11 dezembro 2009

My Sister's Keeper


Um retrato doloroso, muitas decisões difíceis, um questionamento que permanece para além do filme, para além do livro que o inspirou.


Os Fitzgerald são uma família como tantas outras e têm dois filhos, Jesse e Kate. Quando Kate chega aos dois anos de idade é-lhe diagnosticada uma forma grave de leucemia. Os pais resolvem então ter outro bebé, Anna, geneticamente seleccionada para ser uma dadora perfeitamente compatível para a irmã. Desde o nascimento até à adolescência, Anna tem de sofrer inúmeros tratamentos médicos, invasivos e perigosos, para fornecer sangue, medula óssea e outros tecidos para salvar a vida da irmã mais velha. Toda a família sofre com a doença de Kate. Agora, ela precisa de um rim e Anna resolve instaurar um processo legal para requerer a emancipação médica e assim poder tomar decisões sobre o seu corpo.

Sara, a mãe, é advogada e resolve representar a filha mais velha neste julgamento. Em Para a Minha Irmã muitas questões complexas são levantadas: Anna tem obrigação de arriscar a própria vida para salvar a irmã? Os pais têm o direito de tomar decisões quanto ao papel de dadora de Anna? (sinopse do livro).




O que a sinopse não diz é que é Kate, depois de passar anos a lutar contra a doença e a sentir o sofrimento da família, que pede à irmã para parar de a salvar. Kate sente que chegou a hora, já não suporta mais a doença, as recaídas, a vida em suspenso da família que abdica de si para lhe proporcionar o sopro de vida, pois nem uma vida é.

Neste processo, Jesse «perde-se» desiste da escola e move-se como invisível pela casa. Anna não pode ser uma adolescente normal. O pai vive em constante sobressalto à espera do telefonema que o tem de levar de novo ao hospital. A mãe desiste da profissão e dedica-se inteiramente aos cuidados com a saúde da filha. E até a tia passa a ter um trabalho em part-time para ajudar a família.

Kate vive rodeada de atenções para sobreviver, mas que sobrevivência é esta?

O filme representa a problemática da manipulação genética para a criação de um substituto. Anna é apenas concebida para doar partes do seu corpo nos tratamentos da irmã, desde o nascimento. Que doença é esta que obriga os pais a optar por um dos filhos?

Jodi Picoult escreveu, Nick Cassavettes realizou, com interpretações de: Abigail Breslin (Nim’s Island), Sofia Vassilieva, Evan Elligson, Jason Patric, Cameron Diaz, Alec Baldwin.

06 dezembro 2009

Pedro Barroso (40 anos)

Poucos conhecem, eu talvez não devesse conhecer. Acontece que também sou ribatejana, passei pela rádio local, movi-me entre «alternativos». Se alguma coisa fica dos tempos de Tomar, uma delas é concerteza Pedro Barroso.
Artista da liberdade - tanta que grava e compõe em estúdio próprio ali para as bandas dos Riachos - canta hinos à portugalidade, onde mistura a literatura portuguesa, com folclore e instrumentos populares. Do trinar pungente da guitarra, à melancolia das teclas do piano, passando pela pena das palavras, Pedro Barroso é um cantautor (ou «último trovador português») cuja importância em Portugal passa infelizmente despercebida... pouco marketing, pouco show-off, pouco conformismo...

O CD Sensual Idade (2008) e o DVD «Pedro Barroso - 40 anos de músicas e palavras» assinalam os 40 anos de carreira igualmente marcados por um grande concerto no Teatro S. Luiz em Lisboa.

A minha favorita de sempre:





A entrevista ao TOP + aqui.


Outra pérola (o hino à mulher do novo álbum):




Bonita (homenagem «à gente de verdade»)




Companheira




Cartas a Portugal (à imigração, à distância... a este GRANDE PAÍS! A esta ÚNICA NAÇÃO)




Facturas do Futuro





[é melhor ficar por aqui senão coloco tudo e um par de botas... Pedro Barroso: PARABÉNS e OBRIGADA amigo português!]

02 dezembro 2009

Lady in the Water


As críticas ao filme de M. Night Shyamalan foram avassaladoras, tendo Lady in the water sido considerado o pior filme de 2006. Contudo, parece-me que os senhores críticos de cinema habituados a «mediocridade disfarçada em efeitos especiais» e pouco receptivos à «concorrência ao produto global» se esqueceram de ver efectivamente o filme.

O realizador afirma que baseou o argumento numa história de encantar que contava aos filhos para prevenir o encanto que os mesmos tinham pela piscina. Ou seja, usava uma história do tipo «bicho papão» para educar os filhos. Os críticos pegaram nisso e ridicularizaram o trabalho de um dos mais inovadores e geniais realizadores estrangeiros em Hollywood. Além isso, também não lhe perdoaram o facto de o senhor integrar o elenco como um visionário que denuncia vícios da liderança global e invoca a necessidade de tolerância cultural para garantir o futuro e a prosperidade das gerações seguintes. Pois é, o líder inspirado não pode ser um «simples indiano», falhado que vive com a irmã... tem de ser, no mínimo, americano.


Mas vamos à história e ao simbolismo que eu gosto de lhe encontrar.

O cenário é Cove, um condomínio com piscina em Philadelphia cujo responsável da manutenção é Cleveland Heep (Paul Giamatti), um antigo médico marcado pela perda da família num assalto brutal, que se culpa por não os ter salvo. Portanto, um homem que «deixa de viver» devido à perda, à falta de coragem para continuar e que prefere reduzir-se à sua insignificância.
Mas é precisamente este homem, abnegado que serve os outros, que vai encontrar Story (a História, a tradição), uma narf (ninfa das águas - entidade pagã) que vive na piscina do condomínio e que precisa de ajuda para cumprir a sua missão.
É o homem que «tudo perdeu» que se predispõe a ouvir, ao contrário dos que querem ganhar tudo e se esqueceram como se ouve (plot inicial do filme onde a história de encantar começa).

Story precisa de encontrar o seu vessel (o receptáculo da sua mensagem), isto é, um escritor cuja ideias sobre o mundo irão salvar o futuro e mudar o curso da história. O encontro é necessário por dois motivos: Story necessita de regressar ao seu mundo e para isso necessita de transmitir a sua mensagem ao vessel e além disso precisa que seja reunido um conjunto de intervenientes para que a Great Eatlon (águia, símbolo de poder e de São João, o Evangelista) a venha buscar para o Blue World (como se chama a Terra vista do espaço, sem estar atacada pela poluição?).
Este conjunto de pessoas são:
. Guardian (o guerreiro, a força): o indivíduo que consegue dominar o demónio scrunts que impede Story de «ascender» e que pretende matá-la para impedir a concretização da sua missão;
. Healer (o Mago): quem pode curar as feridas de Story, com a ajuda da lama kii;
. Symbolist (sabedoria dos iniciados): quem interpreta os sinais e a estratégia de ajuda a Story;
. Guild (a confraternidade): o grémio que facilita a distracção de scrunts;
. As sete irmãs (sete são as Pleiades, sete são as Hesperides, sete são as virgens prometidas aos muçulmano): para a cerimónia da energia do amor que cura.

A juntar a estes intervenientes existem ainda os terríveis Tarturic, responsáveis pela justiça e pela observância das regras do Blue World, que deveriam punir scrunts por atacar Story de forma traiçoeira e não conforme as normas.

Toda a história gira em torno de uma mensageira que vem anunciar a mudança, o que desagrada ao poder instituído. Além disso, faz a apologia do amor, da energia positiva, do serviço ao outro, apresentando um herói colectivo repleto de humanos demasiado humanos (isto é, cheios de inseguranças e defeitos) que mesmo assim podem fazer a diferença. Este colectivismo é completamente antagónico ao individualismo e ao sistema star-system americano. Todos querem 15 minutos de fama mas sozinhos, nunca partilhando os louros.

Por outro lado, os intervenientes são de raças, etnias e estilos de vida diversificados (desde das emigrantes chinesas e indianos, à numerosa família americana, ao herói de guerra isolado, à reformada, ao crítico de cinema) com papéis distintos no desenrolar da trama.

Finalmente, toda a história é impregnada de símbolos tradicionais, inspirados na mitologia e só compreendidos a quem estiver disponível para olhar mais longe.