22 dezembro 2013

Sur mes lévres (2001)

Depois de o ter conhecido com De Rouille et D'os não consegui ficar indiferente a Jacques Audiard, realizador francês que cria improváveis ligações entre protagonistas de características inesperadas.

Em Sur mes Lévres, Vincent Cassel é Paul um ex. presidiário que tenta recomeçar a vida e que responde a um pedido de assistente para Carla (Emanuelle Devos), uma secretária quase surda que lê nos lábios em segredo. Carla é uma solitária, humilhada pelos colegas de trabalho, que vê em Paul a possibilidade de encontrar um aliado ou um amigo. Mas Paul tem uma ligação ao mundo do crime, difícil de resolver. É então que Carla começa a ajudá-lo e ambos desenvolvem uma grande cumplicidade, baseada em instinto de sobrevivência, mas sobretudo numa grande vontade de viver "para além da vida".

Um filme "real", com um enredo que não deixa ninguém indiferente!


08 dezembro 2013

Disconnect (2012)


O retrato de três famílias contemporâneas: um pai ex.polícia que se retira para ficar em casa com o filho de 15 anos após a morte da mãe; um casal a quem morreu o filho bebé e um casal com dois filhos adolescentes, em que o pai advogado vive "ligado" ao trabalho.
O que os une? O argumento do filme e a falta de diálogo entre si. Filho sente-se aprisionado, com um pai agressivo, pouco dado à expressão do afecto e revoltado com a perda da mulher; um marido ex.marine perdido após a morte do filho e mergulhado num emprego em que não se sente valorizado, uma mulher que sente ter perdido o filho e o marido pois este nunca mais conversou ou mostrou por ela qualquer tipo de afecto; um pai advogado, sempre de telemóvel na mão, incapaz de mostrar preocupação com os filhos ou com a mulher.
A rotina é a marca dos diálogos entre as diferentes personagens, até que a tecnologia toma o protagonismo.

Cindy encontra num grupo de suporte online um amigo com quem partilha a sua tristeza em relação à perda do filho e à distância do marido. Contudo, os seus dados são roubados assim como todo o seu dinheiro. É então que face à inércia da polícia, decidem contratar Kyle, ex.polícia especialista em crimes cibernéticos, que os informa da possibilidade do amigo digital de Cindy ser o responsável. Derek decide confrontar esse "amigo" após ler os diálogos que o mesmo manteve com a mulher. É então que a perda do dinheiro e o "inimigo comum" re-conecta o casal.

Ben é um jovem adolescente, com problemas em fazer amigos e completamente apaixonado por música. Um dia dois colegas resolvem criar um falso perfil de facebook simulando ser uma adolescente e tornam-se amigos de Ben. Contudo, a brincadeira transforma-se em bullying e Ben tenta enforcar-se. Salvo pela irmã, fica em coma. É então que o pai decide preocupar-se e descobrir o que acontecera para o filho tentar o suicídio. Rapidamente chega a Jason e quando confronta o rapaz é agredido por Mike, que defende o filho. Os pais percebem a pouca atenção e o quão "desligados" têm estado dos mesmos e o mal que lhes tem feito a falta de diálogo. É depois desta briga que Rich percebe o quanto ama a família e o que tem de fazer para regressar para a mesma.
Mike, por seu turno, reaproxima-se do filho que reconhece o erro cometido e percebe o quanto o pai o ama.

Paralelamente à história destas três famílias que lutam por se "reconectar" no "mundo real", desenvolve-se a relação de Nina Dunham, uma jornalista ambiciosa, que se aproxima de um adolescente que se prostitui online, Kyle. Dunham convence Kyle a contar a sua história na televisão e acaba por ser coagida pelo FBI a revelar a localização do "bordel" onde Kyle vive com outros jovens.

Desligados é um filme de narrativa complexa onde as histórias aparecem como um mosaico. Não é extraordinário, contudo reflecte um dos principais problemas da actualidade: a falta de "ligação" interpessoal do ser humano. O ambiente digital aparenta tornar tudo mais fácil ou tudo mais difícil. Mais fácil porque sem olharmos olhos nos olhos de alguém sentimos que não somos julgados e tudo pode ser dito, mais facilmente "desabafamos", além disso, há uma sensação de "sempre-presença". Mais difícil porque o synopticon torna-nos vulneráveis, os nossos dados são facilmente roubados, assim como a nossa dignidade.

No fim de ver este filme dei por mim a pensar: "ainda bem que não havia internet e redes sociais na minha infância e adolescência".

Destaque ainda para:


You grow, you roar
Although disguised
I know

You'll
You'll learn to know

You grow, you grow like tornado
You grow from the inside
Destroy everything through
Destroy from the inside
Erupt like volcano
You flow through the inside
You kill everything through
You kill from the inside

You'll
You'll learn to know

I wonder if I'm allowed ever to see
I wonder if I'm allowed to ever be free

You sound so blue
You now are gloom

I wonder if I'm allowed just ever to be