20 janeiro 2013

Perfect Sense (2011)

Poderia ser: o Sentido Perfeito, mas sinceramente, prefiro: Faz todo o sentido. A realização não é extraordinária, nem as interpretações de Ewan McGregor ou Eva Green, ou sequer o dilema da mulher encalhada e do homem que dorme com todas sem se apegar a nenhuma, contudo, o cenário lembra o "ensaio sobre a cegueira" numa dimensão epidémica que atinge todos os sentidos, deixando para o fim a visão.

Atrevo-me a dizer que desde o início se fala de cegueira, da cegueira pós-moderna do ser humano, mas apenas no fim se instalam as últimas consequências da perda de visão: a escuridão total.
It's dark now. But they feel each others' breath. And they know all they need to know. They kiss. And they feel each others' tears on their cheeks. And if there had been anybody left to see them, then they would look like normal lovers, caressing each others' faces, bodies close together, eyes closed, oblivious to the world around them. Because that is how life goes on. Like that. 

Primeiro veio o Severe Olfactory Syndrome, SOS onde as pessoas se sentiam miseravelmente infelizes e perdiam o sentido olfactivo; depois instalou-se o terror, a raiva e logo o sentido do sabor desapareceu, sem tempo para nomear a doença. Depois desaparece a audição, acompanhada pela destruição obscena, pelo arrependimento e pelo perdão. E ninguém sabe a causa dos sintomas, nem sabe o que vai acontecer à humanidade e enquanto isso a protagonista vai narrando a infelicidade humana e como os homens da sua vida são uns idiotas. O protagonista vai empratando comida e relatando as dificuldades do restaurante onde é chefe.

O espectador, esse, vai-se interrogando sobre a misteriosa doença que elimina os sentidos e a vida que se readapta rapidamente, apesar do sentido perdido. E de repente percebemos que os sentidos não importam nada. Importam os hábitos e a forma como se vai vivendo, como autómatos que somos.

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