09 julho 2017

The Light Between Oceans (2016)

Gosto de ver filmes que me acrescentem algo: seja conhecimento (históricos, biográficos), seja imaginação ou "leveza". Gosto particularmente dos que me emocionam, dos que me fazem sentir uma dor no peito ou uma alegria dançante. Gosto de lições, de ensinamentos que me fazem esquecer o dia a dia mas me fazem pensar sobre o que sou e gostaria de ser, onde estou e onde gostaria de estar.

The Light Between Oceans é um destes filmes. Tom (Fassbender) veterano de guerra sente a sua vida acabada e propõe-se ocupar o lugar de faroleiro na ilha de Janus. Uma posição que obriga ao isolamento, a viver sozinho de e para uma luz que encaminha barcos na imensidão do oceano. Passa os dias em tarefas de reparação, limpeza, manutenção do farol, de uma casa e em tarefas agrícolas numa pequena horta. Vigia o infinito oceano, não porque espera a chegada de reabastecimento ou visitas, mas para uma simples ocupação do olhar, da mente, do tempo.

[Quantas vezes me imagino numa situação idêntica: vácuo na mente, o barulhar do mar, o vento forte na fronte e o por do sol. Sem sentir a angústia da obrigação, os deveres rancorosos a imporem-se ao tempo, sem a escuridão de não saber o que dizer]

Tom sentia que depois das mortes e do sofrimento da guerra, não merecia mais vida, mas os planos de Deus são insondáveis. Ao regressar momentaneamente à vila para abastecimento conhece melhor Isabel (Vikander) com quem começa a corresponder-se e por quem se apaixona. Casam e Isabel vai para a ilha viver com Tom. Feliz com Tom, mas infeliz na maternidade, Isabel sofre dois abortos espontâneos numa fase avançada da gravidez.

Ainda mal enterrado o segundo filho, Tom avista um barco naufragado a aproximar-se da margem e chama Isabel. Ao chegarem junto ao bote encontram um homem morto e um bebé a chorar copiosamente. Isabel apronta-se a cuidar da menina e pede a Tom que a assumam como a criança que deveriam ter tido e perderam. Relutante, Tom acede à súplica da mulher guardando o remorso no peito.

Numa visita à vila, Tom vê Hannah no cemitério em pranto e um amigo conta-lhe a história da viúva, que Tom reconhece como sendo a mãe da bebé que salvou. Tolhido pela culpa envia-lhe uma carta dizendo que o marido teve sepultura digna e que a filha está bem e amada. Passados dois anos, Tom volta a escrever a Hannah dando-lhe pistas suficientes para que a polícia descubra o paradeiro da menina e o prenda.

As pessoas são responsáveis pelas suas acções e ao quebrar as regras muitas são as consequências, pessoais e para terceiros. Tom não pode viver com a culpa e a mentira, mas também não conseguiu negar à mulher, devastada pela perda, a graça de poder ter uma criança, mesmo não sendo sua. Tom assume todas as responsabilidades, ilibando a mulher... e esta mente não o conseguindo perdoar referindo que Frank ainda estava vivo quando o encontraram.

Isabel acusa o marido e Hannah de não pensarem no melhor para Lucy e a criança sofre por ter de viver com Hannah que não reconhece como mãe. É então que Hannah procura Isabel e lhe oferece a filha a troco do testemunho dela contra o marido.

Será o amor de Isabel pelo marido maior que o seu amor por Lucy? Será a vontade de ficar com a menina maior que a verdade? Lucy era tudo o que Isabel queria, a sua filha, a sua razão de viver? Mas Tom sempre fora um bom marido e estava a assumir responsabilidades que não eram totalmente suas, arriscando-se a morrer pelo amor a Isabel.

Amor
Culpa
Verdade
Perdão
Clemência

The Light Between Oceans é tudo isso. Lições consecutivas sobre as consequências dos nossos actos. Mesmo quando pensamos que estamos a fazer o correcto, nunca sabemos quais são as consequências do que fazemos. Devemos contudo estar preparados para as assumir, mesmo que esse assumir implique grandes sofrimentos, perdas... porque do assumir emerge a Verdade, da verdade a Clemência e no meio disto tudo estará sempre, sempre... a Luz do Amor.



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