27 janeiro 2014

Uma Aprendizagem ou o Livro dos Prazeres (Clarice Lispector)



Alivia a minha alma, faze com que eu sinta que Tua mão está dada à minha, faze com que eu sinta que a morte não existe porque na verdade já estamos na eternidade, faze com que eu sinta que amar é não morrer, que a entrega de si mesmo não significa a morte, faze com que eu sinta uma alegria modesta e diária, faze com que eu não Te indague demais, porque a resposta seria tão misteriosa quanto a pergunta, faze com que me lembre de que também não há explicação porque um filho quer o beijo de sua mãe e no entanto ele quer e no entanto o beijo é perfeito, faze com que eu receba o mundo sem receio, pois para esse mundo incompreensível eu fui criada e eu mesma também incompreensível, então é que há uma conexão entre esse mistério do mundo e o nosso, mas essa conexão não é clara para nós enquanto quisermos entendê-la, abençoa-me para eu viva com alegria o pão que eu como, o sono que durmo, faze com que eu tenha caridade por mim mesma, pois senão não poderei sentir que Deus me amou, faze com que eu perca o pudor de desejar que na hora de minha morte haja uma mão humana amada para apertar a minha, amém.


(Edição da Relógio D'Água, 1999, p. 48)


Alivia a minha alma, faze com que eu sinta que Tua mão está dada à minha, faze com que eu sinta que a morte não existe porque na verdade já estamos na eternidade, faze com que eu sinta que amar é não morrer, que a entrega de si mesmo não significa a morte, faze com que eu sinta uma alegria modesta e diária, faze com que eu não Te indague demais, porque a resposta seria tão misteriosa quanto a pergunta, faze com que me lembre de que também não há explicação porque um filho quer o beijo de sua mãe e no entanto ele quer e no entanto o beijo é perfeito, faze com que eu receba o mundo sem receio, pois para esse mundo incompreensível eu fui criada e eu mesma também incompreensível, então é que há uma conexão entre esse mistério do mundo e o nosso, mas essa conexão não é clara para nós enquanto quisermos entendê-la, abençoa-me para eu viva com alegria o pão que eu como, o sono que durmo, faze com que eu tenha caridade por mim mesma, pois senão não poderei sentir que Deus me amou, faze com que eu perca o pudor de desejar que na hora de minha morte haja uma mão humana amada para apertar a minha, amém.


(Edição da Relógio D'Água, 1999, p. 99)


Baixa e longínqua
É a voz que ouço. De onde vem,
Fraca e vaga?
Aprisiona-me nas palavras,
Custa-me entender
As coisas pelas quais pergunta
Não sei e não sei
Como responder-lhe-ei.

Só o vento sabe,
Só o sol sábio conhece.
Pássaros pensativos,
O amor é belo,
Me insinuam algo.
E o mais
Só o vento sabe,
Só o sol conhece.

Por que, ao longe, erguem-se as rochas,
Por que vem o amor?
As pessoas são indiferentes,
Por que tudo lhes sai bem?
Por que eu não posso mudar o mundo?
Por que não sei beijar?
Não sei e não sei
Talvez um dia compreenda.

Só o vento sabe,
Só o sol sábio conhece.
Pássaros pensativos,
O amor é belo,
Me insinuam algo.
E o mais,
Só o vento sabe,
Só o sol conhece.


A letra da música Zdenek Rytir. E a música de Karel Svoboda.

(Edição da Relógio D'Água, 1999, p. 104)

18 janeiro 2014

A Royal Affair (2012)

Em pleno século XIX, a Dinamarca vive em plena Idade Média, dominada por escravatura, repressão e uma corte de fanáticos liderada por um rei louco que teima em não crescer. Prometida ao Rei Christian VII da Dinamarca, a princesa britânica Caroline Mathilda muda-se para a Escandinávia onde a sua infelicidade começa quando grande parte dos seus livros com ideias iluministas lhe são retirados. Acresce o comportamento infantil, errático e pouco respeitador do rei. Caroline sente-se numa prisão até que, numa viagem pela Europa, Christian conhece Johann Friedrich Struensee, um médico de ideias iluministas que se torna seu companheiro de aventuras. Mas Struensee tem um plano: "actualizar" a Dinamarca e rapidamente usa a sua influência junto do rei para implementar medidas que, por instantes, tornam a Dinamarca progressista e desenvolvida. Até que... se apaixona por Caroline e os opositores ao progresso o condenam à morte e afasta de Christian.



Não escondo a minha preferência por filmes europeus, se forem históricos então tenho garantidas duas horas de puro fascínio. A Royal Affair reúne estas duas características e, ainda, Mads Mikkelsen no papel de Struensee. Mikkelsen é provavelmente um dos meus actores proferidos actualmente, pela densidade, pela poker face, pela crueldade. Neste filme, mostra igualmente emoção sendo a química com Alicia Vikander (Caroline) notória.

By the way, não se preocupem, a Dinamarca recuperou com o filho de Caroline, Frederik VI que devolveu à Dinamarca as leis progressistas de Struensee que incluíam a abolição: da tortura; do trabalho escravo (corvéia); da censura à imprensa; preferência de nobres para cargos públicos (boys); dos privilégios nobres; do financiamento público a áreas improdutivas; e também: a introdução de um imposto sobre os jogos de azar e de luxo para financiar enfermagem aos mais desfavorecidos; proibição do tráfico de escravos nas colónias dinamarquesas; criminalização e punição de suborno; reorganização das instituições judiciais para minimizar a corrupção; cessão de terras aos camponeses; re-organização e redução do exército; reformas universitárias; e reforma das instituições médicas públicas.


Fonte: o filme e http://en.wikipedia.org/wiki/Johann_Friedrich_Struensee

08 janeiro 2014

How long will I love you?

Não conheço quase nada de Ellie Goulding (até hoje apenas Lights, que pouco apreciava). Mas uma versão desta música numa comédia romântica de pouca qualidade (About Time) fez-me tropeçar nesta questão pertinente, atendendo a que sempre interpretei as relações como uma música, ou pelo menos, que duram o tempo de uma música. How long will I love you? As long as stars above you And longer, if I can. How long will I need you? As long as the seasons need to Follow their plan. How long will I be with you? As long as the sea is bound to Wash upon the sand. How long will I want you? As long as you want me too And longer by far. How long will I hold you? As long as your father told you, As long as you can. How long will I give to you? As long as I live through you However long you say. How long will I love you? As long as stars above you And longer, if I may. [Spoken:] We're all traveling through time together Every day of our lives. All we can do is do our best To relish this remarkable ride.

05 janeiro 2014

The Letter Writer (2011)

E enquanto vou diminuindo a minha lista de to see movies vou descobrindo algumas pérolas musicais. A última é de uma jovem praticamente desconhecida, que teve a felicidade de protagonizar o filme The Letter Writer a história comovente de uma adolescente à procura do seu rumo que um dia recebe uma carta de um desconhecido. Poderia ter-se desfeito da mesma, mas a mesma tinha uma mensagem: a mensagem certa no momento oportuno. É então que Maggie vai à procura do autor da carta e encontra não apenas um amigo, mas o ombro que a ajuda a compreender porque é que as pessoas passam na nossa vida e como por vezes mais vale que mostrem o que são e saiam da nossa vida. Um filme para ver em família, uma mensagem universal.

 

  You're a flower blooming in the new dawn 
 The colors around the setting sun 
 A candle in the dark 
 And you're every sailors beacon on the shore 
 You're every perfect metaphor 
 There's a culminating action of us all 
 Sometimes there are miracles 
 And our hands do the job 
 For every action you move these thing along 
 Everything you do moves these along 
 Angels are hiding in the motions of humans 
 Angels are around to help us all 
 We are angels hiding in the bones of humans 
 Helping all these miracles along 
 There's a golden key that opens any lock 
 The path to get the thing you want 
 Is never really blocked 
 And you're every persons' escort to the door 
 And every other person is yours 
 Every other person is yours 
 Angels are hiding in the motions of humans 
 Angels are around to help us all 
 We are angels hiding in the bones of humans 
 Helping all these miracles along 
 Along.