quem nada tem nada pode perder, mas quem arrisca pode ganhar tudo...
'sem a loucura que é o homem mais que a besta sadia, cadáver adiado que procria?'
[Fernando Pessoa, D. Sebastião]
Jane Eyre é uma jovem órfã de pais e que acaba órfã de tio ficando à guarda de uma tia amarga que a odeia. Jane é especial, é arrebatada pela paixão de viver, pelos sentimentos. É igualmente forte o que cativa quem a ama e provoca o ódio de quem a inveja. A tia torna-lhe a vida miserável e não cumpre a promessa feita ao marido de a criar como sua filha. Por vingança, esconde a Jane que ela tem mais família e envia-a para um colégio interno - Lowood - onde a maior parte das jovens morre com uma febre provocada pelo frio e pela má alimentação.
Em Lowood, Jane conhece o valor da amizade e da perda quando a sua única amiga morre. Mas sobrevive e candidata-se a perceptora da jovem francesa Adéle em Thornfield, sob as ordens de um homem amargo, sofrido e enigmático - Mr. Rochester.
A frontalidade de Jane e o seu arrebatamento levam-na à conquista do seu lugar e ao respeito de Mr. Rochester tornando-se a sua companhia preferida. Contudo em Thornfield, os mistérios do passado assombro as noites e condenam o amor da perceptora com o dono da casa.
Adaptação da BBC para Televisão, esta mini-série de 2006 teve o dom de me fazer rir, adorar personagens sarcásticas, admirar a paciência e a calma, acreditar na paixão e no encontro de duas almas que de tão diferentes se tornaram tão iguais. Uma lição de tolerância, o revivalismo dos valores de uma Inglaterra vitoriana, a prova de que a adaptação de grandes obras (esta de Charlotte Bronte) se recomenda vivamente. São obras como esta que me lembram de como o amor só acontece quando deve, pois há forças no Universo que têm de ser alinhadas, para proporcionar a felicidade sem entraves, o quadro de família perfeito. Se há perfeição o Toby Stephens deve fazer parte dela :))
Produzido por: Susanna White Protagonizado por: Rute Wilson e Toby Stephens
L'ange parle-moi ! Le plus vaste des cœurs se brise. Parle-moi ! L'hiver pourvu qu'on le cultive. Dans cette pièce Nul semble respirer Ici, c'est un... Abri qui m'a été donné ! Don't let me die, l'ange Don't let me die, l'archange Tu sais le temps qu'il faut pour apaiser Nos peines Don't let me die, Et dis encore "je t'aime" Parle-moi ! Pourquoi cette couleur trompeuse ? Ange, parle-moi ! De voir qu'en lui, ils étaient deux. Je sais ce que... Mentir veut dire pour moi Tu sais Dieu a rompu Son pacte avec cet étranger ! Parle-moi, parle-moi Dis-moi si tu es là ? Ange, parle-moi, parle-moi Dis-moi si tu es là ?
[pois é às vezes sou tomaia, preciso que me lembres que estás... não me deixes... fala comigo!]
Fui pedir um sonho ao jardim dos mortos Quis pedi-los, aos vivos. Disseram-me que não. Os mortos não sabem, lá onde é que estão, Que neles se enfeitam os meus braços tortos.
Os mortos dormiam... Passei-lhes ao lado. Arranquei-lhes tudo, tudo quanto pude; Páginas intactas – um livro fechado Em cada ataúde.
Ai as pedras raras! As pedras preciosas! Relâmpagos verdes por baixo do mar! A sombra, o perfume dos cravos, das rosas Que os dedos, já hirtos, teimavam guardar!
Minha alma é um cadáver pálido, desfeito. As suas ossadas Quem sabe onde estão? Trago as mãos cruzadas... Pesam-me no peito. Quem sabe se a lama onde hoje me deito Dará flor aos vivos que dizem que não?
«Mea culpa»
Fugindo à voz do amor, fugindo à luta, A lágrima que nasce em mim nem rola Fica-me a face branca, branca e enxuta; Cruzei os braços recusando a esmola. Por astúcia esquivei-me a qualquer crime. Com gestos hábeis, cínicos de bruxo. Desconheço o remorso que redime. Dei-me à virtude fria como a um luxo.
Escuridão
Negra, sim, como os cravos são vermelhos, Negra, sim, como a neve é branca e fria, Negra como as mãos postas e os joelhos Assim é negra a noite do meu dia. Negra como o que penso e o que não dizes! (Lembro não sei que pássaro ao poente...) Ai! a fronteira em todos os países Ai! um só fruto proibido e ardente! Negra como a ignorância e a realeza Dos braços que se cruzam com desdém. Negra como a raiz oculta e presa Como o nome (tão meu) de Pedro Sem! Negra como os vestígios maus do sangue E o destino de toda a Poesia... Negra como esse corpo, doce e langue, Que da sua beleza não sabia... Assim é negra a noite do meu dia, Negra como as mãos postas e os joelhos, Negra, sim, como os cravos são vermelhos, Negra, sim, como a neve é branca e fria...
Presságio
Ela há-de vir como um punhal silente Cravar-se para sempre no meu peito. Podem os euses rir na hora presente Que ela há-de vir como um punhal direito. Cubram-me lutos, sordidez e chagas! Também rubis das minhas mãos morenas! Rasguem-se os véus do leito em que me afagas! - A coroa de ferro é cinza apenas... E ela há-de vir a lepra que receio E cuja sombra, aos poucos me consome. Ela há-de vir, maior que a sede e a fome, Ela há-de vir, a dor que ainda não veio.
Príncipe Perfeito
Aquele estranho soldado Nunca a farda ele a rompeu Aquele estranho soldado, Cujo exército é parado; Sou eu.
Aquela estrela cadente, Depois de cair da altura, Quem se lembra que ela ardeu? Aquela estrela cadente Sou eu.
Não foi sobre mar revolto, Foi sobre pálido lago Que certa nau se perdeu... Aquela barca perdida Sou eu.
Sei dum livro ainda fechado. Porque é que ninguém o leu? - Era uma vez um Poeta... Aquele conto ignorado Sou eu.
Nem os palmos de chão tenho Que o destino aos mortos deu! Não tenho um palmo de terra! Não tenho nada. O Poeta Sou eu.
Ó Pássaro de Pedra! As tuas horas longas são as minhas... À nossa frente os Oceanos falam. Mas nós emudecemos.
À nossa beira uns choram: outros riem. Mas nós ficamos frios e parados. Logo, ao cair da noite, As plantas dormem... Os corpos vão juntar-se Livremente. Esses versos que o dias encarcerou!...
E eu E tu Morremos de cansaço, De olhos postos no céu dos que voaram!
Ouviu-se ao longe a música da vida Ao longe ouvi-a, em meu caixão deitado... Não me acordou a música da vida!... Dormi, sonhando, em meu caixão deitado, Cavalos brancos e selins de prata, Carroções de oiro, de oiro mas vazios, Histórias velhas, velhas mas sem data, Tudo como eu. Lábios turbados, frios... Ninguém calcou a minha sepultura! A mim chegou só o eco de outros passos! Canção morta? Afinal, canção futura. Sono de membros alquebrados, lassos... Condenação! Dedo que me detém! Ficou um sopro sobre o meu poisado... Anjos? Demónios? Não me viu ninguém. Vivi dormindo em meu caixão fechado.
O ritmo... A cor... O aroma... Essas nascentes Deviam-me bastar! Mas não! Tenho pulmões. Preciso de ar. Trago entreaberta a boca e tenho dentes... E o sonho? E o amor? As vibrações secretas Deviam dar-me o alento de viver!
De que lama são feitos os Poetas Que buscam só prazer?
Sei que há sombras e há fundos matagais... Corpo trigueiro e forte! Por que esperas Para saciar o instinto? Nada mais Do que a fome dá pão e alma às feras.
Devia ser um beijo E foi só chaga aberta! Devia ser harpejo. E fo nota deserta! Ó formosura acesa! Que é dos voos eternos? - Caminhos de beleza Desceram aos infernos... Deviam ser caminhos Onde a nossa alma fosse Envolta em seus arminhos. Que é da beleza doce? Deviam ser mil rosas, Todas resplandecentes! Deviam ser mil rosas, Com místicas sementes! Deviam ser mil rosas. E foram mil serpentes: - Volúpias monstruosas, Contactos decadentes...
A nascente dorida dos meus rios Não se vê. Meus versos, escrevi-os Para quê?
Sofri meus pensamentos e cantei-os, (Não foi só por cantar!) Neles ficaam linhas de alvos seios E tintas apagadas de luar...
Mas a nascente viva dos meus rios Não se vê. Meus versos, escrevi-os Para quê?
Alguém ao lê-los não sentiu a prece? Ah! minha rubra lágrima perdida! Segredo? Uma vez dito, logo esquece... Bailado? Enquanto o danço é que tem vida!
Não choreis nunca os mortos esquecidos Na funda escuridão das sepulturas. Deixai crescer, à solta, as ervas duras Sobre os seus corpos vãos adormecidos.
E quando, à tarde, o Sol, entre brasidos, Agonizar... guardai, longe, as doçuras Das vossas orações, calmas e puras, Para os que vivem, nudos e vencidos.
Lembrai-vos dos aflitos, dos cativos, Da multidão sem fim dos que são vivos, Dos tristes que não podem esquecer.
E, ao meditar, então, na paz da Morte, Vereis, talvez, como é suave a sorte Daqueles que deixaram de sofrer.
in Caravela ao mar (1934)
Canção à ausente
Para te amar ensaiei os meus lábios... Deixei de pronunciar palavras duras. Para te amar ensaiei os meus lábios.
Para tocar-te ensaiei os meus dedos... Banhei-os na água límpida das fontes. Para tocar-te ensaiei os meus dedos!
Para te ouvir ensaiei meus ouvidos! Pus-me a escutar as vozes do silêncio... Para te ouvir ensaiei meus ouvidos!
E a vida foi passando, foi passando... E, à força de esperar a tua vinda, De cada braço fiz mudo cipreste.
A vida foi passando, foi passando... E nunca mais vieste!
Quando o vento dobrou todo o salgueiro
Quando o vento dobrou todo o salgueiro E as folhas caíram sobre o tanque Disseste-me em segredo: - A vida é como as folhas E a morte é como as águas!
Depois, à nossa frente, Um pássaro cortou com o seu voo azul Os caminhos do vento. E tu disseste ainda: - O amor é como as aves...
Mas quando aquele pássaro, ferido Já nem sei por que bala, Veio cair ao tanque, Mais negros e mais fundos os teus olhos Prenderam-se nos meus! E não disseste nada...
in Segredo (1939)
Berço
Mansa criança brava, Fui das mais, Diferente.
Então, tristes, meus pais Sentiram, certamente, Em mim, como um castigo!
Noite e dia eu sonhava... E era sempre comigo!
Depois, fugindo à gente, Eu procurava as flores, Em todas encontrando Jeito grácil e brando De brinquedos e amores...
As violetas sombrios Dos bosques de Cabanas Essas, sim! Entendi-as E julgava-as humanas!... Simplicidade
Queria, queria Ter a singeleza Das vidas sem alma E a lúcida calma Da matéria presa.
Queria, queria Ser igual ao peixe Que livre nas águas Se mexe;
Ser igual em som, Ser igual em graça Ao pássaro leve, Que esvoaça...
Tudo isto eu queria! (Ser fraco é ser forte). Queria viver E depois morrer Sem nunca aprender A gostar da morte.
Never give all the heart, For love will hardly see, For thinking of, Two passionate wills, If it seems certain,
Never give all the heart, For love will hardly seem worth thinking of, To passionate willing if it seems certain, And they never dreamed it fades out from kiss to kiss, For everything that's lovely is but a brief, dreaming, kind delight, Never give the heart, out of right, For they, for all smooth lips can say, Have given their heart up to the play, And who could play it well enough when deaf and dumb and blind, With love, Be that may, they can't afford the cost, He who gave his heart, and lost.
They are lords who glimpse of sadness, Have given their hearts up to the flame, Never give all the heart...