26 janeiro 2013

The Sessions (2012)


Baseado numa história verídica, recheado de humor e de humanidade, The Sessions conta a história de Marc O'Brien, um homem que sobrevive a poliomielite que o obriga a possuir um pulmão de ferro, uma curvatura anormal do corpo e a viver deitado, pois os músculos não respondem nem têm força para suportar o corpo. Mas Marc é um lutador que apesar de confinado a uma cama, decide tirar um curso, ser poeta e jornalista. Tudo isto usando a boca para escrever e vários aparelhos adaptados. Na sua jornada conta ainda com o apoio de vários assistentes que o limpam e alimentam e com Father Brendon, o seu confessor e amigo, com quem partilha as suas angústias e aventuras amorosas (platónicas).
Até que um dia, Marc apaixona-se por uma das assistentes (Amanda) que apesar de gostar muito dele acaba por partir. Marc decide então que quer perder a virgindade e compreender o amor vivido. Motivado por entrevistas para um artigo sobre o sexo em pessoas com deficiência e pela informação da existência de terapeutas sexuais, Marc contrata Cheryl (Helen Hunt) que o ajuda a descobrir o corpo, a controlar a respiração e a erecção. 
Entre ambos desenvolve-se uma grande cumplicidade, pois apesar da deficiência, Marc cativa com a sua personalidade e preocupação em relação aos outros. Apesar de ter consciência da pena que suscita, Marc não se comporta como um "condenado", possuindo a atitude de quem agradece cada dia, cada oportunidade.
Ao descobrir o prazer do orgasmo, Marc decide terminar as sessões com Cheryl e continuar a vida que lhe está destinada, sem ilusões de amor. É então que um acidente (corte de energia) o deixa entre a vida e a morte, e ao acordar no hospital, conhece Susan, o grande amor da sua vida, que ficaria ao seu lado até à morte que chegaria poucos anos depois.

Fica assim retratada a vida do menino a quem, aos 6 anos, diagnosticaram 6 meses de vida, mas que viveu até aos 49, rodeado de amigos e procurando viver a emoção, a intensidade, a dádiva que recebera. Na sua postura, destaque para o humor, para a gentileza, para a capacidade de expressar os seus sentimentos, criando metáforas e imagens magníficas e sem se entregar ao queixume, à depressão.
Uma lição de vida, um filme arrebatador, com interpretações sensíveis e marcantes!


"poema de amor para
ninguém em particular"
(por Marc O'Brien)


Deixa-me tocar-te com as
minhas palavras

Com as minhas mãos, que são, como
luvas de pele vazias

Deixa que as minhas palavras
toquem os teus ouvidos

Deslizem pelas tuas costas e,
te dêem pontadas na barriga

As minhas mãos... leves, voando como pássaros
sem asas

Ignoram os meus desejos e
recusam teimosamente

A satisfazer os meus desejos
mais recônditos

Deixa entrar as minhas palavras
na tua mente

Carregando archotes... deixa-as entrar à
vontade dentro de ti

Para te poderem acariciar gentilmente
Dentro de ti

20 janeiro 2013

Perfect Sense (2011)

Poderia ser: o Sentido Perfeito, mas sinceramente, prefiro: Faz todo o sentido. A realização não é extraordinária, nem as interpretações de Ewan McGregor ou Eva Green, ou sequer o dilema da mulher encalhada e do homem que dorme com todas sem se apegar a nenhuma, contudo, o cenário lembra o "ensaio sobre a cegueira" numa dimensão epidémica que atinge todos os sentidos, deixando para o fim a visão.

Atrevo-me a dizer que desde o início se fala de cegueira, da cegueira pós-moderna do ser humano, mas apenas no fim se instalam as últimas consequências da perda de visão: a escuridão total.
It's dark now. But they feel each others' breath. And they know all they need to know. They kiss. And they feel each others' tears on their cheeks. And if there had been anybody left to see them, then they would look like normal lovers, caressing each others' faces, bodies close together, eyes closed, oblivious to the world around them. Because that is how life goes on. Like that. 

Primeiro veio o Severe Olfactory Syndrome, SOS onde as pessoas se sentiam miseravelmente infelizes e perdiam o sentido olfactivo; depois instalou-se o terror, a raiva e logo o sentido do sabor desapareceu, sem tempo para nomear a doença. Depois desaparece a audição, acompanhada pela destruição obscena, pelo arrependimento e pelo perdão. E ninguém sabe a causa dos sintomas, nem sabe o que vai acontecer à humanidade e enquanto isso a protagonista vai narrando a infelicidade humana e como os homens da sua vida são uns idiotas. O protagonista vai empratando comida e relatando as dificuldades do restaurante onde é chefe.

O espectador, esse, vai-se interrogando sobre a misteriosa doença que elimina os sentidos e a vida que se readapta rapidamente, apesar do sentido perdido. E de repente percebemos que os sentidos não importam nada. Importam os hábitos e a forma como se vai vivendo, como autómatos que somos.

06 janeiro 2013

Sofrimento (por Valerio Albisetti)

De um sofrimento nasce, por definição, a oportunidade de uma grande transformação da alma, de um apuramento, de um crescimento espiritual.
A vida é um movimento contínuo. Tudo se transforma continuamente, embora em silêncio.

Mesmo que seja preciso morrer... para se transformar, limpar, melhorar... para encontrarmos o tesouro que está em nós, para nos elevarmos espiritualmente.


O sofrimento surge para nos dizer alguma coisa.
A vida nasce da morte. Vive quem experimentou as derrotas, as perdas, os insucessos, os sofrimentos e a dor. Não existe nenhum viajante de espírito, ninguém que procure um sentido, que não tenha sofrido, que não tenha provado a dor e que a tenha transformado em opções, em crescimento interior.

O sofrimento esconde sempre um tesouro. Informações preciosas e desconhecidas sobre nós. É portador de mudança. Oferece-nos sempre a possibilidade de crescer.

Quando sofres,
quando sentes dor,
quando te sentes ferido,
quando te sentes desiludido,
quando te sentes confuso,
quando te sentes traído,
quando te sentes perseguido,
quando te sentes usado,
quando te sentes explorado,
quando te sentes manipulado,
quando te sentes zombado,
entra nas profundezas do teu coração.
Lá encontrarás a energia, a Luz para poder continuar a tua viagem fascinante, única e irrepetível nesta terra, apesar de fatigante.

Uma oração é autêntica quando entra no coração, quando vive no coração; aí, no âmago da nossa identidade, onde nos purificamos, onde encontramos a nossa vocação, onde dialogamos com Deus.


(Valerio Albisetti, Como atravessar o sofrimento e sair dele mais forte)