[orfeu e eurídice by Rodin]
Antecipa-te a toda a despedida, como se ela te ficasse
já para trás, como o inverno que está a partir.
Pois entre invernos há um tão sem-fim inverno
que, sobre-hibernando-o, o teu coração sobreviverá.
Sê sempre morto em Eurídice - , mais cantante sobe,
Mais celebrante sobe e volta à pura relação.
Sê aqui, entre os efémeros, no reino do declínio,
Sê cristal tininte que já no tinido se quebrou.
Sê – e sabe ao mesmo tempo a condição do não-ser,
A infinda razão do teu íntimo vibrar
Pra a cumprires totalmente esta única vez.
Às reservas usadas, como às surdas e mudas,
Da natureza plena, às somas incontáveis
Soma-te a ti com júbilo e destrói o número.
Rainer Maria Rilke (1875-1926)
Sonetos a Orfeu
(tradução de Paulo Quintela)
[esta coisa de viver sempre a antecipar as despedidas conforma-nos, mas não sei até que ponto não as provoca... enfim! para já estou em tempo de despedidas: grandes despedidas]
Antecipa-te a toda a despedida, como se ela te ficasse
já para trás, como o inverno que está a partir.
Pois entre invernos há um tão sem-fim inverno
que, sobre-hibernando-o, o teu coração sobreviverá.
Sê sempre morto em Eurídice - , mais cantante sobe,
Mais celebrante sobe e volta à pura relação.
Sê aqui, entre os efémeros, no reino do declínio,
Sê cristal tininte que já no tinido se quebrou.
Sê – e sabe ao mesmo tempo a condição do não-ser,
A infinda razão do teu íntimo vibrar
Pra a cumprires totalmente esta única vez.
Às reservas usadas, como às surdas e mudas,
Da natureza plena, às somas incontáveis
Soma-te a ti com júbilo e destrói o número.
Rainer Maria Rilke (1875-1926)
Sonetos a Orfeu
(tradução de Paulo Quintela)
[esta coisa de viver sempre a antecipar as despedidas conforma-nos, mas não sei até que ponto não as provoca... enfim! para já estou em tempo de despedidas: grandes despedidas]
Sem comentários:
Enviar um comentário