30 junho 2009

O Livro dos Amantes

I
Glorifiquei-te no eterno.
Eterno dentro de mim
fora de mim perecível.
Para que desses um sentido
a uma sede indefinível.

Para que desses um nome
à exactidão do instante
do fruto que cai na terra
sempre perpendicular
à humidade onde fica.

E o que acontece durante
na rapidez da descida
é a explicação da vida.

II
Harmonioso vulto que em mim se dilui.
Tu és o poema
e és a origem donde ele flui.
Intuito de ter. Intuito de amor
não compreendido.
Fica assim amor. Fica assim intuito.
Prometido.

VI
Aumentámos a vida com palavras
água a correr num fundo tão vazio.
As vidas são histórias aumentadas.
Há que ser rio.

Passámos tanta vez naquela estrada
talvez a curva onde se ilude o mundo.
O amor é ser-se dono e não dar nada.
Mas pede tudo.

IX
Pusemos tanto azul nessa distância
ancorada em incerta claridade
e ficamos nas paredes do vento
a escorrer para tudo o que ele invade.

Pusemos tantas flores nas horas breves
que secam folhas nas árvores dos dedos.
E ficámos cingidos nas estátuas
a morder-nos na carne dum segredo.



Natália Correia

29 junho 2009

O Prometido é Devido

Naquele trilho secreto
Com palavras santo e senha
Eu fui língua e tu dialecto
Eu fui lume e tu foste lenha

Fomos guerras e alianças
Tratados de paz e péssangas
Fomos sardas pele e tranças
Popeline seda e ganga

Recordo aquele acordo
Bem claro e assumido
Eu trepava um eucalipto
E tu tiravas o vestido

Dessa vez tu não cumpriste
E faltaste ao prometido
Eu fiquei sentido e triste
Olha que isso não se faz
Disseste que se eu fosse audaz
Tu tiravas o vestido
O prometido é devido

Rompi eu as minhas calças
Esfolei mãos e joelhos
E tu reduziste o acordo
A um montão de cacos velhos

Eu que vinha de tão longe
( do outro lado da rua )
Fazia o que tu quisesses
Só para te poder ver nua

Quero já os almanaques
Do fantasma e do patinhas
Os falcões e os mandrakes
Tão cedo não terás novas minhas
.


[a música do Rui é isto: uma história inocente e comovente; uma lição sobre o que magoa e marca como tatuagem de forma, por vezes, inexplicável. O pequeno se torna grande.

E continuando nas lições de vida: Regras da Sensatez

Nunca voltes ao lugar
Onde já foste feliz
Por muito que o coração diga
Não faças o que ele diz

Nunca mais voltes à casa
Onde ardeste de paixão
Só encontrarás erva rasa
Por entre as lajes do chão

Nada do que por lá vires
Será como no passado
Não queiras reacender
Um lume já apagado

São as regras da sensatez
Vais sair a dizer que desta é de vez

Por grande a tentação
Que te crie a saudade
Não mates a recordação
Que lembra a felicidade

Nunca voltes ao lugar
Onde o arco-íris se pôs
Só encontrarás a cinza
Que dá na garganta nós

São as regras da sensatez
Vais sair a dizer que desta é de vez

26 junho 2009

Michael Jackson [1958-2009]

Notícia do dia: morreu Michael Jackson, paradigma da música pop dos anos 80 depois de incontáveis plásticas para se tornar branco e perfeito. É caso para dizer: «it don't matter if you balck or withe»

Sem ser grande fã, gostaria apenas de recordar Billie Jean, I Just Can't Stop Loving You, Heal the world

e claro as minhas 2 favoritas:

You are not alone




Earth Song

21 junho 2009

Mito Sebástico e Cultura Portuguesa





D. Sebastião, rei de Portugal
Louco, sim, louco, porque quis grandeza
Qual a Sorte a não dá.
Não coube em mim minha certeza;
Por isso onde o areal está
Ficou meu ser que houve, não o que há.

Minha loucura, outros que me a tomem
Com o que nela ia.
Sem a loucura que é o homem
Mais que a besta sadia,
Cadáver adiado que procria?


Fernando Pessoa, in Mensagem


Abaixo el-rei Sebastião

É preciso enterrar el-rei Sebastião
é preciso dizer a toda a gente
que o Desejado já não pode vir.
É preciso quebrar na ideia e na canção
a guitarra fantástica e doente
que alguém trouxe de Alcácer Quibir.

Eu digo que está morto.
Deixai em paz el-rei Sebastião
deixai-o no desastre e na loucura.
Sem precisarmos de sair o porto
temos aqui à mão
a terra da aventura.

Vós que trazeis por dentro
de cada gesto
uma cansada humilhação
deixai falar na vossa voz a voz do vento
cantai em tom de grito e de protesto
matai dentro de vós el-rei Sebastião.

Quem vai tocar a rebate
os sinos de Portugal?
Poeta: é tempo de um punhal
por dentro da canção.
Que é preciso bater em quem nos bate
é preciso enterrar el-rei Sebastião.

Manuel Alegre


A Lenda D'el Rei D. Sebastião

Fugiu de Alcácer Quibir
El Rei D. Sebastião
Perdeu-se num labirinto
Com seu cavalo real

As bruxas e adivinhos
Nas altas serras beirãs
Juravam que nas manhãs
De cerrado de Nevoeiro
Vinha D. Sebastião

Pastoras e trovadores
Das regiões litorais
Afirmaram terem visto
Perdido entre os pinhais
El Rei D. Sebastião

Ciganos vindos de longe
Falcatos desconhecidos
Tentando iludir o povo
Afirmaram serem eles
El Rei D. Sebastião
E que voltava de novo

Todos foram desmentidos
Condenados às gales
Pois nas praias dos Algarves
Trazidos pelas marés
Encontraram o cavalo
Farrapos do seu gibão
Pedaços de nevoeiro
A espada e o coração
de El Rei D. Sebastião

Fugiu de Alcácer Quibir
El Rei Rei D. Sebastião
E uma lenda nasceu
Entre a bruma do passado
Chamam-lhe o desejado
Pois que nunca mais voltou
El Rei D. Sebastião

José Cid


"Os Demónios de Alcácer Quibir"


Os portugueses foram tão longe
Que às vezes perderam a própria luz
Algures nos campos de Alcácer Quibir
Perdemos a luz própria e a própria luz.

O D. Sebastião foi para Alcácer-Quibir
de lança na mão a investir a investir
com o cavalo atulhado de livros de história
e guitarras de fado para cantar vitória

O D. Sebastião já tinha hipotecado
toda a nação por dez reis de mel coado
para comprar soldados lanças armaduras
para comprar o "V" das vitórias futuras

O D. Sebastião era um belo pedante
foi mandar vir para uma terra distante
pôs-se a discursar: isto aqui é só meu
vamos lá trabalhar que quem manda sou eu

Mas o mouro é que conhecia o deserto
de trás para diante e de longe e de perto
o mouro é que sabia que o deserto queima e abrasa
o mouro é que jogava em casa

E o D. Sebastião levou tantas na pinha
que ao voltar cá (aí) encontrou a vizinha
espanhola sentada na cama deitada no trono
e o país mudado de dono

E o D. Sebastião acabou na moirama
um bebé chorão sem regaço nem mama
a beber a contar tim por tim tim
a explicar a morrer sim mas devagar

E apanhou tal dose do tal nevoeiro
que a tuberculose o mandou para o galheiro
fez-se um funeral com princesas e reis
e etcetera e tal, Viva Portugal



Sérgio Godinho

[É só uma amostra. Entre documentos históricos, artes do espectáculo, ficção, poesia, iconografia e bibliografias, Vítor Amaral de Oliveira encontrou 3780 entradas sobre D. Sebastião e o sebastianismo, até 2002. Depois de olhar para elas digo-vos que faltam algumas [Agustina Bessa Luís, António Marques Bessa, Manuel de Oliveira...]. Entretanto de 2002 até hoje umas centenas mais talvez. Este é sem dúvida o mito português que mais reflexos tem no imaginário português, europeu, americano e africano. Seguindo-se-lhe a Lenda de Pedro e Inês.]

A thousand kisses deep

The ponies run, the girls are young,
The odds are there to beat.
You win a while, and then it’s done –
Your little winning streak.
And summoned now to deal
With your invincible defeat,
You live your life as if it’s real,
A Thousand Kisses Deep.

I’m turning tricks, I’m getting fixed,
I’m back on Boogie Street.
You lose your grip, and then you slip
Into the Masterpiece.
And maybe I had miles to drive,
And promises to keep:
You ditch it all to stay alive,
A Thousand Kisses Deep.

And sometimes when the night is slow,
The wretched and the meek,
We gather up our hearts and go,
A Thousand Kisses Deep.

Confined to sex, we pressed against
The limits of the sea:
I saw there were no oceans left
For scavengers like me.
I made it to the forward deck.
I blessed our remnant fleet –
And then consented to be wrecked,
A Thousand Kisses Deep.

I’m turning tricks, I’m getting fixed,
I’m back on Boogie Street.
I guess they won’t exchange the gifts
That you were meant to keep.
And quiet is the thought of you,
The file on you complete,
Except what we forgot to do,
A Thousand Kisses Deep.

[Banda sonora de The Watchmen, a história dos vigilantes demasiado humanos que acabam tramados pela natureza humana, ou seja, pela decrepitude da ambição. This is a joke. This is all a joke!]

Leonard Cohen... quem mais?

19 junho 2009

Cock Robin

A banda de Peter Kingsbery e Anna Lacazio. Sim! Mais uma da década de 80 (por esta altura pensam que sou uma velha com saudades da adolescência)... não simplesmente, nesta década eu vivia para a música, eu respirava música. De outra forma não conseguia estar.

Uma história feita em 3 actos - ou seja, 3 álbuns:

1985 - Cock Robin; de onde foram extraídos os hits 'Thought You Were On My Side'; 'The Promise You Made'; "When Your Heart is Weak"

1987 - After Here, Through Midland; com o hit "Just Around the Corner" que conheceu grande êxito em França sem se afirmar no resto do mundo

1989 - First Love/Last Rites, com destaque para os tube "Worlds Apart" e "It's Only Make Believe"

Depois foi fazer render a fruta com o The Best of que incluía uma actuação ao vivo com a interpretação da música de Bob Dylan "Don't Think Twice, It's Alright.

E um Only the Very Best e um Best Ballads e Gold Collection e já agora um Les Indispensables Cock Robin. Sim, porque - que coisa estranha - estes senhores britânicos tiveram grande sucesso... em França... e agora regressam ao palco para um espectáculo em Lille - França...


Eu para mim gosto mesmo desta:

I'm the biggest fool of all

My excuse is only human
Like any animal that breathes
Just to find a scent that's soothing
I give you power over me
I'm more weak than strong
And not a stranger to a fall
But I won't leave you till I turn to find you gone
I'm the biggest fool of all
But, I'm the biggest fool of all
There's no path of least resistance
It's a fable that you've heard
Any love that lacks conviction
Is gonna grovel in the dirt, yes it is
God this road is long
And surrounded by a wall
But I won't leave you till I turn to find you gone
I'm the biggest fool of all
I'm the biggest fool of all
I'm the biggest fool of all
Foolish as the prisoner
That listens for the jangling keys
And smart enough to know
That it's crazy I should run
When you've got no claim on me
So before your panic taunts you
To make relations disappear
You could help to ease my conscience
If just for once by standing here
I'm more weak than strong
And surrounded by a wall
But I won't leave you till I turn to find you
But I won't leave you till I turn to find you
But I won't leave you till I turn to find you
But I won't leave you till I turn to find you gone
I'm the biggest fool of all
Oh, yes I am
I'm the biggest fool of all

02 junho 2009

Air Supply

Em plena época de fim de fôlego... sim porque isto de anos lectivos é duro, especialmente quando encerram com campanhas eleitorais e avaliações que muitas vezes determinam futuros. Na balança do:«merece e não merece», «é uma pena porque até é trabalhador», «tem um grave problema de atitude a juntar à preguiça» a culpa de tudo será sempre do mesmo... quem avalia!

Mas e face à necessidade de ar... aqui fica a banda sonora patrocinada pelos Air Supply [banda pop australiana formada em 1975 por Graham Russell e Russell Hitchcock, conhecida especialmente pelas suas baladas]:

Lost in Love

Making Love Out of Nothing At All

Every Woman In The World


Muito particularmente: All out of love

I'm lying alone with my head on the phone
Thinking of you till it hurts
I know you hurt too but what else can we do
Tormented and torn apart
I wish I could carry your smile and my heart
For times when my life feels so low
It would make me believe what tomorrow could bring
When today doesn't really know, doesn't really know

I 'm all out of love, I'm so lost without you
I know you were right believing for so long
I 'm all out of love, what am I without you
I can't be too late to say that I was so wrong


I want you to come back and carry me home
Away from this long lonely nights
I'm reaching for you, are you feeling it too
Does the feeling seem oh so right
And what would you say if I called on you now
And said that I can't hold on
There's no easy way, it gets harder each day
Please love me or I'll be gone, I'll be gone