08 outubro 2008

This is the Life

A jovem escocesa chegou para me raptar à fase franco-dependente. Uma sonoridade entre o folk e o country que me põe a dançar e esquecer... sim porque este ano é preciso esquecer muita coisa.

Poison Prince

A poetic genius is something I don’t see
why would a genius be trippin on me
And he's looking at me now
But what he can’t see
Is that I’m looking through his eyes
So many lies behind his eyes
And tell me stories from your past
Sing me songs you wrote before
I tell you this my poison prince
You'll soon be knockin on heavens door

Some kinda poison prince with your eyes in a daze
Some kinda poison prince your life is like a maze
And what we all want, and what we all crave
is an upbeat song so we can dance..
The night away

Oh who said life was easy
who said life was fair
who said nobody gives a damn and nobody even cares
The way you’re acting now like you left that all behind
You've given up, you've given in
Another sucker of that slime

02 outubro 2008

Pedro Homem de Mello (1955)

Grande, grande era a cidade... (1955)

Noite

Ó noite, escuridão que me resume

Em lábio indecifrável e olhar baço!

Ó noite de água e sombra, vento e lume,

Tentadora e subtil como um regaço!

Ó hálito do medo! Ó flor do engano,

Irmã de quanto lobo houver faminto!

Clandestino punhal com que o cigano

Descalça a luva e desaperta o cinto...

Ó Pátria desonesta, incestuosa!

Ó prontidão do mal a cada aceno!

Suspiro... beijo... pétala de rosa...

Amor? Em vez de amor digam veneno.

Digam castigo ou crime. Não importa.

Mas digam noite na cidade morta!

Tédio

Já perdi a conta aos meses.

Dezembro? Janeiro? Maio?

Batem-me à porta, por vezes,

Não saio. Finjo que saio.

Mas regresso à velha mesa,

Por vício, não por enlevo.

Filho da própria incerteza,

Escrevo. Finjo que escrevo...

Que dia é hoje? Sei lá!

O sinal da cruz diz: mais.

E uma hora quando é má

Diz que as outras são iguais.

Nazareno

Velho, um marujo sonha... Onde ele for

Hão-de arrastar-se as cordas da viola.

Outrora, jovem, mendigava amor

E, sendo pobre, recusava a esmola.

A quem, de noite, lhe pedisse lume,

Com um sorriso ingénuo respondia...

E logo a rua má tinha perfume

E em todos os relógios era dia!

Hoje vagueia no jardim deserto.

Somente as ondas vêm bater no cais.

E a sua enxerga, sórdida, já perto,

Revela manchas que não saem mais.

Nenhuma estrela rasga a escuridão

Nenhuma prece oculta nos inspira.

Nem mesmo a glória de esconder em vão

Seus olhos, cor de pérola e safira.

Intimidade

Hás-de voltar mais loira que as espigas

Ó musa bela do meu sonho ledo!

Parávamos... cantavas-me cantigas.

Dizias-me ao partir, chorando: - É cedo.

Hás-de voltar! E a noite? E a poesia?

E tudo quanto a idade leva embora?

Talvez que um anjo, súbito, sorria

E nos conceda o olhar que se demora...

Hás-de voltar! Ao longe era a neblina.

Carícia de onde pela praia absorta...

- mas, para já, corramos a cortina!

Fechemos, meu amor, aquela porta...


Fonte

Meu amor diz-me o teu nome

- nome que desaprendi...

Diz-me apenas o teu nome.

Nada mais quero de ti.

Diz-me apenas se em teus olhos

Minhas lágrimas não vi,

Se era noite nos teus olhos,

Só por que passei por ti!

Depois, calaram-se os versos

- versos que desaprendi...

E nasceram outros versos

Que me afastaram de ti.

Meu amor, diz-me o teu nome.

Alumia o meu ouvido.

Diz-me apenas o teu nome,

Antes que eu rasgue estes versos,

Como quem rasga um vestido!

Apartamento

Lembrava seu corpo, ao longe,

Um navio naufragado...

Disse-lhe adeus. Era tarde.

Já vnha a sombra a meu lado!

Como quem, morta a esperança,

Entra em silêncio no mar,

Vi seu corpo entrar na treva...

Quis-me deitar a afogar!

Levei os lábios aos dedos.

Caiu-me a noite no peito.

Disse-lhe adeus. Era tarde.

Estava o sonho desfeito!

Tudo era noite e segredo.

Noite de pedra pesada.

Disse-lhe adeus. Era tarde.

E não lhe disse mais nada.


Companheiro

Negaram-lhe a luz.

Negaram-lhe a água.

Negaram-lhe o vinho,

As rosas, o leite...

E se encontrou cama

Onde ainde se deite

É porque a beleza

É feita de mágoa.

Meu único amigo,

Meu único irmão,

Embrulhou-o a Lua

Em seu cobertor...

Meu único amigo,

Meu único irmão!

Não teve jazigo,

Não teve caixão,

Teve uma guitarra:

O meu coração.