniciático que nos leva aos meandros dos pensamentos que não queremos ter, que reduz a existência humana ao mundo que tentamos esquecer. Um imbricado de sentimentos e perturbações, de paisagens e afinidades, de humanismo e deísmo. Este andrógino que nos confude, este ser que não existe, estas palavras que nos emocionam ou simplesmente perturbam.

«a ciência é a linguagem do mundo temporal, o amor a do mundo espiritual (...) a ciência entristece o homem , o amor exalta o anjo. a ciência ainda procura, o amor já encontrou» (p. 81)


Ou se lê ou se fecha definitivamente o livro!



"Diremos que o pensamento de Swedenborg e a mente filosófica de Balzac se entrelaçam de princípio a fim na aventura espiritual e alquímica que constitui esta obra notável onde o Balzac místico inclui a inteligência esotérica (...), a visão analógica das correspondências e a realidade do homem interior. Está claramente patente uma visão iniciática e gnóstica da vida. Neste corpo terrestre há um homem interior que deve ser despertado. As felicidades da terra em nada se podem comparar aos divinos êxtases da alma nos mundos celestes. Há uma continuada referência ao que Plotino denominava de Venus Urânia, o amor celestial, em oposição ao amor terreno, egoísta, Vénus Pandemos. 'Amamo-nos uns aos outros na razão directa do conteúdo celeste das nossa almas' afirma o inspirado Balzac que também não escamoteia a necessidade da sofia: '(…) a primeira transformação do homem é o amor. (…) A segunda tranformação é a sofia. A sofia é a compreensão das coisas celestes a que o espírito chega por amor. O espírito de amor conquistou a força, resultado de todas as paixões terrestres vencidas, ama a Deus, mas cegamente; o espírito de sofia tem a inteligência e sabe porque é que ama.'"

Paulo Alexandre Loução, in "Posfácio"


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* A comédia humana é o título geral que dá unidade à obra máxima de Honoré de Balzac e é composta de 89 romances, novelas e histórias curtas. Este enorme painel do século XIX foi ordenado pelo autor em três partes: “Estudos de costumes”, “Estudos analíticos” e “Estudos filosóficos”. A maior das partes, “Estudos de costumes”, com 66 títulos, subdivide-se em seis séries temáticas: Cenas da vida privada, Cenas da vida provinciana, Cenas da vida parisiense, Cenas da vida política, Cenas da vida militar e Cenas da vida rural (a idéia de Balzac era que A comédia humana tivesse 137 títulos, segundo seu Catálogo do que conterá A comédia humana, de 1845. Deixou de fora, de sua autoria, apenas Les cent contes drolatiques, vários ensaios e artigos, além de muitas peças ficcionais sob pseudónimo e esboços que não foram concluídos).

Genial observador do seu t­empo, Balzac soube como ninguém captar o “es­pírito” do século XIX. A França, os franceses e a Europa no período entre a Revolução Francesa e a Restauração têm nele um pintor magnífico e preciso.

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** Swedenborg

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