27 maio 2014

Zaz

Uma voz "desesperada", num grito por atenção lancinante que encerra a banda sonora do filme Dead Man Down com Collin Farrel e Noomie Rapace. Zaz aparece e complementa magistralmente a trama do húngaro "morto" depois de perder a mulher e a filha, e da francesa "morta" depois de desfigurada por um acidente de automóvel.






Eblouie par la nuit à coup de lumière mortelle
A frôler les bagnoles les yeux comme des têtes d'épingle.
J't'ai attendu 100 ans dans les rues en noir et blanc
Tu es venu en sifflant.

Eblouie par la nuit à coup de lumière mortelle
A shooter les canettes aussi paumé qu'un navire
Si j'en ai perdu la tête j't'ai aimé et même pire
Tu es venu en sifflant.

Eblouie par la nuit à coup de lumière mortelle
A-il aimé la vie ou la regarder juste passer?
De nos nuits de fumette il ne reste presque rien
Que tes cendres au matin
A ce métro rempli des vertiges de la vie
A la prochaine station,petit européen.
Mets ta main,dessend-la au dessous de mon coeur.

Eblouie par la nuit à coup de lumière mortelle
Un dernier tour de piste avec la main au bout
J't'ai attendu 100 ans dans les rues en noir et blanc
Tu es venu en sifflant.



Mas Zaz é muito mais que a banda sonora de um filme europeu com estrela americana. Dizem que passou de saltimbanca de rua a cantora de tops; que produz fusão entre o gipsy jazz, a soul e a varieté française, notando-se as influências afro, arábicas, andalusas e latinasEvita os refrões e as repetições que os artistas modernos apreciam; usa e abusa de instrumentos como o violino, o acordeão e os ferrinhos, mas definitivamente em Zaz impera o storytelling, a descrição de sentimentos e cenários, a alusão a lugares e personagens famosos e, claro, o seu melhor instrumentos: a voz («rauque un peu cassée»).

A sua carreira de tops começa em 2010 com o álbum homónimo. O primeiro avanço Je Veux é eleito canção favorita dos franceses em 2010.

Em 2013, Zaz lançou Recto Verso, álbum ritmado, apressado, cheio de histórias humanas sobre as diferenças, os dramas e o encontro do homem com o universo. A voz afirma-se numa montanha russa de tons e entoações surpreendentes e inimitáveis.


Destaque ainda para a participação do grande Jean-Jacques Goldman em Si.

Si j'étais l'amie du bon Dieu
Si je connaissais les prières.
Si j'avais le sang bleu.
Le don d'effacer et tout refaire.
Si j'étais reine ou magicienne
princesse, fée, grand capitaine,
d'un noble régiment.
Si j'avais les pas d'un géant.

Je mettrais du ciel en misère,
Toutes les larmes en rivière,
Et fleurirais des sables
où filent même l'espoir
Je sèmerais des utopies,
plier serait interdit,
On ne détournerait plus les regards.

Si j'avais des milles et des cents,
Le talent, la force ou les charmes,
Des maîtres, des puissants.
Si j'avais les clés de leurs âmes.
Si je savais prendre les armes.
Au feu d'une armée de titans.
J'allumerais des flammes,
Dans les rêves éteints des enfants.
Je mettrais des couleurs aux peines.
J'inventerais des Éden.
Aux pas de chances, aux pas d'étoiles, aux moins que rien.

Mais je n'ai qu'un cœur en guenille,
Et deux mains tendues de brindilles.
Une voix que le vent chasse au matin.
Mais si nos mains nues se rassemblent,
Nos millions de cœurs ensembles.
Si nos voix s'unissaient,
Quels hivers y résisteraient ?

Un monde fort, une terre âme sœur,
Nous bâtirons dans ces cendres
Peu à peu, miette à miette,
goutte à goutte et cœur à cœur

Peu à peu, miette à miette,
goutte à goutte et cœur à cœur

25 maio 2014

Afeganistão


Tenho uma curiosidade atroz por outras culturas, mas infelizmente não consigo visitá-las e embrenhar-me na sua descoberta. Por isso, muitas vezes, procuro leituras que testemunhem e me façam imaginar para além desta cultura light e easy ocidental.

A sinopse de O Livreiro de Cabul é clara: testemunho da jornalista Asne Seierstad, repórter de guerra no Médio Oriente, sobre o tempo que passou com uma família afegã.

A leitura é sôfrega, por vezes revoltante, apesar de Seierstad procurar ser imparcial. No entanto, o ritmo da escrita e a sua "secura" permitem adivinhar a fúria contida de uma mulher que assiste e não compreende, ou se compreende, não aceita.

Para mim que pouco sei sobre muçulmanos e ainda menos sobre talibans e pastunes, guardo uma leitura sem preconceitos e acessível sobre uma cultura praticamente impenetrável a olhos ocidentais.

16 maio 2014

Ruthie Foster

Esta minha paixão por vozes poderosas...






It makes no difference where I turn
I cant get over you and the flame still burns
It makes no difference, night or day
Shadow never seems to fade away

And the sun don't shine no more
And the rains fall down on my door

Now there's no love
As true as a love that dies untold
And the clouds never hung so low before

And it makes no difference how far I go
Like a scar that hurt will always show
And it makes no difference who I meet
It's just a face in the crowd in a dead end street

And the sun don't shine no more
And the rains fall down on my door

Well these old love letters
Well I just cant keep
'Cause like a gambler says,
You read 'em and weep

And the dawn don't rescue me no more
Without your love, I'm nothing at all
Just like an empty hole
It's a lonely fall

Since you've been gone it's a losing battle
Stampede and cattle
They rattle the walls

And the sun don't shine no more
And the rains fall down on my door

Well, I love you so much
That it's all that I can do
Just to keep from telling you
That I never, ever felt so alone before

04 maio 2014

A arte de dormir sozinha (Sophie Fontanel)


A edição portuguesa da Guerra & Paz de A arte de dormir sozinha de Sophie Fontanel apresenta na capa a interrogação: "o que leva uma mulher a desistir do sexo?" deixando o teaser para a expectativa de encontrar as respostas nas 150 páginas do livro.

Pois bem, não há resposta, ou pelo menos, Sophie Fontanel não a dá. A leitura revela uma mulher que tomou uma opção e que escreve para tentar justificar a mesma. Mostra a forma como os amigos se interrogaram, a interrogaram e de, certa forma, a julgaram, por ter decidido trilhar caminhos opostos aos preconizados pela sociedade actual, impregnada de apelos à importância do sexo na vida das pessoas e à condenação de quem não vive dando azo à luxúria e ao prazer. É difícil aos outros compreender como alguém decide algo "anormal", especialmente quando é uma pessoa "sexual" (atraente e lasciva). Mas a autora não fechou o corpo à sensualidade, apenas ao sexo, sendo o seu testemunho a evidência disso mesmo.

Fontanel explica a aversão que começou a sentir quando não havia envolvimento emocional com os seus amantes. Cansou-se de dar o corpo, na busca de um prazer momentâneo que, uma vez consumado, deixava um vazio. A inquietação do nada, do vulgar, daquilo que todos faziam, mesmo que o fizesse por sua iniciativa, levou-a a procurar a sua vontade, o significado dessa vontade. Sobre o uso do corpo, objecto vácuo de mera fruição, teria beneficiado com a leitura do onze minutos de Paulo Coelho, mas poderia não se identificar com a protagonista. Afinal, Fontanel é uma intelectual francesa, "passeia-se" entre uma elite dita erudita, amante da arte e da cultura. Portanto, "mais inteligente" / racional que uma prostituta que dá o corpo porque precisa de comer (personagem de Coelho).

Para além do retrato do questionamento, da crítica e da vacuidade das vidas dos amigos, com exemplos por vezes menos livres e menos preenchidos que os de Fontanel, a autora desfia exemplos de "compensações" de prazer. Isto é, a forma como ficou mais desperta para as "ofertas" da vida, aqueles momentos e dádivas que não vemos quando a nossa mente se entrega a momentos orgásmicos vividos ou fantasiados. Sem os sentidos inebriados, o corpo desperta para a envolvente, encontra substitutos para a ausência do estímulo corporal, descobre a verdadeira sensualidade.

No fundo, o corpo precisa de tranquilidade para se encontrar com as mais diversas fontes de prazer. "A solidão torna-nos perspicazes" (p. 83), mas também nos mostra o "desespero" de se constatar que não se ama ninguém (p. 107).

Ao fim de doze anos, Fontanel conclui que a nossa parte física são os outros que no-la dão, por isso e apesar da coragem e resiliência subjacente a uma decisão de viver no meio dos outros com uma opção "diferente", mais cedo ou mais tarde, o corpo volta a "falar" e a pedir o afecto, o carinho... sobretudo o prazer que só o envolvimento dos corpos proporciona. De vontade, de acordo com a liberdade de cada um, e novamente Fontanel se revela "diferente"... com mais de 50 anos de idade renuncia ao compromisso, ao casamento, ao convencional nas relações, pois só a sua carreira, a sua "arte" a possuem!


02 maio 2014

e a poetisa dixit

"Não te apaixones por uma mulher lúcida, irreverente, intensa e brincalhona.
Não te apaixones por uma mulher que lê, que escreve ou por uma mulher que tem sentimentos.
Não te apaixones por uma mulher culta, delirante ou louca. 
Não te apaixones por uma mulher que pensa, que sabe o que realmente sabe e confiante em si mesma.
Não te apaixones por uma mulher que ri ou chora quando faz amor, que sabe transformar a carne em espírito, e, muito menos, te apaixones por uma mulher que ama poesia, que é romântica ou que fica meia hora contemplando uma pintura e não é capaz de viver sem música.
Não te apaixones por uma mulher que está interessada em política, que é rebelde e sente um enorme horror pelas injustiças. 
Não te apaixones por uma mulher que não gosta de ver televisão, nem por uma mulher que seja bonita, mas que não se importe com as características de seu rosto e de seu corpo. 
Não queiras apaixonar-te por uma mulher assim… Porque, quando te apaixonares por uma mulher como esta, se ela vai ficar contigo ou não, se ela te ama ou não, nada disso interessa, porque... de uma mulher assim, jamais conseguirás ficar livre…"



(poetisa dominicana Martha Rivera Garrido)